O diplomata norueguês Charung Gollar, foi incumbido de apresentar, na ONU,
no mês passado, um gráfico mostrando os principais problemas que
preocuparam o mundo no decorrer de 2004...
Apresentou uma série de oito gráficos, entitulada 'O Poder das Estrelas'...
Foi aplaudido de pé!
E seu trabalho foi indicado a concorrer para o prémio Nobel em Marketing
Político...
Vejam os gráficos!"
Os gráficos de que aqui se fala são aquelas imagens de bandeiras que acho que já toda a gente conhece, em que cada cor da bandeira representa a percentagem de qualquer coisa relativa ao país em questão. Fazem parte do pacote, pelo menos, as bandeiras dos EUA, da Somália, do Brasil (sem a lista da "Ordem e Progresso") de Angola e do MPLA (esta, erradamente, no lugar da do Burkina Faso, da qual difere apenas na cor da lista de baixo, preta no MPLA, verde no Burkina), da China, da Colômbia e da União Europeia. Todas elas têm, logo por baixo da legenda onde é explicado o significado de cada cor, o logotipo da Grande Reportagem, o que deveria fazer pensar quem divulga o email. Seria estranho, no mínimo, que um "diplomata norueguês" (e que raio de nome é Charung Gollar?) apresentasse "na ONU" uma "série de oito gráficos" com o logotipo da Grande Reportagem. Também a menção a um fantasmagórico "prémio Nobel em Marketing Político" deveria fazer pensar os apressados do forward. Mas aparentemente não faz.
Sim, o email que recebi é uma patranha de principio ao fim. Os gráficos foram elaborados por uma empresa publicitária portuguesa para promoção da revista Grande Reportagem, pretendendo fazer passar a mensagem de que a revista vai mais fundo na busca de informação e é criativa na sua entrega ao consumidor. De facto, a ideia é extraordinária, e é verdade que a campanha foi premiada lá por fora, mas é tudo produto nacional. Não há nela envolvido nenhum diplomata norueguês nem organização internacional alguma. Mas não deixa de ser curioso (e um pouco triste) que o mentiroso tenha decidido que a história teria mais credibilidade assim, e que as pessoas se predispusessem a reenviá-la umas às outras desta forma, mesmo com as flagrantes inconsistências nela contidas.
É nestas pequenas coisas que se revela a incapacidade de um povo em lidar consigo próprio, especialmente quando isso significa dar crédito aos seus membros que fazem as coisas bem feitas. É nestas pequenas coisas que se revela com mais clareza a forma como este povo se condena a si mesmo à mais absoluta mediocridade.
Nestas pequenas coisas e nos políticos que elege.
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