A definição em causa, traduzida, é esta:
A IAU decide, portanto, que os "planetas" e os outros corpos do Sistema Solar, sejam definidos em três categorias distintas da seguinte forma:
(1) Um "planeta" é um corpo celeste que (a) está em órbita em torno do Sol, (b) tem massa suficiente para que a sua própria gravidade supere as forças do corpo rígido de modo que assume uma forma de equilíbrio hidrostático (praticamente redonda) e (c) que tenha limpo a vizinhança da sua órbita.
(2) Um "planeta anão" é um corpo celeste que (a) está em órbita em torno do Sol, (b) tem massa suficiente para que a sua própria gravidade supere as forças do corpo rígido de modo que assume uma forma de equilíbrio hidrostático (praticamente redonda), (c) não tenha limpo a vizinhança da sua órbita e (d) não é um satélite.
(3) Todos os outros objectos, excepto os satélites, que orbitam o Sol serão colectivamente denominados como "Pequenos Corpos do Sistema Solar".
A isto são acrescentadas três notas:
1. Os oito planetas são: Mercúrio, Vénus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urrano e Neptuno.
2. Será estabelecido um procedimento da IAU para atribuir aos objectos de fronteira o estatuto ou de planeta anão ou de outras categorias.
3 Os Pequenos Corpos do Sistema Solar incluem actualmente a maior parte dos asteróides do Sistema Solar, a maior parte dos Objectos Trans-Neptunianos (TNOs) e outros pequenos corpos.
Onde está a estupidez? Por todo o lado. Para começar dizer que um planeta anão não é um planeta está ao mesmo nível lógico de dizer que um anão não é uma pessoa. Ou de dizer que uma estrela anã não é uma estrela. Ora, como o Sol é uma estrela anã, resulta daí que, a aplicar a "lógica" desta definição, nós, habitantes do planeta Terra, não somos iluminados nem aquecidos por uma estrela. Pior um pouco ficam aqueles de nós que sofrem de nanismo, que não só deixam assim de ser iluminados e aquecidos por uma estrela, como inclusivamente perdem todos os privilégios de pertencer à espécie humana. Se bem que, a ajuizar por esta definição, nesse ponto perdem muito pouco.
Mas se fosse essa a única questão estaríamos nós bem. Longe disso. Acontece que na última década e tal têm vindo a ser descobertos corpos à volta de outras estrelas e até a vogar livres pelo espaço interestelar que vão desde o tamanho de Calisto (uma lua de Júpiter não muito maior que a nossa) até muitas vezes o tamanho de Júpiter. Já vai em mais de 200. Mas, como esta definição diz que só são planetas os corpos do Sistema Solar que giram em torno do Sol, tem-se que os plan... erm... corpos que giram em torno de outras estrelas ficam sem nome. Suponho que se pode propor um, certo? Gambuzinos! Que tal?
Temos, portanto, um universo composto por biliões de estrelas conhecidas (ou não, já que a maioria são anãs e, segundo a lógica da IAU, não serão estrelas... lá vou ter de chamar-lhes outro nome... hum... trelas? OK, trelas!). Recapitulando: Temos, então, um universo composto por biliões de estrelas, muitos mais biliões de trelas, mais biliões de objectos exóticos como buracos negros, pulsares, nebulosas de vários tipos, etc., etc., e depois 8 planetas, pelo menos 3 planetas anões que não são planetas embora sejam planetas, uns quantos objectos ainda indefinidos, largas dezenas de satélites e largos milhares de pequenos corpos do sistema solar, mais duzentos e tal gambuzinos em volta de outras estrelas, trelas e pulsares ou até a vogar livres pelo espaço. E não me perguntem como se chamarão os pequenos corpos que giram em torno de outras estrelas e de outras trelas porque não quero pensar nisso agora, OK? Portanto é isso.
Ou será que não é?
É que há aquela coisa das órbitas limpas e mais não sei o quê. Deixem-me explicar: à medida que se vai passando o tempo, os planetas vão acumulando material vindo do espaço, que vai caindo e formando crateras quando o planeta não tem atmosfera ou a tem fina demais para o tamanho do calhau, ou ardendo na atmosfera quando o calhau é pequeno demais para a atmosfera. Aqui na Terra aos primeiros chamam-se meteoritos e aos segundos meteoros. Lá no espaço, chamam-se todos asteróides ou então poeira. Onde deixa de ser asteróide e passa a ser poeira, ninguém sabe, mas também não quero que me falem nisso agora se fazem favor. Ah, sim, e lá no espaço, são eles que fazem as crateras da Lua, por exemplo.
Ora bem, em tempos que já lá vão, havia muito mais asteróides e poeiras do que há hoje. Como é fácil de entender, quanto maior o planeta mais coisas destas atrai, e ao longo do tempo, vai "limpando" as redondezas da sua órbita. E, como é fácil de compreender também, quanto maior a órbita e menor o planeta, mais devagar ela fica "limpa". Ou seja: um corpo do mesmo tamanho torna-se "planeta" muito mais depressa se estiver onde está Mercúrio do que onde está Plutão. Pior: quanto mais pequeno o corpo, mais afectado é pelos outros corpos; ao fim de tempo suficiente, todos os corpos mais pequenos acabarão ou por se esmagar contra um dos corpos maiores, ou por serem atirados por um destes ou para o Sol ou para fora do sistema. E isso implica que se lhes dermos tempo suficiente, todos os corpos com uma dimensão razoável acabam por se transformar em planetas, mesmo que nada neles mude. Pior ainda, como bem sabemos, ainda hoje a Terra continua a ser bombardeada com asteróides, o que significa, obviamente, que não tem as redondezas limpas. Ops! Acabámos de excluir a Terra do grupo dos planetas?!
Bem, dado que não está definido nem o que significa "limpo" nem o que significa "vizinhança", e dado que há material de pequenas dimensões em todo o Sistema Solar, se formos aplicar a definição à letra, não só acabámos de excluir a Terra do grupo dos planetas como acabámos de excluir todos os planetas do grupo dos planetas! Não é brilhante? De repente, seguindo a definição da IAU, ficámos com 11 planetas anões onde, segundo a mesma definição, devíamos ter 3 planetas anões (que não são planetas, não se esqueçam!) e acabámos de chegar à conclusão que não há um único planeta em todo o vasto Universo! Há é 200 e tal gambuzinos.
Magnífico!
É ou não é a coisa mais imbecil que já viram?
Por minha parte, borrifo-me nos gajos e parto para o radicalismo. As definições devem ser simples. Devem basear-se em propriedades das coisas definidas. Devem ser coerentes. E as propriedades mais evidentes devem servir para definir as subdivisões de nível superior, deixando-se as subdivisões dessas subdivisões para propriedades menos convincentes, ou mais arbitrárias, ou mais incertas. Por isso, a partir de hoje o que é um planeta no meu léxico passa a ser definido pela simples frase:
Um planeta é qualquer objecto que tem massa suficiente para que a sua própria gravidade supere as forças do corpo rígido de modo que assume uma forma de equilíbrio hidrostático e não tem massa suficiente para gerar reacções nucleares no seu interior.
E mainada. Depois disto, subdivide-se em categorias. Querem planetas anões? Com certeza: saem planetas anões, planetas como os outros, mas anões; tal como os planetas gigantes que há (4) em volta da nossa estrela e também (quase 200) em volta das outras são planetas como os outros, mas gigantes. Tal como os planetas terrestres. Ou os planetas satélites (eu avisei que ia ser radical), que seriam planetas de pleno direito se girassem em torno de uma estrela. Querem subcategorizar os planetas? Força! Dêm-lhes com subcategorias em cima. Mas planetas são os corpos suficientemente grandes para ser redondos. Ceres é planeta. A Lua é planeta. Plutão é planeta. Calisto é planeta. Mimas é planeta. Vesta e Pallas vamos ver, tal como iremos ver aqueles trans-neptunianos mais pequenos. "Xena" é planeta. Epsilon Eridani b é planeta, Mu Arae e é planeta. Nada mais simples. E muito mais válido, sob todos os aspectos, do que cretinice que saiu da IAU.
Tenho dito.
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