segunda-feira, 10 de outubro de 2005

Portimão, uma cidade decididamente de esquerda

Sempre foi, a verdade é essa, mas nestas eleições essa característica da minha cidade ficou talvez mais clara que nunca.

É que na maior parte dos outros lados quando o PS desce quem sobe é o PSD. O eleitorado flutua ao centro, entre os dois partidos grandes do "centrão", à procura, tantas vezes em vão, de diferenças entre os dois. Em Portimão, não. Em Portimão o PS quase que perde a maioria absoluta mas quem ganha com isso não é o PSD, que desce quase tanto quanto (o PS caiu quase 1600 votos e a coligação PSD-PP-PPM-MPT teve menos quase 1400 votos que a soma do PSD e da coligação PP-PPM de há quatro anos), mas sim a CDU (mais 650 votos e um vereador) e, principalmente, o Bloco de Esquerda, que, embora não tenha repetido o estrondoso score das legislativas, andou lá perto graças a 1200 votos a mais do que há quatro anos. Se continuar a subir, daqui a 4 anos entra na vereação.

Ou seja, em Portimão o eleitorado flutua à esquerda. Nesta cidade o PSD só terá hipótese de ganhar a câmara num dia em que um executivo PS for tão irremediavelmente desastroso que o povo de esquerda prefira votar PSD a deixar continuar a catástrofe. Esteve quase para acontecer uma vez, com o PS a ganhar a câmara por 47 votos e a perder duas das três juntas de freguesia, no estertor do desastre Martim Gracias.

E não só flutua à esquerda, como mesmo com perdas do PS a esquerda avança. Fazendo umas contas, tem-se que as três candidaturas de esquerda arrebanharam mais 300 votos do que há quatro anos, totalizando quase 62% dos votos, ao passo que as direitas perderam esses 300 votos, isto assumindo que a candidatura "independente" é de direita, o que não é, pelo menos, assumido. Mais: a nível do Algarve terá sido Portimão a única boa notícia que os comunistas tiveram, e também para o Bloco Portimão se destaca, com a mais elevada percentagem da região e dois dos 6 deputados municipais com que o partido sai destas eleições cá em baixo (os outros são de Faro, Vila do Bispo, Loulé e Silves, um em cada assembleia).

O reverso da medalha é que também é dos sítios onde as candidaturas menos entusiasmam. É, pelo menos, isso que eu depreendo de uma taxa de participação que não foi além dos 51%. Qualquer dia nem metade das pessoas vota. Ah, e dos brancos e nulos, claro. Juntos, os brancos e nulos somaram 5,5%. Foram mais de 1100 votos. Houve mais gente a deixar o papelinho em branco ou a mandar uma frase célebre do que os que votaram "Independente". Todo o ganho em eleitores nestes 4 anos (cerca de mil novos eleitores) foi parar a este tipo de voto de protesto.

Daria que pensar, se os políticos deste país pensassem.

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