As melhores destas histórias são pequenas maravilhas, com tudo no sítio certo, tão próximas da perfeição como é possível ao engenho humano. São raras as apenas medianas, embora também haja duas ou três; histórias em que a poesia é levada longe demais, perdendo-se a história pelo caminho, ou histórias cuja ideia não se ajusta bem ao tamanho exigido a todas elas (de três a cinco páginas; o tamanho de uma crónica de jornal). A maioria, no entanto, está entre o "meramente" bom e o muito bom, ainda que se considerarmos apenas o tratamento dado à língua portuguesa ele seja, em quase, quase todas, excelente.
Ao todo são vinte e nove continhos, vinte e nove pequenos retratos de humanidade, num livro que nem chega às 150 páginas. África está muito presente, como não podia deixar de ser, e tantas vezes em confronto, direto ou indireto, com uma modernidade importada que é recebida e incorporada de uma forma muito própria na teia de raízes e influências que constitui o ambiente de Mia Couto. Não são vinte e nove obras-primas? Não, não são; ninguém é capaz de transformar em prima cada obra que produz. Mas há aqui obras-primas, e o livro, globalmente, é bastante bom.
Eis o que achei das histórias, uma a uma:
- As Três Irmãs
- O Homem Cadente
- O Cesto
- Inundação
- A Saia Almarrotada
- O Adiado Avô
- Meia Culpa, Meia Própria Culpa
- Na Tal Noite
- A Despedideira
- O Nome Gordo de Isidorangela
- O Fio e as Missangas
- Os Olhos dos Mortos
- A Infinita Fiadeira
- Entrada no Céu
- O Mendigo Sexta-Feira Jogando no Mundial
- Maria Pedra no Cruzar dos Caminhos
- O Novo Padre
- O Peixe e o Homem
- A Carta de Ronaldinho
- O Dono do Cão do Homem
- Os Machos Lacrimosos
- O Rio das Quatro Luzes
- O Caçador de Ausências
- Enterro Televisivo
- A Avó, a Cidade e o Semáforo
- O Menino que Escrevia Versos
- Uma Questão de Honra
- Peixe Para Eulália
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