Há palavras portuguesas que davam óptimos nomes de cidades. Bacorada. Já viram bem? "Vim ontem de Bacorada", disse o meu primo ao sair do carro, "Aquilo é incrível. Nunca vi tanta gente junta!" Os habitantes de Bacorada seriam, suponho, os bacorenses, que bácoros fica demasiado sugestivo, muito embora uma bacorada (sem maiúscula) seja uma coisa própria de bácoros, esses mesmos. Também poderiam ser os bacoranos, ou os bacorinhas, mas bacoreiros já não me soa grande coisa por qualquer motivo obscuro.
Depois há a Calinada, cidade vizinha e com um nome ainda mais urbano. Calinada é mesmo nome de capital, lugar próprio de todos os gabinetes, ministérios e secretarias de estado, além do parlamento e dos órgãos máximos dos poderes judicial e eclesiástico. Os seus habitantes seriam, talvez, chamados calinadinos, e proavelmente haveria uma diferença assinalável entre os muitos habitantes e os poucos naturais que talvez se revestisse de roupagens linguísticas dando-se a estes últimos a designação de papossecos, já que é bem sabido que os naturais das cidades grandes têm sempre uma alcunha colorida.
Outro nome óptimo para uma cidade é Filha, mas aqui a palavra remete para uma cidade pequena de interior, aconchegada nas faldas de uma montanha, simultaneamente irrequieta e pouco desenvolvida, com uma população que esconde a tristeza em divertimentos simples e mais ou menos directos, pouco sofisticados. O que mais diverte os filhanos é causar dores nas cabeças de outros filhanos ou, melhor ainda, dos forasteiros.
Mais palavras boas para nome haverá, certamente. Aliás, aqui está mais um: Haverá. Haverá é uma cidade nova, em permanência de obras, rasgada por largas avenidas fechadas ao trânsito excepto aos fins de semana e feriados e pelos rugidos e batuques da construção civil. Haverá não tem habitantes: tem trabalhadores. E a sua bandeira ostenta, galharda, um capacete, um martelo e uma picareta sobre um fundo cor de barro.
Mas há um nome que me é bastante caro e não estou a ver aplicado a uma cidade. De todo. Não vejo carros a entrar e a sair de um lugar com esse nome, nem pessoas a caminhar pelos seus passeios. Nem sequer a vejo dividida em ruas, praças e becos sem saída. Não vejo um local onde ela possa erguer-se, não sou capaz de vislumbrar a sua geografia. Esse nome é Lâmpada Mágica.
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