quinta-feira, 15 de janeiro de 2004

Bisnaquemos então sobre o verbo

Ora bem... vamos lá bisnacar um bocadinho acerca do verbo bisnacar. Diz a Ana, da Janela Indiscreta, que acha a ideia bonita mas que lhe provoca dúvidas delirantes. Gosto disso. O delírio, acho eu, é pré-condição para todos os avanços da humanidade, e quanto maior o putativo avanço, maior terá de ser o delírio prévio.

A primeira dúvida delirante da Ana é a seguinte: "se o que fazemos na blogosfera é bisnacar e se bisnacamos na blogosfera portuguesa, não será o verbo bisnacar uma forma polida de dizer que nos desdobramos, diluímos e dispersamos em infinitas conversas de café porém escritas, mais ou menos coerentes e geralmente isentas de erros formais? O verbo mais apropriado não seria pois bifanar?"

Vejamos. Acho que aqui há várias questões. Em primeiro lugar, eu falei especificamente de blogosfera portuguesa porque não conheço as demais, embora tudo me faça crer que nesse aspecto deverão ser iguais. Como rima, deve ser verdade. Já a minha referência a Portugal, é mesmo específica a este país pequenino de tamanho, mentalidades e vamosemborismo. Em segundo lugar, há a questão de bisnacar ser uma forma polida de dizer que nos perdemos em conversas de café. Pois é, cara Ana: acertaste na mouche à primeira seta. Já quanto ao bifanar, tal verbo não consta do Houaiss, logo para todos os efeitos formais não existe. Em todo o caso, eu considerá-lo-ia uma substituição credível para bisnacar caso a conversa não fosse de café mas sim de snack-bar e pelo menos um conviva acompanhasse o bisnacanço com valentes dentadas numa bifana, acompanhada, ou não, de uma cervejinha fresca. Isto sim, seria bifanar!

Já o Luís, depois de se lamentar sobre a sua não inclusão nos candidatos a divulgadores do novo verbo, manifesta o seu apoio à ideia, avançando, no entanto, e também ele, com uma dúvida: O verbo prometer não tem em Portugal esse mesmo significado de falar muito acerca de uma coisa sem nunca chegar a fazer algo quanto a ela?

Sim e não. É uma questão de grau. Para ilustrar o conceito, nada como as leis. As leis neste país começam a sua ida em indolentes bisnacadelas nos gabinetes ministeriais e na AR. A maior parte delas, claro, e mantendo a pureza do conceito bisnacante, nunca chega à mínima concretização (se descontarmos, bem entendido, uma avultada troca de correspondência, que no fundo é mais ou menos o que fazemos aqui na blogosfera), mas há algumas que passam á concretização, momento em que todas as conversas prévias deixam de poder englobar-se no bisnaque para se deverem passar a considerar trabalho. Acontece, porém, que as leis nunca passam de promessa, mesmo depois de aprovadas e postas em vigor, visto que ninguém as cumpre.

Ou seja: primeiro bisnaca-se, depois promete-se e de seguida incumpre-se.

A virtude do sistema é tal que permite que logo em seguida se possa recomeçar a bisnacar, agora acerca dos motivos do incumprimento, fechando-se o círculo. Perfeito.

Ah, e quanto a não te incluir na lista dos putativos divulgadores da nova palavra... mas tu pensavas mesmo que fechavas o Ene Coisas à má fila e não sofrias represálias? Ha!

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