segunda-feira, 4 de julho de 2005

Os canalhas

Os canalhas enviam soldados para morrer nas guerras que criam enquanto eles ficam em casa a rir-se, enchendo os bolsos. Os canalhas quando não conseguem impôr as suas ideias em reuniões de que não são feitos registos mentem sobre as decisões que as reuniões tomam em comunicações privadas que guardam para ameaçarem divulgar mais tarde. Os canalhas criam vírus, worms e spyware. Os canalhas acham-se mais inteligentes que os outros, acham que têm mais direitos que os outros, acham-se melhores que os outros. Os canalhas não pagam impostos, apesar dos ferraris. Os canalhas têm amigos nas altas esferas, tão canalhas como eles. Os canalhas roubam largura de banda a cibernautas novatos cujo único crime é serem novatos e não perceberem muito de computadores e comunicações online. Os canalhas "não querem cá gente dessa". Os canalhas acham que tudo lhes é permitido, porque nunca ninguém será louco o suficiente para os desmascarar como os canalhas que são. Os canalhas têm uma particular apetência pela política, pelo jornalismo e por lugares de destaque nos clubes de futebol e nas empresas. Os canalhas corrompem e deixam-se corromper entre linhas de cocaína. Os pequenos canalhas matam. Os grandes canalhas mandam matar. Os canalhas são um cancro, lançando metástases para tudo quanto é canto. Os canalhas estão por todo o lado. Os canalhas tornam-se sócios para roubar ideias e avançar sozinhos com as ideias dos outros depois de destruir a sociedade. Os canalhas não respeitam ninguém porque para os canalhas não existe verdadeiramente mais ninguém e o mundo é um imenso jogo de matraquilhos repleto de manípulos. Os canalhas insultam. Os canalhas difamam. Os canalhas roubam, atropelam e violam. Os canalhas provocam o vómito. Os canalhas gostam da lei porque lhe conhecem os pontos de fuga, nela deixados por outros canalhas. Os canalhas, por vezes, acham a canalhice tão normal que nem sequer se dão conta de serem canalhas. Os canalhas são ervas daninhas que seria de toda a conveniência exterminar, se é que queremos que esta espécie tenha um futuro.

Mas a grande tragédia é que parece que é impossível exterminar os canalhas sem sujar as mãos, sem as enfiar bem fundo no esgoto da canalhice, sem as retirar de lá fumegantes de merda. Sempre que lidamos com canalhas recebemos salpicos, e se persistirmos por demasiado tempo acabamos envoltos numa couraça de canalhice que não se distingue em nada da dos outros canalhas. E assim se multiplicam os canalhas, como um vírus, insinuando-se junto de quem ainda vai sendo humano e corroendo essa humanidade, esburacando-a em túneis de térmitas até esboroá-la.

Por isso tanta gente desiste, abandona a luta, e se recolhe no conforto e na segurança dos seus círculos privados e bem conhecidos. Por isso tantos outros tentam erguer redutos, ilhas de pureza onde possam desinfectar-se dos canalhas que não são capazes de evitar. Alguns conseguem, suponho. Outros não, provavelmente a maioria. Mas uma coisa é certa: o mundo, este mundo, pertence aos canalhas. E a canalhice só não é sinónimo de sucesso porque há demasiados canalhas e nem todos podem vencer. E nem nos vale que eles se ataquem uns aos outros, porque no darwinismo da selva dos canalhas sobrevive sempre o canalha mais canalha.

Por isso, pá, não te preocupes: tu vais longe. Quanto a mim, vou tomar um banho.

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