Em Outubro, o Luís Ene andou a brincar com os seus visitantes, apresentando-lhes uma série de desafios literários que eles (isto é, nós) teriam de ultrapassar para chegarem ao prémio: milhares de euros em barras de satisfação pessoal. Eu por lá andava de vez em quando, e resolvi quase sem dar por isso meter mãos ao teclado. Umas historinhas saíram melhores que outras, como é natural, mas ainda saíram umas quantas.
A primeira das minhas Historinhas Ene tinha como regras a elaboração de um texto que incluísse todas as dez "palavras mais belas" que tínhamos escolhido uns posts antes. Cada um de nós usaria as suas, e as que me tinham vindo parar aos dedos tinham sido: "recordação", "Cláudia", "circunferência", "miosótis", "esfinge", "formaldeído", "organelo", "literatura", "sílaba" e, violando as regras com motivo, "amanhã serão outras".
E o que escrevi, foi:
A recordação da Cláudia deita-se na minha memória, rodeando-a com uma circunferência de miosótis. Olha-me com o seu rosto de esfinge, imóvel, como se fixado em formaldeído. A recordação da Cláudia constrói-se na minha memória organelo a organelo, como se a memória fosse uma fábrica de biologias. Mas não é, porque em vez da Cláudia em forma de gente, dela nasce apenas literatura, sílaba a sílaba.
O que me entristece é que se hoje as recordações da Cláudia são suaves e sorriem, amanhã serão outras bem diferentes...
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