Neura é uma das famosas crónicas do Miguel Esteves Cardoso e é, para quem as conhece, uma crónica típica. Para quem não conhece, digamos que se trata de crónicas irónicas e com doses variáveis de subtileza, seja sobre as pequenezes do quotidiano, seja sobre as pequenezes da portugalidade ou, pelo menos, daquilo que o MEC vê como portugalidade. Neura pertence a este último grupo, e arranca logo com a expressão generalizante de "aos portugueses", seguindo por aí fora a debitar postas de pescada sobre a relação entre "os portugueses" e a neura, o que é o mesmo que dizer sobre aquilo que torna característica e única a neura portuguesa. O que as safa, em especial junto de quem, como eu, está muito saturadinho de ver construir-se à força uma noção de como "os portugueses" são que, não raro, tem muito pouco a ver com a real natureza da esmagadora maioria dos portugueses reais, todos diferentes uns dos outros tal como os membros dos outros povos, o que as safa, dizia, é que são postas de boa pescada. O MEC tem piada e escreve bem. Às vezes, o MEC tem muita piada e escreve muito bem. Aqui, na sua Neura, limita-se a ter piada e a escrever bem. O que já é bom.
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