A Noite de Walpurgis (bib.) é um conto fantástico de Hugo Rocha, assumidamente inspirado pelo Fausto de Goethe. Contado na primeira pessoa, é um daqueles contos "de ouvir contar" em que o protagonista-narrador revela aos seus leitores uma história que lhe terá sido contada por uma terceira pessoa. Aqui, a terceira pessoa é uma velhota beirã, bem camponesa, que o protagonista encontra num passeio pela serra, e que lhe relata uma história que por sua vez lhe teria sido contada pela avó. Esta, segundo reza a história, ao andar um belo dia pelas serranias, teria deparado com uma cena inesperada: uma assembleia de bruxos e bruxas, alguns dos quais seus conhecidos, que prestavam culto a alguém que a velhota (à época ainda nada velhota) deduz tratar-se de Satanás. Segue-se uma descrição da cerimónia, e o desfecho milagroso.
É um conto interessante, por estar bem escrito mas especialmente por uma certa ironia que o autor entrelaça na história, alguns apartes sobre as reais motivações e moralidade da avó da camponesa, fundamentalmente. O deus ex machina que aparece no final poderá fazer torcer narizes, mas não me pareceu desadequado no contexto deste conto em concreto. Trata-se, claro, de conto contado, não mostrado. Os contos deste tipo são-no quase sempre; é essa a sua natureza. Por conseguinte, leitores que odeiem histórias contadas devem fugir dele como diabo da cruz, mas quem não for fundamentalista talvez goste. Eu gostei. Não muito, não foi coisa que me enchesse as medidas, mas gostei.
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