Ainda não há 24h que o uso, e já dei com o primeiro defeito do w.bloggar: não lida nada bem com alfabetos "estranhos", como o cirílico. Aquela coisa em russo, ali em baixo, teve de ser espetada lá usando o editor do blogger.
Bugger!...
sábado, 31 de janeiro de 2004
Spamesia (269)
Quarta-feira, já toda a gente sabe, o dilúvio de emails carregados de vírus continuou, mesmo que eu, pessoalmente, tenha recebido em menor quantidade que no dia anterior: ao todo o lixo chegou às 78 mensagens. No fim da lista, vinha uma mensagem em russo: "ЭТА ИНФОРМАЦИЯ ПОЛЕЗНА ДЛЯ ВАШЕГО ЗДОРОВЬЯ!" e foi essa que eu escolhi:
Esta informação é útil para a sua saúde
Quando andar pela rua e vir
um carro a vir
em sentido contrário
saia do caminho, caso contrário
o seu caminho poderá tornar-se
no último caminho que percorrerá
Parece inútil dizer isto, parece coisa
daquele senhor francês
cujo nome faz lembrar paliçadas
mas a verdade é que as coisas
que vemos todos os dias nas nossas estradas
fazem pensar que se calhar
é mesmo preciso
repetir e repetir e repetir
para que de tanto repetir
esta gente ganhe algum juízo
Esta informação é útil para a sua saúde
Quando andar pela rua e vir
um carro a vir
em sentido contrário
saia do caminho, caso contrário
o seu caminho poderá tornar-se
no último caminho que percorrerá
Parece inútil dizer isto, parece coisa
daquele senhor francês
cujo nome faz lembrar paliçadas
mas a verdade é que as coisas
que vemos todos os dias nas nossas estradas
fazem pensar que se calhar
é mesmo preciso
repetir e repetir e repetir
para que de tanto repetir
esta gente ganhe algum juízo
Spamesia (268)
Na terça-feira, começou o caos. Estava-se tão bem, com cerca de meia centena de spams por dia, eis que me começa a chegar outra meia centena de vírus por dia, cujos atachos têm de ser apagados um a um. Raisparta. Mas raisparta com muita força. Quanto ao que interessa, um título, veio num spam que até se anunciou com um tag e tudo: "[spam] Error"
Erro
Aquele berro
foi um erro
mas, porra,
um homem
não é de ferro!
Erro
Aquele berro
foi um erro
mas, porra,
um homem
não é de ferro!
Spamesia (267)
Depois do domingo, seguiu-se a segunda-feira, dia ainda calmo com 50 mensagens-lixo a chegar-me à caixa do correio e um título pequenino e agradável a rir-se para mim logo no topo da lista: "fled". Aliás, ultimamente têm-me chegado uns quantos spams simpáticos, só com uma ou duas palavras no título, mesmo porreiros para pegar neles e retorcê-los para onde mais me convém. Assim é bom. E desta vez, a minha conveniência virou para:
Fugiu
O José um dia olhou bem fundo nos olhos da Maria
leu neles tudo aquilo que ela nunca lhe diria
estremeceu e fugiu
e nunca mais ninguém o viu
Fugiu
O José um dia olhou bem fundo nos olhos da Maria
leu neles tudo aquilo que ela nunca lhe diria
estremeceu e fugiu
e nunca mais ninguém o viu
sexta-feira, 30 de janeiro de 2004
Isto é...
As linguagens mais faladas no mundo:
1. Chinês
2. Espanhol
3. Inglês
4. Bengali
5. Hindi/Urdu
6. Árabe
7. Português
8. Russo
9. Japonês
10. Alemão
11. Francês
As maiores Wikipédias:
1º Inglês
2º Alemão
3º Francês
4º Polaco
5º Sueco
6º Holandês
7º Japonês
8º Dinamarquês
9º Espanhol
10º Esperanto
11º Catalão
12º Italiano
13º Esloveno
14º Interlingua
15º Chinês
16º Finlandês
17º Romeno
18º Português
... uma vergonha!...
1. Chinês
2. Espanhol
3. Inglês
4. Bengali
5. Hindi/Urdu
6. Árabe
7. Português
8. Russo
9. Japonês
10. Alemão
11. Francês
As maiores Wikipédias:
1º Inglês
2º Alemão
3º Francês
4º Polaco
5º Sueco
6º Holandês
7º Japonês
8º Dinamarquês
9º Espanhol
10º Esperanto
11º Catalão
12º Italiano
13º Esloveno
14º Interlingua
15º Chinês
16º Finlandês
17º Romeno
18º Português
... uma vergonha!...
Resposta ao hmbf
(ficou demasiado grande para a caixa de comentários, teve de vir para aqui. E, de resto, isto tem interesse geral)
Se o teu humilde professor de filosofia for para a estrada sem saber conduzir, o mais certo é não durar muito no meio do trânsito. Aliás, o mais certo é ir parar ao hospital (e estou a ser bonzinho) e levar alguns pobres inocentes com ele. Inocentes esses que foram suficientemente conscienciosos para aprender a conduzir antes de se meter à estrada.
A internet é exactamente igual: por causa de milhões de professores de filosofia iguais aos teus, nós, os que somos suficentemente conscienciosos para ir aprender a conduzir, temos de gramar com viroses periódicas e devastadoras. Quando escrevi aquele post, tinha acabado de perder tempo que deveria ter sido gasto a fazer outras coisas a apagar à mão algumas dezenas de anexos com vírus. Daí a irritação.
E ainda por cima, é tão (mas tão) simples! Basta (exactamente) desconfiar de todos os emails que receberes com ficheiros anexados. Todos. Nunca abrir nada automaticamente.
E depois de desconfiar, vai-se ver. É GIF? Pode-se abrir. É JPG? Pode-se abrir. É TXT? Pode-se abrir. É RTF? Geralmente pode-se abrir. É PDF? Pode-se abrir. É DOC, XLS, HTM, HTML, etc.? Se o endereço do email for de alguém confiável, e se o corpo do email contiver uma mensagem que seria de esperar dessa pessoa, pode-se abrir. É ZIP? Abre só se tiveres absoluta certeza de que quem te enviou o email sabe o que está a fazer.
É algum destes tipos de ficheiro mas com outra extensão a seguir (por exemplo: ficheiro.TXT.EXE)? Não se abre NUNCA!
É EXE, PIF, BAT, SCR, DAT? Só em situações muitíssimo especiais se deve abrir.
E é assim. Nem sequer é preciso um antivírus. É simples. Muito mais simples que o código da estrada.
Se o teu humilde professor de filosofia for para a estrada sem saber conduzir, o mais certo é não durar muito no meio do trânsito. Aliás, o mais certo é ir parar ao hospital (e estou a ser bonzinho) e levar alguns pobres inocentes com ele. Inocentes esses que foram suficientemente conscienciosos para aprender a conduzir antes de se meter à estrada.
A internet é exactamente igual: por causa de milhões de professores de filosofia iguais aos teus, nós, os que somos suficentemente conscienciosos para ir aprender a conduzir, temos de gramar com viroses periódicas e devastadoras. Quando escrevi aquele post, tinha acabado de perder tempo que deveria ter sido gasto a fazer outras coisas a apagar à mão algumas dezenas de anexos com vírus. Daí a irritação.
E ainda por cima, é tão (mas tão) simples! Basta (exactamente) desconfiar de todos os emails que receberes com ficheiros anexados. Todos. Nunca abrir nada automaticamente.
E depois de desconfiar, vai-se ver. É GIF? Pode-se abrir. É JPG? Pode-se abrir. É TXT? Pode-se abrir. É RTF? Geralmente pode-se abrir. É PDF? Pode-se abrir. É DOC, XLS, HTM, HTML, etc.? Se o endereço do email for de alguém confiável, e se o corpo do email contiver uma mensagem que seria de esperar dessa pessoa, pode-se abrir. É ZIP? Abre só se tiveres absoluta certeza de que quem te enviou o email sabe o que está a fazer.
É algum destes tipos de ficheiro mas com outra extensão a seguir (por exemplo: ficheiro.TXT.EXE)? Não se abre NUNCA!
É EXE, PIF, BAT, SCR, DAT? Só em situações muitíssimo especiais se deve abrir.
E é assim. Nem sequer é preciso um antivírus. É simples. Muito mais simples que o código da estrada.
Mais uma sobre o mydoom
Mais uma sobre o mydoom: este vírus coloca muitas vezes um endereço falso (mas existente) no campo "from:" dos emails. Consequência? A esmagadora maioria das mensagens que se recebem a dizer que o vosso computador enviou um ficheiro infectado são falsas. Geralmente o que acontece é que alguém, algures, deixou-se infectar e desse computador seguem mensagens identificadas como se fossem provenientes de todos os endereços que o vírus conseguir encontrar. Um único computador infectado pode provocar alertas de infecção para centenas de endereços diferentes.
quinta-feira, 29 de janeiro de 2004
Uma perplexidade que nunca me largará
Tenho uma séria deficiência: nunca deixo de me espantar com a estupidez alheia (a minha, quando ataca, não me espanta: irrita-me). Especialmente com as proporções a que ela chega.
Vem isto a propósito da última vaga de vírus, o mydoom. É vírus que só infecta quem for suficientemente idiota para ir abrir o anexozinho. E a imensidão de mensagens que têm surgido infectadas com o bicharoco (fala-se já de 30% de todo o email trocado no planeta) é sintoma claríssimo da imensidão de imbecis que enxameiam este cibermundo.
Triste humanidade, que tem um cérebro e não o usa...
ADENDA: O mydoom, tal como todos os outros vírus do género, também se espalha por causa de certos programas de email (não digo quais, para não me acusarem de fazer propaganda anti-Microsoft), que correm automaticamente todos os anexos, a não ser que os utilizadores consigam entender o caos contra-intuitivo que são as suas ferramentas de personalização e desligar essa opção. E também se espalha por causa da ilusão confortável que muita gente tem de que basta ter um anti-vírus para estar protegida. Nada há de mais errado.
Vem isto a propósito da última vaga de vírus, o mydoom. É vírus que só infecta quem for suficientemente idiota para ir abrir o anexozinho. E a imensidão de mensagens que têm surgido infectadas com o bicharoco (fala-se já de 30% de todo o email trocado no planeta) é sintoma claríssimo da imensidão de imbecis que enxameiam este cibermundo.
Triste humanidade, que tem um cérebro e não o usa...
ADENDA: O mydoom, tal como todos os outros vírus do género, também se espalha por causa de certos programas de email (não digo quais, para não me acusarem de fazer propaganda anti-Microsoft), que correm automaticamente todos os anexos, a não ser que os utilizadores consigam entender o caos contra-intuitivo que são as suas ferramentas de personalização e desligar essa opção. E também se espalha por causa da ilusão confortável que muita gente tem de que basta ter um anti-vírus para estar protegida. Nada há de mais errado.
Spamesia (266)
O domingo foi ainda dia de bonança, apenas com 47 bocados de lixo electrónico a chegar-me à caixa de correio. Destes, havia um que falava de uma daquelas coisas que se usam para segurar as calças: "belt"
Cinto
Um cinto cinge a cintura
e segura
a alma que doutra forma iria nua
pela rua
sob ordem de soltura
inocente e pura
entre rios de ternura
Um cinto é coisa que perdura
Minto:
é coisa escura
Cinto
Um cinto cinge a cintura
e segura
a alma que doutra forma iria nua
pela rua
sob ordem de soltura
inocente e pura
entre rios de ternura
Um cinto é coisa que perdura
Minto:
é coisa escura
Spamesia (265)
OK... uma pausa, e um grande atraso que começa (espero) a ser agora recuperado. Estávamos na sexta, passemos ao sábado, dia em que me chegaram 54 spams. Desta vez nem li os títulos todos: abri a mailbox, li "Fluffy cat" e pensei: "é isto mesmo":
O gato farfalhudo
O gato farfalhudo ronrona
e ronda o rato que ressona
no avental da matrafona
O gato então olha em volta
a ver se o rato tem escolta
vê que não, que são só dois
os animais que ali encontra
Então o gato chega perto
em silêncio e com cuidado
da outra vez foi descuidado
e o raio do rato acordou
Agora não, já só se ouve
o bater do coração
e o ruído ressonado
do rato em respiração
Mas eis que um pio acorda o rato
num acordar nem nada suave
grita o rato “Ai deus me salve!”
salta o gato — não salvou
O gato farfalhudo
O gato farfalhudo ronrona
e ronda o rato que ressona
no avental da matrafona
O gato então olha em volta
a ver se o rato tem escolta
vê que não, que são só dois
os animais que ali encontra
Então o gato chega perto
em silêncio e com cuidado
da outra vez foi descuidado
e o raio do rato acordou
Agora não, já só se ouve
o bater do coração
e o ruído ressonado
do rato em respiração
Mas eis que um pio acorda o rato
num acordar nem nada suave
grita o rato “Ai deus me salve!”
salta o gato — não salvou
segunda-feira, 26 de janeiro de 2004
Spamesia (264)
Na sexta-feira tive 62 spams, incluindo um de uma tal Goldie Hughes de que nunca ouvi falar a perguntar-me pela família. Ou antes, pela family. Isto é, a perguntar-me "Hows the family?", com erro e tudo. Bem, respondi-lhe. Sort of.
Como vai a família?
Olá, querido amigo
como vai a família?
Por cá todos mal
como sempre
a avó morreu
de social-democracia
dizem que é doença
que ataca muito o fígado
o mais novo
anda em pomadas
o médico diz que tem
pedofilia
a senhora, coitada
anda com umas crises
nas partes baixas
ela pensava que era
hemorroidal
mas afinal
parece que é
currupção
e quanto a mim
como não tenho luvas
apanhei um desemprego
que não há meio de passar
mesmo a pão e água
é só cabeça e barriga
a doer
Enfim, tudo normal
e tu, como tens passado?
E como vai a família?
Como vai a família?
Olá, querido amigo
como vai a família?
Por cá todos mal
como sempre
a avó morreu
de social-democracia
dizem que é doença
que ataca muito o fígado
o mais novo
anda em pomadas
o médico diz que tem
pedofilia
a senhora, coitada
anda com umas crises
nas partes baixas
ela pensava que era
hemorroidal
mas afinal
parece que é
currupção
e quanto a mim
como não tenho luvas
apanhei um desemprego
que não há meio de passar
mesmo a pão e água
é só cabeça e barriga
a doer
Enfim, tudo normal
e tu, como tens passado?
E como vai a família?
sábado, 24 de janeiro de 2004
Spamesia (263)
Quinta houve de novo menos spam, mas a tendência parece ser crescente: 59 mensagens-lixo. Três destas mensagens vinham intituladas "Re: STUDENTS", e eu, perante tanta insistência, cedi:
Estudantes
Recordo quando éramos estudantes
não parecia haver uma preocupação
no mundo para lá do próximo exame
nada nos vinha desassossegar o optimismo
nem propinas nem más notas
nem sequer as ressacas das noites de farra
nem sequer as descobertas
de que as mulheres com quem passámos a noite
ainda não eram quem nos iria trancar
a parte mais bela dos sonhos
num cofre de perfumes e risos
Nessa época a guerra fazia-se em paz
não provocava vítimas definitivas
e o futuro estava ali ao alcance dos dedos
pronto para nos desvendar todos os segredos
Nostalgia? Talvez, um pouco
mas acima de tudo um grande desconforto
Estudantes
Recordo quando éramos estudantes
não parecia haver uma preocupação
no mundo para lá do próximo exame
nada nos vinha desassossegar o optimismo
nem propinas nem más notas
nem sequer as ressacas das noites de farra
nem sequer as descobertas
de que as mulheres com quem passámos a noite
ainda não eram quem nos iria trancar
a parte mais bela dos sonhos
num cofre de perfumes e risos
Nessa época a guerra fazia-se em paz
não provocava vítimas definitivas
e o futuro estava ali ao alcance dos dedos
pronto para nos desvendar todos os segredos
Nostalgia? Talvez, um pouco
mas acima de tudo um grande desconforto
Ah! Parece que não é mesmo ela!
Menos de 40 minutos depois de eu ter escrito o post abaixo, o Frederico esclareceu que quem quer que seja a "Anabela M Ribeiro" do extraordinariamente estúpido Possibilidade do Sentir não é a Anabela Mota Ribeiro da televisão.
Ufa! Assim fico mais satisfeito!
Ufa! Assim fico mais satisfeito!
sexta-feira, 23 de janeiro de 2004
As dúvidas excruciantes da blogosfera
Esta coisa da blogosfera, às vezes, deixa um tipo perplexo. Pelos motivos mais variados e mais díspares, diga-se, mas há dois que, pela sua frequência, se destacam. Um é quando de absolutos desconhecidos surge material da maior qualidade, como (felizmente) vai acontecendo com frequência; outro é quando de figuras mais ou menos conhecidas e respeitadas, surge material relevador da mais absoluta indigência intelectual.
Um exemplo da segunda categoria pode encontrar-se neste blogue. Aparentemente, trata-se do blogue de uma senhora que, no seu estilo permanentemente algo deslumbrado e perplexo, consegue fazer das entrevistas mais interessantes que se têm visto na nossa TV. E digo aparentemente, porque não tinha a senhora na conta de imbecil, bem pelo contrário, mas aquilo que se pode ler no blogue é de bradar aos céus.
São muitas e variadas as cretinadas, mas talvez a série mais representativa seja a que tem por tema Tolkien. Escreve a senhora coisas como: "Tanta referência ao triunfo dos homens bons e justos do Oeste perante os tiranos do Leste é obviamente uma referência ao mundo em que vivemos. [...] Que Tolkien era misógino parece-me óbvio [...] mas nesta adaptação contemporânea ao grande écran não terá sido possível usar-se a liberdade artística para o tornar mais adequado à nossa realidade? Pergunto-me, Aragorn não poderia ter sido mulher, mantendo ou potenciando a sua importância como personagem fulcral? E o mesmo vale para Gandalf, Frodo ou até Gollum. A respeito deste último, há algo a dizer. A sua representação no filme é, obviamente, uma evocação do aspecto que o corpo dos doentes com SIDA em estado terminal assume. A demonização era desnecessária, quanto a mim.", ou logo a seguir: "não li os livros" e, mais à frente: "Tolkien é um autor menor. Digo-o sem quaisquer hesitações."
A estupidez expressa nestes trechos raia o inacreditável. Quer dizer: eu até concordo que Tolkien é um autor menor, pese embora ter sido dos mais influentes escritores do século XX, estendendo a sua influência muito para além da literatura. A prosa dele é pretensiosa e chata, as histórias que conta já eram anacrónicas na época em que foram escritas, enfim, é necessária uma boa dose de paciência para enfrentar com sucesso a interminável história de Frodo Baggins. Mas eu li os livros, quer esses três, quer O Hobbit (bem melhor, como literatura juvenil). E é precisamente por isso que posso formar uma opinião sobre eles. Tecer considerandos sobre autores e obras sem nunca lhes ter sequer tocado é simplesmente imbecil. Quase tão imbecil como encontrar no Gollum "uma evocação do aspecto que o corpo dos doentes com SIDA em estado terminal assume", sendo que Gollum, precisamente com aquele aspecto, é descrito em pormenor numa obra escrita algumas décadas antes do aparecimento da SIDA. Nem os mais fanáticos fãs de Tolkien acreditam que o velho senhor inglês teria dotes proféticos.
Por estas e por outras (a historieta do Malkovich também é antológica), custa-me a crer de que quem escreve a Possibilidade do Sentir (e que dizer deste título?) seja mesmo a Anabela Mota Ribeiro. Tenho cá uma desconfiança de que se trata de alguém que não gosta dela a fazer-se passar, escrevendo boutades em cima de boutades, colando-lhe fama de cretina. Parece-me ser essa a melhor explicação para aquilo. Não haverá alguém de bom coração que mande um email à verdadeira AMP, a informá-la do que andam a fazer em seu nome?
Um exemplo da segunda categoria pode encontrar-se neste blogue. Aparentemente, trata-se do blogue de uma senhora que, no seu estilo permanentemente algo deslumbrado e perplexo, consegue fazer das entrevistas mais interessantes que se têm visto na nossa TV. E digo aparentemente, porque não tinha a senhora na conta de imbecil, bem pelo contrário, mas aquilo que se pode ler no blogue é de bradar aos céus.
São muitas e variadas as cretinadas, mas talvez a série mais representativa seja a que tem por tema Tolkien. Escreve a senhora coisas como: "Tanta referência ao triunfo dos homens bons e justos do Oeste perante os tiranos do Leste é obviamente uma referência ao mundo em que vivemos. [...] Que Tolkien era misógino parece-me óbvio [...] mas nesta adaptação contemporânea ao grande écran não terá sido possível usar-se a liberdade artística para o tornar mais adequado à nossa realidade? Pergunto-me, Aragorn não poderia ter sido mulher, mantendo ou potenciando a sua importância como personagem fulcral? E o mesmo vale para Gandalf, Frodo ou até Gollum. A respeito deste último, há algo a dizer. A sua representação no filme é, obviamente, uma evocação do aspecto que o corpo dos doentes com SIDA em estado terminal assume. A demonização era desnecessária, quanto a mim.", ou logo a seguir: "não li os livros" e, mais à frente: "Tolkien é um autor menor. Digo-o sem quaisquer hesitações."
A estupidez expressa nestes trechos raia o inacreditável. Quer dizer: eu até concordo que Tolkien é um autor menor, pese embora ter sido dos mais influentes escritores do século XX, estendendo a sua influência muito para além da literatura. A prosa dele é pretensiosa e chata, as histórias que conta já eram anacrónicas na época em que foram escritas, enfim, é necessária uma boa dose de paciência para enfrentar com sucesso a interminável história de Frodo Baggins. Mas eu li os livros, quer esses três, quer O Hobbit (bem melhor, como literatura juvenil). E é precisamente por isso que posso formar uma opinião sobre eles. Tecer considerandos sobre autores e obras sem nunca lhes ter sequer tocado é simplesmente imbecil. Quase tão imbecil como encontrar no Gollum "uma evocação do aspecto que o corpo dos doentes com SIDA em estado terminal assume", sendo que Gollum, precisamente com aquele aspecto, é descrito em pormenor numa obra escrita algumas décadas antes do aparecimento da SIDA. Nem os mais fanáticos fãs de Tolkien acreditam que o velho senhor inglês teria dotes proféticos.
Por estas e por outras (a historieta do Malkovich também é antológica), custa-me a crer de que quem escreve a Possibilidade do Sentir (e que dizer deste título?) seja mesmo a Anabela Mota Ribeiro. Tenho cá uma desconfiança de que se trata de alguém que não gosta dela a fazer-se passar, escrevendo boutades em cima de boutades, colando-lhe fama de cretina. Parece-me ser essa a melhor explicação para aquilo. Não haverá alguém de bom coração que mande um email à verdadeira AMP, a informá-la do que andam a fazer em seu nome?
quinta-feira, 22 de janeiro de 2004
Xiii! Que anedota tão foleira!...
Contaram-me agora uma anedota foleiríssima. Parece que os senhores da União Zoófila são todos activos eleitores do PSD. Porquê? Porque são muito sensíveis ao sofrimento dos animais.
Não é foleira?
Não é foleira?
Spamesia (262)
Ontem, quarta-feira, chegaram todos os spams que não tinham chegado na terça, e mais alguns. 76, foi a conta final, e lá no meio vinha uma aldrabice que tentava disfarçar com "not a scam". Of course not!
Não é aldrabice
— Não é aldrabice! —
diz o aldrabão pondo cara de pontífice
— Este ano vamos começar a retoma
mas entretanto vamos ter de ter paciência
que isto da economia não é bem uma ciência
e às vezes falha-me um pouco a cartomância
Além disso, mesmo quando quero mesmo
quando não me interessa que isto vá tudo a esmo
quando até tento que o país saia do coma
a verdade é que não percebo muito disto
e às vezes dá vontade até de dizer que desisto.
Mas repito
não é aldrabice!
É que me engano muitas vezes
e sempre a meu favor, o que é uma chatice
mas não é aldrabice
não é aldrabice!
Não é aldrabice
— Não é aldrabice! —
diz o aldrabão pondo cara de pontífice
— Este ano vamos começar a retoma
mas entretanto vamos ter de ter paciência
que isto da economia não é bem uma ciência
e às vezes falha-me um pouco a cartomância
Além disso, mesmo quando quero mesmo
quando não me interessa que isto vá tudo a esmo
quando até tento que o país saia do coma
a verdade é que não percebo muito disto
e às vezes dá vontade até de dizer que desisto.
Mas repito
não é aldrabice!
É que me engano muitas vezes
e sempre a meu favor, o que é uma chatice
mas não é aldrabice
não é aldrabice!
Spamesia (261)
Na terça-feira só houve 43 spams aqui por estas bandas, mas mesmo assim apareceu um título engraçado: "corruptible bagatelle".
Bagatela corruptível
Por vezes, nas noites quentes de Verão
juntas-te aos mosquitos e morcegos
longe das luzes da cidade
ouvindo ziguezagues de brisas entre giestas
e o voo silencioso de mochos
Enconstas-te a rochedos limpos de orvalho
e mergulhas os olhos no universo
Pouco tempo demora até te sentires poeira
bagatela corruptível um grão de areia
menos relevante que qualquer ideia
Bagatela corruptível
Por vezes, nas noites quentes de Verão
juntas-te aos mosquitos e morcegos
longe das luzes da cidade
ouvindo ziguezagues de brisas entre giestas
e o voo silencioso de mochos
Enconstas-te a rochedos limpos de orvalho
e mergulhas os olhos no universo
Pouco tempo demora até te sentires poeira
bagatela corruptível um grão de areia
menos relevante que qualquer ideia
Surrealismo, o que é?
Aqui há dias, a Janela abriu-se para uma série de posts com este título, e deu algumas respostas. Mas nenhuma que se compare com estas. Surrealismo, meus caros, é isto:
Descrição de ocorrências nas participações de sinistro do ramo automóvel.
1. O falecido apareceu a correr e desapareceu debaixo do meu carro.
2. Para evitar bater de frente no contentor do lixo, atropelei um peão.
3. O acidente aconteceu quando a porta direita de um carro apareceu de esquina sem fazer sinal.
4. A culpa do acidente não foi de ninguém, mas não teria acontecido se o outro condutor viesse com atenção.
5. Aprendi a conduzir sem direcção assistida. Quando girei o volante no meu carro novo, dei comigo na direcção oposta e fora de mão!
6. O peão bateu-me e foi para baixo do carro.
7. O peão não sabia para onde ia, então eu atropelei-o!
8. Vi um velho enrolado, de cara triste, quando caiu do tejadilho do meu carro.
9. Eu tinha a certeza que o velho não conseguia chegar ao outro lado da estrada, por isso atropelei-o.
10. Fui cuspido para fora do carro, quando ele saiu da estrada. Mais tarde fui encontrado numa vala por umas vacas perdidas.
11. Pensei que o meu vidro estava aberto, mas descobri que estava fechado quando pus a cabeça de fora.
12. Bati contra um carro parado que vinha em direcção contrária.
13. Saí do estacionamento, olhei para a cara da minha sogra e caí pela ribanceira abaixo.
14. O tipo andava aos ziguezagues de um lado para o outro da estrada. Tive que me desviar uma porção de vezes antes de o atropelar.
15. Já conduzia há 40 anos, quando adormeci ao volante e sofri o acidente.
16. Um carro invisivel veio de não sei onde, bateu no meu carro e desapareceu.
17. O meu carro estava estacionado correctamente, quando foi bater de traseira no outro carro.
18. De regresso a casa, entrei com o meu carro na casa errada e bati numa árvore que não é minha.
19. A camioneta bateu de traseira no meu pára-brisas, em cheio na cabeça da minha mulher.
20. Disse à policia que não me tinha magoado, mas quando tirei o chapéu percebi que tinha fracturado o crânio.
Descrição de ocorrências nas participações de sinistro do ramo automóvel.
1. O falecido apareceu a correr e desapareceu debaixo do meu carro.
2. Para evitar bater de frente no contentor do lixo, atropelei um peão.
3. O acidente aconteceu quando a porta direita de um carro apareceu de esquina sem fazer sinal.
4. A culpa do acidente não foi de ninguém, mas não teria acontecido se o outro condutor viesse com atenção.
5. Aprendi a conduzir sem direcção assistida. Quando girei o volante no meu carro novo, dei comigo na direcção oposta e fora de mão!
6. O peão bateu-me e foi para baixo do carro.
7. O peão não sabia para onde ia, então eu atropelei-o!
8. Vi um velho enrolado, de cara triste, quando caiu do tejadilho do meu carro.
9. Eu tinha a certeza que o velho não conseguia chegar ao outro lado da estrada, por isso atropelei-o.
10. Fui cuspido para fora do carro, quando ele saiu da estrada. Mais tarde fui encontrado numa vala por umas vacas perdidas.
11. Pensei que o meu vidro estava aberto, mas descobri que estava fechado quando pus a cabeça de fora.
12. Bati contra um carro parado que vinha em direcção contrária.
13. Saí do estacionamento, olhei para a cara da minha sogra e caí pela ribanceira abaixo.
14. O tipo andava aos ziguezagues de um lado para o outro da estrada. Tive que me desviar uma porção de vezes antes de o atropelar.
15. Já conduzia há 40 anos, quando adormeci ao volante e sofri o acidente.
16. Um carro invisivel veio de não sei onde, bateu no meu carro e desapareceu.
17. O meu carro estava estacionado correctamente, quando foi bater de traseira no outro carro.
18. De regresso a casa, entrei com o meu carro na casa errada e bati numa árvore que não é minha.
19. A camioneta bateu de traseira no meu pára-brisas, em cheio na cabeça da minha mulher.
20. Disse à policia que não me tinha magoado, mas quando tirei o chapéu percebi que tinha fracturado o crânio.
terça-feira, 20 de janeiro de 2004
Spamesia (260)
Ora, ontem foi segunda-feira (não é verdade?) e mais uma vez os spams andaram pelos 50 e tal. Mais concretamente, 59. Houve vários títulos com interesse, mas por qualquer motivo que não descortino (até porque as cortinas estão pesadas e do lado de lá está um frio do caraças), resolvi escolher um que dizia "genitive". Lá fui rebuscar no fundo da memória os meus rudimentos de gramática, e:
Genitivo
A chuva de um homem
a barba do mendigo
a revolta de ontem
a mudança de amanhã
O ontem da polícia
o amanhã da política
o fim da paciência
o começo da consciência
O sorriso da tarde
o choro da manhã
o descanso do inverno
o cansaço do verão
A saudade de Marte
a caminhada da morte
a ausência da sorte
a profecia do enfarte
O prenúncio do fim
o fim do prenúncio
o fim
Genitivo
A chuva de um homem
a barba do mendigo
a revolta de ontem
a mudança de amanhã
O ontem da polícia
o amanhã da política
o fim da paciência
o começo da consciência
O sorriso da tarde
o choro da manhã
o descanso do inverno
o cansaço do verão
A saudade de Marte
a caminhada da morte
a ausência da sorte
a profecia do enfarte
O prenúncio do fim
o fim do prenúncio
o fim
segunda-feira, 19 de janeiro de 2004
Spamesia (259)
Ontem, domingo, tive direito, de novo, a 54 spams. Houve alguns títulos aproveitáveis, o que me permitiu escolher um dos mais curtos: "amuse".
Diverte
Se estás com falta de assunto
diverte, fala de presunto
Se estás carente de afagos
diverte, imita dois gagos
Se não arranjas genica
diverte com as crises da Chica
É esta a atitude do século vinte e um:
quando nada mais resulta, larga um belo pum
Diverte
Se estás com falta de assunto
diverte, fala de presunto
Se estás carente de afagos
diverte, imita dois gagos
Se não arranjas genica
diverte com as crises da Chica
É esta a atitude do século vinte e um:
quando nada mais resulta, larga um belo pum
Spamesia (258)
E para recuperar rapidamente a actualidade, passemos a sábado, dia de 54 spams, incluindo um "breeze":
Brisa
No país dos ventos é a brisa
de todos a voz mais concisa
basta um sopro e já está
disse tudo o que dirá
É um vento belo e leve
e sopra igual
sobre areia ou sobre a neve
Só nas vozes que transporta é diferente
umas vozes de animal
outras que são voz de gente
Brisa
No país dos ventos é a brisa
de todos a voz mais concisa
basta um sopro e já está
disse tudo o que dirá
É um vento belo e leve
e sopra igual
sobre areia ou sobre a neve
Só nas vozes que transporta é diferente
umas vozes de animal
outras que são voz de gente
Spamesia (257)
Na sexta-feira houve meia-dúzia de spams a mais: 60. Lá pelo meio, um título me chamou a atenção, "doorstep" e, uma vez que não há boa tradução directa desta palavra para português, fiquei-me por:
O degrau
Quem olha para ele
no relance habitual
que se concede ao que é banal
pensa decerto que não passa
de apenas mais um degrau
patamar de pedra pisada
por toda a gente que ali passa
Engano maior não existe
Aquele é degrau que resiste
e não é raro ver no pátio
fatos caros e gravatas
esquecidos por momentos
de todas as bravatas
espalhados pelo chão
entre o pó e a pedra dura
O degrau ri-se para dentro
um riso frio feito de mármore
satisfeito por levar a vida inteira
entre o descanso e a rasteira
O degrau
Quem olha para ele
no relance habitual
que se concede ao que é banal
pensa decerto que não passa
de apenas mais um degrau
patamar de pedra pisada
por toda a gente que ali passa
Engano maior não existe
Aquele é degrau que resiste
e não é raro ver no pátio
fatos caros e gravatas
esquecidos por momentos
de todas as bravatas
espalhados pelo chão
entre o pó e a pedra dura
O degrau ri-se para dentro
um riso frio feito de mármore
satisfeito por levar a vida inteira
entre o descanso e a rasteira
Spamesia (256)
Uns dias lixados, e imediatamente se me acumula uma série de spam intratado e intratável. É essa a natureza da besta, fazer o quê? Enfim... Mas vamos ao que interessa. Na quinta-feira recebi só 53, e dentro este grupo o título mais interessante foi "where?"
Onde?
Da queda o salto, onde?
Da morte a sorte, onde?
De mim o sono, onde?
De ti o corpo, onde?
De nós, o fim. Onde o início?
Onde o parapeito do precipício?
Onde a nascente do sacrifício?
De mim a calma, onde?
De mim os sonhos, onde?
De mim futuro, onde?
Abro as mãos, e tudo é escuro
Onde?
Da queda o salto, onde?
Da morte a sorte, onde?
De mim o sono, onde?
De ti o corpo, onde?
De nós, o fim. Onde o início?
Onde o parapeito do precipício?
Onde a nascente do sacrifício?
De mim a calma, onde?
De mim os sonhos, onde?
De mim futuro, onde?
Abro as mãos, e tudo é escuro
domingo, 18 de janeiro de 2004
<-------- Os livros que estão ali
Desde a última vez que nos encontrámos nesta série de posts sobre o que vou lendo, saíram dali da coluna da esquerda os livros Fronteiras (antologia muito irregular, com contos óptimos ao lado de outros muito fracos) e Lençol de Sonhos (uma boa noveleta de realismo mágico, muito bem escrita e bem construída) e o número 7 da revista Em Cena (gostei mais do número 6, mas mesmo assim este número é dos mais interessantes desta revista). Para substituí-los entraram:
- O Romance de Nostradamus — O Presságio é o primeiro volume da trilogia fantástica do italiano Valerio Evangelisti sobre a vida do Michel de Nôtre Dame (ou Nostredame). Não, não tem nada a ver com as profecias: é um romance. Edição da Editorial Presença, 325 páginas (2001)
- Beduínos a Gasóleo deu ao malogrado João Botelho da Silva o prémio Caminho de FC de 1993 e conta uma história passada num futuro em que os carros adquiriram inteligência e independência. Edição da Editorial Caminho, 278 páginas (1993)
- O Romance de Nostradamus — O Presságio é o primeiro volume da trilogia fantástica do italiano Valerio Evangelisti sobre a vida do Michel de Nôtre Dame (ou Nostredame). Não, não tem nada a ver com as profecias: é um romance. Edição da Editorial Presença, 325 páginas (2001)
- Beduínos a Gasóleo deu ao malogrado João Botelho da Silva o prémio Caminho de FC de 1993 e conta uma história passada num futuro em que os carros adquiriram inteligência e independência. Edição da Editorial Caminho, 278 páginas (1993)
quinta-feira, 15 de janeiro de 2004
Bisnaquemos então sobre o verbo
Ora bem... vamos lá bisnacar um bocadinho acerca do verbo bisnacar. Diz a Ana, da Janela Indiscreta, que acha a ideia bonita mas que lhe provoca dúvidas delirantes. Gosto disso. O delírio, acho eu, é pré-condição para todos os avanços da humanidade, e quanto maior o putativo avanço, maior terá de ser o delírio prévio.
A primeira dúvida delirante da Ana é a seguinte: "se o que fazemos na blogosfera é bisnacar e se bisnacamos na blogosfera portuguesa, não será o verbo bisnacar uma forma polida de dizer que nos desdobramos, diluímos e dispersamos em infinitas conversas de café porém escritas, mais ou menos coerentes e geralmente isentas de erros formais? O verbo mais apropriado não seria pois bifanar?"
Vejamos. Acho que aqui há várias questões. Em primeiro lugar, eu falei especificamente de blogosfera portuguesa porque não conheço as demais, embora tudo me faça crer que nesse aspecto deverão ser iguais. Como rima, deve ser verdade. Já a minha referência a Portugal, é mesmo específica a este país pequenino de tamanho, mentalidades e vamosemborismo. Em segundo lugar, há a questão de bisnacar ser uma forma polida de dizer que nos perdemos em conversas de café. Pois é, cara Ana: acertaste na mouche à primeira seta. Já quanto ao bifanar, tal verbo não consta do Houaiss, logo para todos os efeitos formais não existe. Em todo o caso, eu considerá-lo-ia uma substituição credível para bisnacar caso a conversa não fosse de café mas sim de snack-bar e pelo menos um conviva acompanhasse o bisnacanço com valentes dentadas numa bifana, acompanhada, ou não, de uma cervejinha fresca. Isto sim, seria bifanar!
Já o Luís, depois de se lamentar sobre a sua não inclusão nos candidatos a divulgadores do novo verbo, manifesta o seu apoio à ideia, avançando, no entanto, e também ele, com uma dúvida: O verbo prometer não tem em Portugal esse mesmo significado de falar muito acerca de uma coisa sem nunca chegar a fazer algo quanto a ela?
Sim e não. É uma questão de grau. Para ilustrar o conceito, nada como as leis. As leis neste país começam a sua ida em indolentes bisnacadelas nos gabinetes ministeriais e na AR. A maior parte delas, claro, e mantendo a pureza do conceito bisnacante, nunca chega à mínima concretização (se descontarmos, bem entendido, uma avultada troca de correspondência, que no fundo é mais ou menos o que fazemos aqui na blogosfera), mas há algumas que passam á concretização, momento em que todas as conversas prévias deixam de poder englobar-se no bisnaque para se deverem passar a considerar trabalho. Acontece, porém, que as leis nunca passam de promessa, mesmo depois de aprovadas e postas em vigor, visto que ninguém as cumpre.
Ou seja: primeiro bisnaca-se, depois promete-se e de seguida incumpre-se.
A virtude do sistema é tal que permite que logo em seguida se possa recomeçar a bisnacar, agora acerca dos motivos do incumprimento, fechando-se o círculo. Perfeito.
Ah, e quanto a não te incluir na lista dos putativos divulgadores da nova palavra... mas tu pensavas mesmo que fechavas o Ene Coisas à má fila e não sofrias represálias? Ha!
A primeira dúvida delirante da Ana é a seguinte: "se o que fazemos na blogosfera é bisnacar e se bisnacamos na blogosfera portuguesa, não será o verbo bisnacar uma forma polida de dizer que nos desdobramos, diluímos e dispersamos em infinitas conversas de café porém escritas, mais ou menos coerentes e geralmente isentas de erros formais? O verbo mais apropriado não seria pois bifanar?"
Vejamos. Acho que aqui há várias questões. Em primeiro lugar, eu falei especificamente de blogosfera portuguesa porque não conheço as demais, embora tudo me faça crer que nesse aspecto deverão ser iguais. Como rima, deve ser verdade. Já a minha referência a Portugal, é mesmo específica a este país pequenino de tamanho, mentalidades e vamosemborismo. Em segundo lugar, há a questão de bisnacar ser uma forma polida de dizer que nos perdemos em conversas de café. Pois é, cara Ana: acertaste na mouche à primeira seta. Já quanto ao bifanar, tal verbo não consta do Houaiss, logo para todos os efeitos formais não existe. Em todo o caso, eu considerá-lo-ia uma substituição credível para bisnacar caso a conversa não fosse de café mas sim de snack-bar e pelo menos um conviva acompanhasse o bisnacanço com valentes dentadas numa bifana, acompanhada, ou não, de uma cervejinha fresca. Isto sim, seria bifanar!
Já o Luís, depois de se lamentar sobre a sua não inclusão nos candidatos a divulgadores do novo verbo, manifesta o seu apoio à ideia, avançando, no entanto, e também ele, com uma dúvida: O verbo prometer não tem em Portugal esse mesmo significado de falar muito acerca de uma coisa sem nunca chegar a fazer algo quanto a ela?
Sim e não. É uma questão de grau. Para ilustrar o conceito, nada como as leis. As leis neste país começam a sua ida em indolentes bisnacadelas nos gabinetes ministeriais e na AR. A maior parte delas, claro, e mantendo a pureza do conceito bisnacante, nunca chega à mínima concretização (se descontarmos, bem entendido, uma avultada troca de correspondência, que no fundo é mais ou menos o que fazemos aqui na blogosfera), mas há algumas que passam á concretização, momento em que todas as conversas prévias deixam de poder englobar-se no bisnaque para se deverem passar a considerar trabalho. Acontece, porém, que as leis nunca passam de promessa, mesmo depois de aprovadas e postas em vigor, visto que ninguém as cumpre.
Ou seja: primeiro bisnaca-se, depois promete-se e de seguida incumpre-se.
A virtude do sistema é tal que permite que logo em seguida se possa recomeçar a bisnacar, agora acerca dos motivos do incumprimento, fechando-se o círculo. Perfeito.
Ah, e quanto a não te incluir na lista dos putativos divulgadores da nova palavra... mas tu pensavas mesmo que fechavas o Ene Coisas à má fila e não sofrias represálias? Ha!
Spamesia (255)
Quarta-feira houve 56 spams e muitos títulos tão maus como "Bachelors, Masters, MBA and/or Doctorate (PhD)", "Ladies beautiful bustlines safely-- pushout tio eiuzug mkhpsg" ou "W.ant to S;p'am proof your inbo.x Jorge?". Mas o mais bizarro deve ter sido o que dizia "demurrer teal". Claro que foi este o escolhido...
O pato do contra
O pato do contra estava contra
todas as coisas
menos, claro, o seu pântano
onde nadava todos os dias
grasnando impropérios a
todas as coisas
menos, claro, ao seu ninho
onde dormia todas as noites
sonhando acabar com
todas as coisas
menos, claro, as suas coisas
O ideal para o pato do contra
era que os rios e as fontes
se regessem pelos seus desejos
e que sempre que para isso
lhe chegasse o ensejo
pudesse desfrutar de todos os ventos
sem paredes nem quebra-ventos
Bem vistas as coisas, lá bem no fundo
o pato do contra até estava a favor
O pato do contra
O pato do contra estava contra
todas as coisas
menos, claro, o seu pântano
onde nadava todos os dias
grasnando impropérios a
todas as coisas
menos, claro, ao seu ninho
onde dormia todas as noites
sonhando acabar com
todas as coisas
menos, claro, as suas coisas
O ideal para o pato do contra
era que os rios e as fontes
se regessem pelos seus desejos
e que sempre que para isso
lhe chegasse o ensejo
pudesse desfrutar de todos os ventos
sem paredes nem quebra-ventos
Bem vistas as coisas, lá bem no fundo
o pato do contra até estava a favor
quarta-feira, 14 de janeiro de 2004
Spamesia (254)
Na terça-feira, ou seja, ontem, recebi apenas 52 spams. Mas mesmo assim houve um ou dois títulos com potencial, entre os quais escolhi "Letter":
Carta
Hoje sentei-me a escrever uma carta
Ainda se lembram?
É uma coisa de papel, embutida em envelope
recoberta de traços de tinta com a forma vaga de palavras
manuscritas, muitas vezes
as melhores vezes
as vezes mais puras
uma coisa com sentimentos colados às fibras de celulose
pela tinta que vai desbotando a pouco e pouco
devagarinho
à medida que os sentimentos vão envelhecendo
enchendo-se de rugas nódoas de fungos odores
até no fim não passarem de fantasmas de velhas dores
e de amores
Lembram-se, ainda?
Pois foi
hoje sentei-me a escrever uma carta
mas acabei por desistir
o peso da permanência provisória do papel
foi mais do que consegui suportar
e por isso, amarfanhei precocemente aquelas palavras
e em vez de carta, acabei
por enviar apenas um email
Carta
Hoje sentei-me a escrever uma carta
Ainda se lembram?
É uma coisa de papel, embutida em envelope
recoberta de traços de tinta com a forma vaga de palavras
manuscritas, muitas vezes
as melhores vezes
as vezes mais puras
uma coisa com sentimentos colados às fibras de celulose
pela tinta que vai desbotando a pouco e pouco
devagarinho
à medida que os sentimentos vão envelhecendo
enchendo-se de rugas nódoas de fungos odores
até no fim não passarem de fantasmas de velhas dores
e de amores
Lembram-se, ainda?
Pois foi
hoje sentei-me a escrever uma carta
mas acabei por desistir
o peso da permanência provisória do papel
foi mais do que consegui suportar
e por isso, amarfanhei precocemente aquelas palavras
e em vez de carta, acabei
por enviar apenas um email
Spamesia (253)
Na segunda-feira, por estranho que pareça, recebi um spam a falar, não de terça, mas de sexta-feira. Foi esse o escolhido entre a massa de 66 mensagens, e o título completo era: "RE: friday?"
Sexta-feira
Se todos os dias fossem sexta-feira
o mundo andaria um pouco mais cansado
mas também algo mais esperançado
pois não há como a expectativa do fim de semana
para fazer nascer uma nova luz nos olhos mais baços
O problema, claro, o passo em falso
o motivo por que ao fim de algum tempo
a tua alegria se dissolveria toda inteira
deixando para trás mais um corpo abandonado
é que se todos os dias fossem sexta-feira
nunca o tempo chegaria à condição de sábado
Sexta-feira
Se todos os dias fossem sexta-feira
o mundo andaria um pouco mais cansado
mas também algo mais esperançado
pois não há como a expectativa do fim de semana
para fazer nascer uma nova luz nos olhos mais baços
O problema, claro, o passo em falso
o motivo por que ao fim de algum tempo
a tua alegria se dissolveria toda inteira
deixando para trás mais um corpo abandonado
é que se todos os dias fossem sexta-feira
nunca o tempo chegaria à condição de sábado
Pela inclusão na língua portuguesa do verbo bisnacar
É perfeitamente incompreensível que num país e numa cultura como a nossa, em que aquilo que esta expressão designaria é, autenticamente, característica primordial quer da vida quotidiana de todos nós, quer da vida pública das instituições, não exista nenhuma expressão de uso corrente que signifique o que bisnacar poderá significar. Assim, proponho aqui formalmente que incluamos esta palavra, há muito necessária, na língua portuguesa. Seria óptimo ter nesta cruzada o auxílio de outros blogueiros, como os multi-culturais indiscretos da Janela, ou escritores como o Cachapa ou o Luís Filipe Silva, ou poetas/jornalistas como o José Mário Silva ou jornalistas não poetas, como o Paulo Querido, etc., etc., e nesse sentido apelo a todos estes bloggers e a todos os demais que considerem o termo adequado que o divulguem por todos os meios possíveis e imaginários.
Mas — devem vocês estar, nesta altura, a coçar a cabeça em confusão — será que este tipo está por aqui só a bisnacar?! Ou, por outra, de que raio de bicho está ele a falar?!
Para deixar tudo claro, permitam-me uma citação do último número do fanzine inglês de FC, Ansible:
Fred Lerner on the A197 Language Lesson: "Greer Gilman left out my favourite Shetland Norse word, which I learned from An Etymological Dictionary of the Norn Language of Shetland. «Bisnaak» is a verb meaning to talk a lot about something without ever doing anything about it, as in the phrase «to bisnaak aboot a t'ing». A useful addition to Fanspeak, I should think ..."
Para os menos versados em inglês, eu traduzo:
Diz Fred Lerner sobre a Lição de Linguagem na Ansible 197: "Greer Gilan não referiu a minha palavra favorita em Nórdico das Shetland, que aprendi no An Etymological Dictionary of the Norn Language of Shetland. «Bisnaak» é um verbo que significa falar muito acerca de uma coisa sem nunca chegar a fazer algo quanto a ela, como na frase «to bisnaak aboot a t'ing». Parece-me uma adição útil à gíria do fandom..."
Se a Lerner a palavra parece uma adição útil à gíria do fandom, eu vejo nela imensa potencialidade para descrever não só o fandom de FC em Portugal, como também a blogosfera portuguesa e, em geral, Portugal considerado como um todo. Passamos a vida a bisnacar indolentemente uns com os outros, e quanto a pôr as mãos na massa, népia. Acho, por isso, fundamental acrescentar esta palavra ao nosso léxico o quanto antes.
Divulguem, utilizem, adaptem! Vamos bisnacar com palavra própria!
Mas — devem vocês estar, nesta altura, a coçar a cabeça em confusão — será que este tipo está por aqui só a bisnacar?! Ou, por outra, de que raio de bicho está ele a falar?!
Para deixar tudo claro, permitam-me uma citação do último número do fanzine inglês de FC, Ansible:
Fred Lerner on the A197 Language Lesson: "Greer Gilman left out my favourite Shetland Norse word, which I learned from An Etymological Dictionary of the Norn Language of Shetland. «Bisnaak» is a verb meaning to talk a lot about something without ever doing anything about it, as in the phrase «to bisnaak aboot a t'ing». A useful addition to Fanspeak, I should think ..."
Para os menos versados em inglês, eu traduzo:
Diz Fred Lerner sobre a Lição de Linguagem na Ansible 197: "Greer Gilan não referiu a minha palavra favorita em Nórdico das Shetland, que aprendi no An Etymological Dictionary of the Norn Language of Shetland. «Bisnaak» é um verbo que significa falar muito acerca de uma coisa sem nunca chegar a fazer algo quanto a ela, como na frase «to bisnaak aboot a t'ing». Parece-me uma adição útil à gíria do fandom..."
Se a Lerner a palavra parece uma adição útil à gíria do fandom, eu vejo nela imensa potencialidade para descrever não só o fandom de FC em Portugal, como também a blogosfera portuguesa e, em geral, Portugal considerado como um todo. Passamos a vida a bisnacar indolentemente uns com os outros, e quanto a pôr as mãos na massa, népia. Acho, por isso, fundamental acrescentar esta palavra ao nosso léxico o quanto antes.
Divulguem, utilizem, adaptem! Vamos bisnacar com palavra própria!
Spamesia (252)
No domingo, como os cristãos descansam, houve mais spam: um total de 74 mensagens. No meio de tudo isto encontraram-se alguns títulos interessantes, incluindo um típico de vendedor de banha da cobra: "Free Product Reverses Aging!" Eu por acaso até conheço um produto desses, e vou desvendar-vos o segredo, que há quem diga que é falso:
Produto gratuito inverte o envelhecimento
A notícia foi recebida com grande espanto
um produto gratuito, existente em toda a parte
teria a arte — ou a ciência — de apagar o tempo
e devolver a suavidade às marcas da idade
Pôs-se em pé um comité de gente muito séria
para ver se tudo aquilo não era apenas uma léria
uma simples invenção sem efeito nem função
A conclusão do comité, apesar da crença popular
foi de que o tal produto era falso, sim senhor
pois ninguém no comité ouvira falar de um “humor”
Produto gratuito inverte o envelhecimento
A notícia foi recebida com grande espanto
um produto gratuito, existente em toda a parte
teria a arte — ou a ciência — de apagar o tempo
e devolver a suavidade às marcas da idade
Pôs-se em pé um comité de gente muito séria
para ver se tudo aquilo não era apenas uma léria
uma simples invenção sem efeito nem função
A conclusão do comité, apesar da crença popular
foi de que o tal produto era falso, sim senhor
pois ninguém no comité ouvira falar de um “humor”
terça-feira, 13 de janeiro de 2004
Spamesia (251)
No sábado chegaram-me 62 spams, e todos, mas mesmo todos, com péssimos títulos. O menos mau foi "Asia", e portanto lá tive de pegar nesse:
Ásia
Lá
lon-
ge
fi-
ca
a
Á-
sia
Xie-
xie
Ásia
Lá
lon-
ge
fi-
ca
a
Á-
sia
Xie-
xie
I'm a translated coiso e tal, mas também publ
É sempre assim. Apanham um gajo distraído, pimba, catrapás! E eu, que ando por cá quase todos os dias, foi só ficar por fora um fim de semana, perdi logo o momento exacto da primeira edição em português da versão longa de O Lugar Para Onde vão as Coisas que Desaparecem, o meu primeiro conto traduzido. Está online, no Tecnofantasia.com do Luís Filipe Silva.
Leiam. E espero que gostem.
Leiam. E espero que gostem.
Spamesia (250)
Na passada sexta-feira houve 68 spams, e resolvi pegar num "Daughter with Father", que é spam a anunciar sexo incestuoso e provavelmente pedófilo — coisa interessantíssima como se pode perceber —, e "purificá-lo":
Filha com o pai
Olhem bem aquele par que ali vai
é uma filha com o seu pai
aproveitem bem essa visão de ternura
— bem sei que isto é foleiro — tão pura
que faz com que qualquer coisa cá dentro
se sinta assim como pedrinhas de cimento
que esfarelam e derramam para a rua
sempre que a humanidade vai nua
Filha com o pai
Olhem bem aquele par que ali vai
é uma filha com o seu pai
aproveitem bem essa visão de ternura
— bem sei que isto é foleiro — tão pura
que faz com que qualquer coisa cá dentro
se sinta assim como pedrinhas de cimento
que esfarelam e derramam para a rua
sempre que a humanidade vai nua
sexta-feira, 9 de janeiro de 2004
Spamesia (249)
Quinta-feira foi dia de pouco spam (57 mensagens) e muito maus títulos. Escolhi "colombo andesine", mais pelo desafio de criar alguma coisa com um mínimo de pés e cabeça a partir daquilo do que por me inspirar de algum modo, e escrevi:
A andesina de Colombo
Incrustada na bengala de Colombo
havia um bocado de andesina
que um dia lhe foi dado por um pombo
que lhe disse «Ó Colombo!
Tu vê lá se envergonhas a família!»
Razões havia para que o pombo
assim expressasse os pensamentos
por detrás de todos os fingimentos
à humanidade sempre envergonhou
quem vê lugares que nunca pisou
E assim, ao chegar às novas ilhas
do bolso da jaqueta tirou Colombo
a pedra que lhe foi dada pelo pombo
e pensou: «Para mim, tantas milhas
e de ti só restam filhos e filhas!»
Não era poeta o velho marinheiro
pois se o fosse teria feito no momento
uma ode ao fluxo imparável do tempo
que arrasta consigo o mundo inteiro
Mas quis recordar-se daquele pensamento
e por isso de andesina fez um monumento
A andesina de Colombo
Incrustada na bengala de Colombo
havia um bocado de andesina
que um dia lhe foi dado por um pombo
que lhe disse «Ó Colombo!
Tu vê lá se envergonhas a família!»
Razões havia para que o pombo
assim expressasse os pensamentos
por detrás de todos os fingimentos
à humanidade sempre envergonhou
quem vê lugares que nunca pisou
E assim, ao chegar às novas ilhas
do bolso da jaqueta tirou Colombo
a pedra que lhe foi dada pelo pombo
e pensou: «Para mim, tantas milhas
e de ti só restam filhos e filhas!»
Não era poeta o velho marinheiro
pois se o fosse teria feito no momento
uma ode ao fluxo imparável do tempo
que arrasta consigo o mundo inteiro
Mas quis recordar-se daquele pensamento
e por isso de andesina fez um monumento
quinta-feira, 8 de janeiro de 2004
Spamesia (248)
Na quarta-feira houve muito mais spam: 81 mensagens. E continuaram a aparecer bons títulos, como por exemplo "Very rare":
Muito raro
É muito raro que um olhar
caia mesmo
no centro dos meus olhos
Mas acontece
Muito raro
É muito raro que um olhar
caia mesmo
no centro dos meus olhos
Mas acontece
quarta-feira, 7 de janeiro de 2004
Spamesia (247)
Ontem foi terça-feira, dia de 62 spams. Vários títulos me chamaram a atenção, e por isso mesmo tive alguma dificuldade em escolher um, mas acabei por optar por um "Once more" e escrever:
Mais uma vez
Mais uma vez começa um ano
Mais uma vez o frio e a chuva
Mais uma vez o vento sopra
e assobia pelas frinchas da janela
Mais uma vez as noites longas
e o cheiro a lareiras
nos arredores da cidade
Mais uma vez a terra espera
no remanso suave do inverno
que o sol traga de volta a poeira
e as multidões de corpos gordos
estendidos sobre a areia
Mais uma vez a melancolia
passageira dos lugares
provisoriamente abandonados
Mais uma vez
Mais uma vez começa um ano
Mais uma vez o frio e a chuva
Mais uma vez o vento sopra
e assobia pelas frinchas da janela
Mais uma vez as noites longas
e o cheiro a lareiras
nos arredores da cidade
Mais uma vez a terra espera
no remanso suave do inverno
que o sol traga de volta a poeira
e as multidões de corpos gordos
estendidos sobre a areia
Mais uma vez a melancolia
passageira dos lugares
provisoriamente abandonados
terça-feira, 6 de janeiro de 2004
<-------- Os livros que estão ali
OK, peguei no Aniceto. Mas entretanto, acabei de ler O Verão dos Dinossauros (uma história de aventuras fora de tempo, mediana, que só é verdadeiramente emocionante no penúltimo capítulo. Lê-se, mas não é nada de especial) e A Fonte de Mafamede (uma história medieval sobre a intolerância. Apesar de bem intencionada, não me agradou particularmente, quer em termos de escrita, quer em termos de história propriamente dita). Para o lugar destes dois livros entraram:
- Lençol de Sonhos, de João Paulo Silva, foi o vencedor do Prémio Revelação Manuel Teixeira Gomes de 2001. Edição das Edições Colibri e da Câmara Municipal de Portimão, 44 páginas (2002)
- Contos Polacos é uma antologia do conto polaco do século XX que contém 22 contos (ou fragmentos) de outros tantos autores, alguns deles ostentando nomes totalmente impronunciáveis (é preciso ser-se polaco para se conseguir ler coisas como Iwaszkiwicz). Este livro tem o detalhe de ser uma tradução de José Saramago. Edição da Estampa, 394 páginas (1977)
- Lençol de Sonhos, de João Paulo Silva, foi o vencedor do Prémio Revelação Manuel Teixeira Gomes de 2001. Edição das Edições Colibri e da Câmara Municipal de Portimão, 44 páginas (2002)
- Contos Polacos é uma antologia do conto polaco do século XX que contém 22 contos (ou fragmentos) de outros tantos autores, alguns deles ostentando nomes totalmente impronunciáveis (é preciso ser-se polaco para se conseguir ler coisas como Iwaszkiwicz). Este livro tem o detalhe de ser uma tradução de José Saramago. Edição da Estampa, 394 páginas (1977)
Spamesia (246)
Ontem, segunda-feira, chegaram-me 58 spams, alguns dos quais com títulos apetitosos. Escolhi um simples, "concrete", e escrevi um spamema pequenino:
Betão
Um dia
na prisão
de betão
vi nascer
uma erva
Uma erva
daninha
que alegrou
toda a rua:
era coisa
que vivia
Betão
Um dia
na prisão
de betão
vi nascer
uma erva
Uma erva
daninha
que alegrou
toda a rua:
era coisa
que vivia
Él es un autor traducido!
Sim, a FC&F portuguesa tem tido umas aparições lá por fora ultimamente. Uns publicam em Inglaterra, outros nos States via Fantastic Metropolis, o João Barreiros em França... e o Luís Filipe Silva em Espanha.
Por cá é que ninguém nos dá valor. Ah, paíszinho dum raio!...
Por cá é que ninguém nos dá valor. Ah, paíszinho dum raio!...
segunda-feira, 5 de janeiro de 2004
I'm a translated author!
Bem, já sou um autor traduzido há algum tempo, mas só agora é que posso gabar-me disso. Explicando:
A revista Nemonymous é uma revista inglesa editada por D. F. Lewis (há uma bibliografia bastante incompleta aqui e outra mais completa, pelo menos no que diz respeito a livros, aqui), que publica contos fantásticos que vão de uma ficção científica mais experimental ao surrealismo, passando pelo horror e por aquilo a que se tem vindo a chamar "weird fiction". Mas tem a característica adicional de os publicar anonimamente, sendo os nomes dos autores desvendados em papel no número seguinte da revista, e electronicamente em alguns fóruns, como o Nemonymous ou o Veils & Piques, alguns meses antes da "denemonização" em papel.
Ora, em fins de Janeiro de 2003 eu tive a alegria de ver um conto meu, traduzido pelo Luís Rodrigues, ser aceite pela revista, ultrapassando uma concorrência que foi de largas centenas de outros contos. O conto saiu na primavera de 2003, no número 3 da revista, e pagaram-me por ele, o que é mais do que posso dizer das vezes que publiquei coisas em Portugal. Até hoje só me pagaram na Inglaterra e no Brasil. A alegria tornou-se maior ao saber que aquele foi o primeiro conto traduzido a sair na Nemo, e foi-se tornando ainda maior ao não receber nenhuma crítica negativa. O pior que li especificamente sobre The Place Where Lost Things Go foi que era "merely good". Sem que alguém soubesse de quem era o conto, claro.
Ontem foi revelado o mistério (e as revelações dos outros autores ainda prosseguem, com o Des Lewis a gerir a expectativa e a manter o suspense ao longo de umas duas semanas), e hoje já posso dizer ao mundo que sou um autor traduzido e publicado profissionalmente lá fora.
Estou todo vaidoso, pois claro!...
A revista Nemonymous é uma revista inglesa editada por D. F. Lewis (há uma bibliografia bastante incompleta aqui e outra mais completa, pelo menos no que diz respeito a livros, aqui), que publica contos fantásticos que vão de uma ficção científica mais experimental ao surrealismo, passando pelo horror e por aquilo a que se tem vindo a chamar "weird fiction". Mas tem a característica adicional de os publicar anonimamente, sendo os nomes dos autores desvendados em papel no número seguinte da revista, e electronicamente em alguns fóruns, como o Nemonymous ou o Veils & Piques, alguns meses antes da "denemonização" em papel.
Ora, em fins de Janeiro de 2003 eu tive a alegria de ver um conto meu, traduzido pelo Luís Rodrigues, ser aceite pela revista, ultrapassando uma concorrência que foi de largas centenas de outros contos. O conto saiu na primavera de 2003, no número 3 da revista, e pagaram-me por ele, o que é mais do que posso dizer das vezes que publiquei coisas em Portugal. Até hoje só me pagaram na Inglaterra e no Brasil. A alegria tornou-se maior ao saber que aquele foi o primeiro conto traduzido a sair na Nemo, e foi-se tornando ainda maior ao não receber nenhuma crítica negativa. O pior que li especificamente sobre The Place Where Lost Things Go foi que era "merely good". Sem que alguém soubesse de quem era o conto, claro.
Ontem foi revelado o mistério (e as revelações dos outros autores ainda prosseguem, com o Des Lewis a gerir a expectativa e a manter o suspense ao longo de umas duas semanas), e hoje já posso dizer ao mundo que sou um autor traduzido e publicado profissionalmente lá fora.
Estou todo vaidoso, pois claro!...
Spamesia (245)
No domingo houve 61 spams (incluindo demasiados sem um subject-line. Estes spammers são mesmo más pessoas), e eu escolhi um de título "colonist" para escrever um spamema de FC baseado em acontecimentos recentes:
Colono
O colono sai da cúpula ao nascer do sol
e sente-se leve
com a leveza de todas as manhãs
ao longe um exército de montanhas
encerra o horizonte
num mar de seixos vermelhos
O colono respira fundo
enchendo as narinas de cheiro a filtros
e a reciclagem
depois olha em volta
tentando localizar as vinte e três máquinas
que passaram a noite andando por ali
e agora devem estar paradas
ronronando
enchendo as baterias de luz do sol
concentrada em químicos
O colono, por fim, prende os olhos no velho robô
que nunca chegou a funcionar
um relógio de bolso de gigantes
chamuscado
amolgado
desgastado por cem anos de ventanias
e só parcialmente aberto
O colono dirige-se para a máquina quebrada
vinda de um tempo que começa a entrar
no domínio da lenda
uma máquina destinada a procurar sinais de vida
vinda de um lugar cheio de sinais de vida
O colono segura nas mãos
um colector de amostras vazio
ao chegar ao destino, ajoelha-se no pó vermelho
e com uma espátula raspa alguns dos filamentos brancos
que cresceram em torno da máquina terrestre
recobrindo-a de uma rede fina como filigrana
e penetrando em todos os seus orifícios
como qualquer ser curioso
em busca de segredos
Colono
O colono sai da cúpula ao nascer do sol
e sente-se leve
com a leveza de todas as manhãs
ao longe um exército de montanhas
encerra o horizonte
num mar de seixos vermelhos
O colono respira fundo
enchendo as narinas de cheiro a filtros
e a reciclagem
depois olha em volta
tentando localizar as vinte e três máquinas
que passaram a noite andando por ali
e agora devem estar paradas
ronronando
enchendo as baterias de luz do sol
concentrada em químicos
O colono, por fim, prende os olhos no velho robô
que nunca chegou a funcionar
um relógio de bolso de gigantes
chamuscado
amolgado
desgastado por cem anos de ventanias
e só parcialmente aberto
O colono dirige-se para a máquina quebrada
vinda de um tempo que começa a entrar
no domínio da lenda
uma máquina destinada a procurar sinais de vida
vinda de um lugar cheio de sinais de vida
O colono segura nas mãos
um colector de amostras vazio
ao chegar ao destino, ajoelha-se no pó vermelho
e com uma espátula raspa alguns dos filamentos brancos
que cresceram em torno da máquina terrestre
recobrindo-a de uma rede fina como filigrana
e penetrando em todos os seus orifícios
como qualquer ser curioso
em busca de segredos
domingo, 4 de janeiro de 2004
Spamesia (244)
Sábado foi dia escasso (só 47 spams), mas houve na mesma títulos interessantes. Decidi-me por um "Re: Your Inheritance" e escrevi uma coisinha curta:
A sua herança
A sua herança
é a esperança
trate-a bem
Porque se trata
de um bem fragil
e pode bem acontecer
que quando dela precisar
já não a tem
A sua herança
A sua herança
é a esperança
trate-a bem
Porque se trata
de um bem fragil
e pode bem acontecer
que quando dela precisar
já não a tem
sábado, 3 de janeiro de 2004
Historinhas Ene VII
O sétimo dos desafios do Luís foi pegar no resultado do sexto e esticá-lo até às 100 palavras. Ora, como fiz o sexto numa frase só, também resolvi fazer assim o sétimo:
As palavras mais indesejadas II
As palavras mais indesejadas são aquelas que abrem buracos na boca do estômago como se fossem brocas feitas ondas concêntricas de som e de raiva, ou tristeza, ou desânimo ou qualquer outro sentido que dos sentidos cruzados da vida retira apenas escolhos, ou recifes, postos ali de propósito por quem nos atira à cara as palavras indesejadas para que nós naufraguemos ao chocar com eles, feitos velhos transatlânticos ferrujentos com um encontro marcado com a morte nas profundezas geladas do Atlântico, ou do Pacífico, ou de outro mar qualquer que até pode ser apenas o mar do nosso próprio sangue.
E pronto. Ainda houve mais uns jogos lá pelo Ene Coisas, alguns deles "extremamente elaborados" (lipogramas e coisas do género), mas nesses já não entrei. Acho que alguns limites estimulam a criatividade, mas quando são demasiados inibem-na por completo.
As palavras mais indesejadas II
As palavras mais indesejadas são aquelas que abrem buracos na boca do estômago como se fossem brocas feitas ondas concêntricas de som e de raiva, ou tristeza, ou desânimo ou qualquer outro sentido que dos sentidos cruzados da vida retira apenas escolhos, ou recifes, postos ali de propósito por quem nos atira à cara as palavras indesejadas para que nós naufraguemos ao chocar com eles, feitos velhos transatlânticos ferrujentos com um encontro marcado com a morte nas profundezas geladas do Atlântico, ou do Pacífico, ou de outro mar qualquer que até pode ser apenas o mar do nosso próprio sangue.
E pronto. Ainda houve mais uns jogos lá pelo Ene Coisas, alguns deles "extremamente elaborados" (lipogramas e coisas do género), mas nesses já não entrei. Acho que alguns limites estimulam a criatividade, mas quando são demasiados inibem-na por completo.
Historinhas Ene VI
O sexto desafio do Luís foi o inverso do quinto: construir um texto intitulado "as palavras mais indesejadas", incluindo esse título no corpo do texto, e com o comprimeiro de 50 palavras. E eu, que gosto de tornar mais difíceis as coisas difíceis, resolvi fazê-lo numa frase só:
As palavras mais indesejadas
As palavras mais indesejadas são aquelas que abrem buracos na boca do estômago como se fossem brocas feitas ondas concêntricas de som e de raiva, ou tristeza, ou qualquer outro sentido que da vida retira escolhos, ou recifes, postos ali de propósito para que nós naufraguemos ao chocar com eles.
As palavras mais indesejadas
As palavras mais indesejadas são aquelas que abrem buracos na boca do estômago como se fossem brocas feitas ondas concêntricas de som e de raiva, ou tristeza, ou qualquer outro sentido que da vida retira escolhos, ou recifes, postos ali de propósito para que nós naufraguemos ao chocar com eles.
Spamesia (243)
Na sexta-feira, o número de mensagens que me chegou voltou a andar pela meia centena, o que é pouco para o que tem sido hábito. Desta vez, no entanto, até houve vários títulos interessantes, que é o que importa. Peguei num que anunciava "Ghetto Mania Booty" e escrevi:
O frenesi de saque no gueto
A cidade é como um lago de almas plácidas
sobrevoado por ventos e rumores de asas
um lago que ressoa em rumores contínuos
produzidos pelos membros da sua ecologia
completa com produtores, predadores e presas
Como um lago, a cidade espalha-se pelas
margens e assalta-as em ondas de detritos
são os lugares para onde são empurrados
todos os que realmente são inadaptados
gravetos, folhas mortas, sacos de plástico
Estes guetos enchem-se de lama e de lixo
ao ritmo das ondas que lhes chegam da cidade
que geralmente são plácidas e discretas
o lago não gosta de grande extravagância
e prefere virar costas àquilo que rejeita
com um desprezo disfarçado de elegância
mas por vezes quando algo estala nas entranhas
e do fundo do lago se levantam remoinhos
o vento sopra mais forte e as ondas
invadem as margens com violência incontida
Então, é ver o gueto a ferro e a fogo
submerso numa trovoada de gritos e explosões
e todos os funcionários públicos esquecidos
dos óculos em casa e transformados em bestas
de tronco nu e braços repletos de coisas roubadas
O frenesi de saque no gueto
A cidade é como um lago de almas plácidas
sobrevoado por ventos e rumores de asas
um lago que ressoa em rumores contínuos
produzidos pelos membros da sua ecologia
completa com produtores, predadores e presas
Como um lago, a cidade espalha-se pelas
margens e assalta-as em ondas de detritos
são os lugares para onde são empurrados
todos os que realmente são inadaptados
gravetos, folhas mortas, sacos de plástico
Estes guetos enchem-se de lama e de lixo
ao ritmo das ondas que lhes chegam da cidade
que geralmente são plácidas e discretas
o lago não gosta de grande extravagância
e prefere virar costas àquilo que rejeita
com um desprezo disfarçado de elegância
mas por vezes quando algo estala nas entranhas
e do fundo do lago se levantam remoinhos
o vento sopra mais forte e as ondas
invadem as margens com violência incontida
Então, é ver o gueto a ferro e a fogo
submerso numa trovoada de gritos e explosões
e todos os funcionários públicos esquecidos
dos óculos em casa e transformados em bestas
de tronco nu e braços repletos de coisas roubadas
<-------- Os livros que estão ali
Pois. Não me apetece pegar no Aniceto, não sei porquê. De modo que, quando acabei de ler Bejaia (um conto bastante interessante e muito bem escrito — gostei), peguei em:
- A Fonte de Mafamede, de Fernando Évora, foi mais uma menção honrosa do Prémio Revelação Manuel Teixeira Gomes de 2001. Edição da Colibri e da Câmara Municipal de Portimão, 28 páginas (2002)
- A Fonte de Mafamede, de Fernando Évora, foi mais uma menção honrosa do Prémio Revelação Manuel Teixeira Gomes de 2001. Edição da Colibri e da Câmara Municipal de Portimão, 28 páginas (2002)
sexta-feira, 2 de janeiro de 2004
Um segredo. Não digam a ninguém
O mais porreiro de encher o template de CSS é que ele (o template) fica bem mais reduzido e manejável. Ah, pois! E também bem mais fácil de alterar.
Historinhas Ene V
O quinto desafio do Luís foi pegar no resultado do quarto e reduzi-lo a 50 palavras. O meu resultado foi:
As mais belas palavras II
José Castro era um tecnófilo, daqueles que passam a vida à procura dos últimos modelos de todas as coisas. Mas um dia, quando o essencial se lhe esquivou, reparou que a tecnologia se tinha transformado num apêndice inerte. Então, José Castro foi dar um longo passeio à luz da Lua.
As mais belas palavras II
José Castro era um tecnófilo, daqueles que passam a vida à procura dos últimos modelos de todas as coisas. Mas um dia, quando o essencial se lhe esquivou, reparou que a tecnologia se tinha transformado num apêndice inerte. Então, José Castro foi dar um longo passeio à luz da Lua.
Historinhas Ene IV
O quarto desafio proposto pelo Luís foi escrever um texto com o título As Mais Belas Palavras, contendo a mesma expressão, e com um comprimento de 100 palavras exactas. E eu escrevi um mini-conto de FC:
As mais belas palavras
José Castro suava. Tinha nas mãos um blogotech último modelo, flexível, cheio de extras, um autêntico formula um do papel electrónico, o produto dos sonhos de qualquer escritor, que permitia conjugar as facilidades de edição do computador com a versatilidade do papel. Pelo menos era isso que dizia a publicidade, e José Castro nunca tinha tido motivos para duvidar dela, pelo menos desde que a Lei da Honestidade Comercial tinha sido aprovada pelo parlamento. Mas daquela vez...
É que desde que comprara o aparelho só tinha conseguido escrever um título: “As mais belas palavras”. Para além disso havia apenas branco.
As mais belas palavras
José Castro suava. Tinha nas mãos um blogotech último modelo, flexível, cheio de extras, um autêntico formula um do papel electrónico, o produto dos sonhos de qualquer escritor, que permitia conjugar as facilidades de edição do computador com a versatilidade do papel. Pelo menos era isso que dizia a publicidade, e José Castro nunca tinha tido motivos para duvidar dela, pelo menos desde que a Lei da Honestidade Comercial tinha sido aprovada pelo parlamento. Mas daquela vez...
É que desde que comprara o aparelho só tinha conseguido escrever um título: “As mais belas palavras”. Para além disso havia apenas branco.
Spamesia (242)
Ontem, quinta-feira, dia inaugural de 2004, chegou-me relativamente pouco spam: 54 mensagens. Houve alguns títulos interessantes, incluindo um ("the simple lives of rick and paris") que dava um excelente título para um conto, mas para o spamema do dia peguei em "great feeling":
Grande sensação
Não sei o que se sente
ao escorregar numa vertente
cheia de neve, calhaus ou pó
mas acho que quando tudo pára
e se consegue de novo ouvir o vento
deve sentir-se uma grande sensação
como a de sair vivo
de outro qualquer turbilhão
Deve ser por isso que todos
os povos celebram
quando as guerras passam
Grande sensação
Não sei o que se sente
ao escorregar numa vertente
cheia de neve, calhaus ou pó
mas acho que quando tudo pára
e se consegue de novo ouvir o vento
deve sentir-se uma grande sensação
como a de sair vivo
de outro qualquer turbilhão
Deve ser por isso que todos
os povos celebram
quando as guerras passam
quinta-feira, 1 de janeiro de 2004
Spamesia (241)
E com o spam do último dia do ano se faz o spamema do primeiro dia do novo ano. Foram 67, os spams de 31 de Dezembro, e um trazia um título bastante apropriado a um spamema de renascimento: "It won't ever die..................... h". Há aqui algum lixo, é certo, mas para isso existem caixotes do lixo, e se olharem para o meu lá irão encontrar uma série de pontos e um agá. O resto está aqui:
Nunca morrerá
Dizem que não há nada a fazer
que tudo está traçado
que o futuro é questão de detalhe
que está perfeitamente encaixado
no buraco que foi para ele escavado
pelo passado
que não é possível melhorá-lo
apenas, talvez
— e só talvez —
atenuá-lo
Dizem que só nos resta morrer
hedonisticamente
com um sorriso permanente nos lábios
feito de papel de cenário
Mas por mais que se tente
pôr em prática o sonho
de um futuro diferente
e por mais que se falhe
a verdade é que o sonho é eterno
e nunca, enquanto houver olhos
capazes de sonhá-lo
nunca morrerá
Nunca morrerá
Dizem que não há nada a fazer
que tudo está traçado
que o futuro é questão de detalhe
que está perfeitamente encaixado
no buraco que foi para ele escavado
pelo passado
que não é possível melhorá-lo
apenas, talvez
— e só talvez —
atenuá-lo
Dizem que só nos resta morrer
hedonisticamente
com um sorriso permanente nos lábios
feito de papel de cenário
Mas por mais que se tente
pôr em prática o sonho
de um futuro diferente
e por mais que se falhe
a verdade é que o sonho é eterno
e nunca, enquanto houver olhos
capazes de sonhá-lo
nunca morrerá
<-------- Os livros que estão ali
Só para começar o ano a falar de livros, que é a melhor maneira que conheço de começar um ano (bate as passas com uma pintarola que não vos digo nada), deixo a notícia que houve alterações nos livros ali do lado no primeiro dia do ano: despachei o Um Destes Dias (muito fraquinho) e, em vez de me pôr a ler o livro do Aniceto, peguei em:
- Bejaia, de Miguel Ribeiro de Almeida, foi uma das menções honrosas do Prémio Manuel Teixeira Gomes de 2001, tal como o meu Sally (e o autor é precisamente da minha idade). Edição das Edições Colibri e da Câmara Municipal de Portimão, 21 páginas (2002).
- Bejaia, de Miguel Ribeiro de Almeida, foi uma das menções honrosas do Prémio Manuel Teixeira Gomes de 2001, tal como o meu Sally (e o autor é precisamente da minha idade). Edição das Edições Colibri e da Câmara Municipal de Portimão, 21 páginas (2002).
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