quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Lido: O Códice Abandonado

O Códice Abandonado (bib.) é uma longa noveleta de António de Macedo sobre uma série de peripécias que giram em volta do códice abandonado do título. Trata-se de uma sequela do romance em mosaicos que Macedo publicou em 1993, Contos do Androthélys, ambientada anos mais tarde, mas com parte das personagens e dos ambientes em comum. Tal como o romance, esta noveleta é uma espécie de fantasia urbana e mística com ténues toques de horror (ténues porque não causam medo nenhum) e, tal como o romance, envolve "criaturas transdimensionais", sílfides, demónios e coisas do género, e acaba num estertor quase apocalíptico. Mas começa de outra forma; começa quando um dos protagonistas encontra no metro de Lisboa um exemplar dum calhamaço antigo, mágico e indecifrável, um tal "Codex Tashniquanus", e entra em luta contra o tempo para salvar uma série de coiros, o dele e o de todos os outros visitantes e habitantes da zona de Lisboa ou até, quiçá, de boa parte da Península Ibérica.

Não gostei, embora tenha gostado mais do que do romance. É das tais histórias em que sinto que Macedo exagera na dose, e das quais não só não consigo gostar como é a custo que leio. Há, além do exagero de hermetismos e astrologias, mais algumas coisas que contribuem para esse afastamento, acima de tudo o facto de boa parte do enredo e do texto ser composta por pessoas a explicarem coisas umas às outras, calmamente paradas no mesmo sítio. Só no fim a história ganha algum dinamismo, e mesmo então bastante menos do que o caráter emergente dos acontecimentos aconselharia. Mas a outra face da moeda vai encontrar diálogos que são em geral mais credíveis do que em algumas das outras histórias do autor e um texto basicamente correto. Qualidades que, a somar à incontestável erudição de António de Macedo nestes tipos de temas mais ou menos cabalísticos, podem servir de base para que alguns leitores gostem desta história. Acho mesmo provável que quem se interessa por eles goste. Não é o meu caso, infelizmente.

1 comentário:

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