quinta-feira, 29 de março de 2012

Lido: Brinca Comigo!

Brinca Comigo! (bib.) é um conto de ficção científica de João Barreiros sobre uma horda de brinquedos mais ou menos inteligentes (ou não) que, numa Lisboa pós-apocalíptica, vai lentamente avançando na direção de um alvo. Sequela do infinitamente superior O Caçador de Brinquedos, este conto é bastante fraco. Para começar, quase não existe história. A horda arrasta-se, sempre à beira de deixar de funcionar, e o autor descreve e volta a descrever e volta a descrever e volta a descrever que se a horda chegar a ultrapassar os 500 membros é mau, muito mau. Mas os leitores perceberam à primeira, era escusada tanta repetição. Especialmente quando se gasta mais latim a descrever isso do que a viagem propriamente dita. Depois, o final não faz qualquer sentido se tivermos em conta que o problema para a horda é ultrapassar um n de elementos, não um x de capacidade de processamento.

E depois há o fatídico capítulo 6, onde os disparates se sucedem em catadupa. Ele é uma inversão magnética dos pólos que pelos vistos foi súbita (mas as verdadeiras não são, levam anos e anos), ele é o destrambelhamento dos sistemas GPS por essa inversão magnética (pena que o GPS não tenha rigorosamente nada a ver com o sítio onde os pólos estão) ele é uma ponte suspensa a cair devagarinho, aos bocados, a oscilar violentamente propelida por ventos ciclónicos (esta é a menos má, a asneira não é total, mas as pontes suspensas dependem de um equilíbrio de forças que as distribui por todos os seus elementos. Cada elemento que falha aumenta a pressão sobre os que restam, aumentando também a probabilidade de algum dos outros falhar. A consequência é que, à parte os pilares, se algo corre mal com alguma parte, tudo vem abaixo muito depressa e em conjunto). Convenhamos, para um autor que tem sido visto a estraçalhar obras alheias por este tipo de pormenores, é mau, muito mau.

Eu até fecharia os olhos àquele lamentável capítulo 6 se o resto do conto fosse realmente bom. Mas não é. Tem a prosa colorida habitual no Barreiros e muito pouco mais. É demasiado comprido, perde-se demasiado em ninharias e repetições e o final incoerente deixa na boca um gosto amargo a aldrabice.

Brinca Comigo! é, de caras e de longe, o pior conto de João Barreiros que eu li até hoje.

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