quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Dagon, opinião dois: Darwar de Celénia, de Pedro Ventura

Lamento, não gostei. E aproveito para avisar que o que se segue contém spoilers.

Estão avisados.

Pois é, não gostei. Começa logo, naturalmente, por eu não ser fã de fantasia épica e só conseguir gostar de obras do género quando são duma qualidade excecional. Só isso bastaria para tornar pouco provável que eu gostasse deste conto. E menos provável se torna quando o conto contém precisamente aquilo que mais me afasta da fantasia épica: o maniqueísmo, o culto do herói, os líderes enquanto indivíduos eleitos e especiais, etc.

Em todo o caso, mesmo não gostando do conto por não ser a minha praia, poderia tê-lo achado bem construído e bem escrito. Não o achei mal escrito, apesar de algumas gralhas ("algo que já guardava para si à muito tempo"; "Lá fora o acampamento permanecia rendido a numa sinfonia de sonoridades") e fragilidades de outra ordem (será mesmo necessária a repetição em frases como "Era impossível que a vida não os furtasse ao amargo sabor daquela insatisfação, daquela amarga e vazia frustração que sentia."? E julgo que há erros em "Iria suportar vê-los rir e dizerem-lhe que haviam muitas outras mulheres"), e embora deteste excessos de adjetivação, ao ponto de ter enorme dificuldade em ler Lovecraft, e julgue que o Pedro comete aqui e ali esse que, para mim, é pecado capital. Apesar destas achegas, repito, não o achei mal escrito. Mas o estilo empolado que é usado não me agrada. Julgo compreender a sua origem: uma tentativa de dar mais um pouco de épico à fantasia através de uma escrita, ela própria, épica, mas com toda a sinceridade parece-me que é mais eficaz deixar que aquilo que de épico a história tenha fale por si, sem esse tipo de interferência do texto, que ainda por cima tem tendência a causar outro tipo de problemas, como muito pouca naturalidade nos diálogos e uma grande uniformidade na "voz" das diversas personagens (o que tem consequências óbvias na eficácia da sua construção). Nada disto me agrada, embora tenha plena consciência de que há pessoas que adoram cada uma destas características. Se toda a gente gostasse de amarelo, etc., etc., vocês sabem.

Outra coisa que me parece é que este tipo de fantasia não convive lá muito bem com histórias tão curtas. Quando se procura encaixá-la em tão curto espaço, tem-se tendência a usar truques para situar o leitor, e neste conto isso é visível naquela conversa entre o herói e o camarada de armas, um "como sabes Bob" típico (um deles até diz "não é óbvio?" e tudo) que não tem outra utilidade que não seja ficarmos a saber mais umas informações sobre o ambiente em que a história se desenrola, e que eu estou habituado a encontrar num certo tipo de contos de FC.

Por fim, e porque também encontrei pontos positivos no conto, eis aquele que me parece mais bem conseguido: o final em aberto. Gostei de ver o Pedro Ventura fugir à previsibilidade da vitória definitiva dos bons com aquele final que sugere inclusive a possibilidade dessa vitória, no fim de contas, não existir, apesar da esperança que o herói alimenta. É um final inteligente: a esperança contenta aqueles que gostam de ser reconfortados, no fim das histórias que lêem, com a vitória dos bons; a dúvida satisfaz os que preferem as coisas menos a preto e branco, mais matizadas.

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