domingo, 24 de março de 2013

Lido: Se Acordar Antes de Morrer

Se Acordar Antes de Morrer (bib.) é uma edição que já há muito tardava, como já há muito tardam edições equivalentes de outros autores da FC e do fantástico portugueses: uma compilação da sua ficção curta. Aqui, temos a de João Barreiros. Não toda, mas quase duas décadas dela, à parte as duas histórias ambientadas no mesmo universo ficcional que foram publicadas pela Presença em 2004. O volume é enriquecido por introduções do autor a cada conto, e mostra, mais do que em qualquer outro dos seus livros, os altos e baixos da sua produção pois, se por um lado inclui alguns dos melhores contos de toda a ficção científica (por vezes misturada com horror) produzida em língua portuguesa, como a noveleta que dá título à coletânea, a novela Por Detrás da Luz ou o conto Por Amor à Prole, por outro inclui também os piores textos de Barreiros desde o pequeno livro que editou em edição de autor, no já longínquo ano de 1977, como os muito chatos e inconsequentes Brinca Comigo! (que ainda por cima abre o volume, o que a meu ver é uma escolha mais que desastrada) e Fantascom.

Mas no fundo, é isso o que se pretende de uma compilação geral da produção de um autor. É isso que se pretende quando se reúne tudo o que o autor produziu na carreira ou num dado período: publicar tanto os acertos como os passos em falso.

E a verdade é que, apesar destes passos em falso, a qualidade geral é alta e o livro poderia ser muito bom se não tivesse sido pessimamente editado. Infelizmente, foi. Há gralhas em catadupa, há erros de palmatória que até uma revisão ensonada teria detetado e corrigido, evitando embaraços a autor e editora. Mas parece não ter existido qualquer espécie de revisão, nem ensonada nem outra qualquer, e esses embaraços surgem com demasiada frequência nestas páginas. Existe uma diferença, na língua portuguesa, entre eminência e iminência, coisa que fica aqui esquecida. Só para dar um exemplo, entre demasiados possíveis. E assim, Barreiros pode até ser uma eminência na FC portuguesa e lusófona, mas com edições destas fica na iminência de sentir as orelhas a arder, e com razão. Porque, no fim de contas, e por mais incompetente que a editora se mostre, a responsabilidade última pelos seus textos é a ele que pertence.

A consequência é que o livro não é muito bom. Nenhum livro pode ser muito bom quando dá de vez em quando a quem o lê vontade de o atirar à parede. Mas consegue mesmo assim ser bom. João Barreiros não tem livros maus.

O que penso de cada conto? Basta seguir os links:
Este livro foi comprado.

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