domingo, 27 de agosto de 2006

Como reconhecer canalhas

Há muitos anos, costumava pensar que os canalhas se reconheciam pela forma insidiosa como fazem as coisas. Pela intriga. Pelas mentiras bacteriologicamente puras e pelas meias-verdades que emitem, aquelas mais em privado, estas mais em público, pois aquelas são mais facilmente detectáveis que estas. Por determinarem as suas relações sociais pelas vantagens que delas se julgam capazes de obter. E há, de facto, canalhas que se podem detectar assim. Mas há-os também de outro tipo, canalhas-camaleão que se confundem com o meio numa camuflagem mimética, por vezes durante anos a fio, escondendo de todos e até de si próprios a sua condição de canalhas, até que de repente, sem que nada sirva de sinal, lançam o seu ataque, em geral quando a vítima está mais desprevenida e mais solitária. Estes são muito mais daninhos, muito mais perigosos. Não só porque se aproveitam com eficiência da confiança que neles é depositada, mas também porque, tantas vezes, para o mundo lá fora é como se nada se tivesse passado. As suas canalhices não costumam deixar provas. Eles conhecem-nas, as suas vítimas também, mas para os outros, todos os outros, permanecem tão impecavelmente dissimulados como sempre. Os mais canalhas desses canalhas começam então a fase seguinte: a calúnia em privado. O raciocínio é simples: há que corroer a credibilidade da vítima caso esta resolva denunciá-los. Faz parte do mimetismo. É assim que são capazes de voltar a desaparecer no meio da multidão, disfarçados de homens ou mulheres como os outros à procura dos próximos "amigos" insuspeitos. Há quem consiga viver assim uma vida inteira e ser recordado como um bom ser humano. Há quem conseguiria assim viver durante vinte vidas, se as tivesse. Indetectável. Camaleão perfeito. Mas nem por isso menos canalha.

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