terça-feira, 30 de dezembro de 2003

Historinhas Ene II

O segundo desafio era construir uma história que contivesse mais dez "palavras mais belas", desta vez sempre iguais e escolhidas pelo Luís. Eram elas: "besouro", "sussurro", "silêncio", "noite", "espinho", "alma", "muro", "ziguezague", "serpentear" e "nada". E eu, como achei o desafio pequeno, resolvi usá-las por ordem. O resultado é a minha historinha de que mais gosto:

Um besouro esvoaça num sussurro de segredos, rompendo com cuidado o silêncio da noite. Quando o mocho acorda, o besouro pousa num espinho de um velho cacto carcomido, rodeando a sua alma assustada de um muro de sossego. Passa uma aragem, em ziguezague, e o besouro aproveita para levantar voo de novo, serpentear pelo ar fora, para longe dos olhos do mocho, que o seguem. Que o fitam. Que não largam o fio que prenderam nas suas asas de besouro enquanto o mocho por sua vez bate as asas de penas de seda. O besouro ainda tem tempo para assustar-se quando vê que aqueles olhos gigantescos se aproximam como duas luas feitas míssil. Mas depois, não tem tempo para mais nada.

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