sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Lido: A Fazenda-Relógio

A Fazenda-Relógio (bib.) é um conto de Octavio Aragão no qual o steampunk toma um caminho muito interessante: nas plantações do interior cafeeiro do Brasil, a economia baseada no trabalho escravo é abalada pela introdução de autómatos a vapor e montados em carris. Com uma premissa tão interessante, achei pena que o conto fosse tão curto. Com toda a franqueza, o cenário e até mesmo o enredo propriamente dito (a revolta dos antigos escravos, de súbito numa situação em que não têm donos mas tampouco têm meios de subsistência, as reações da escrava de casa grande e dos fazendeiros, etc., etc.), mereciam uma concretização mais extensa, no mínimo uma noveleta longa, mas provavelmente até um romance. Porque há aqui potencial para uma obra maior, que o conto não é. Não é um mau conto, entenda-se; é até um conto de qualidade acima da média, embora não muito. Mas o material de base permitia criar algo muito melhor. O conto é apressado e, em muitos aspetos, superficial, e o autor vê-se nele obrigado a despejar informação que numa obra mais extensa podia ir sendo introduzida aos poucos, ao mesmo tempo que tudo quanto no conto é superficial poderia ser aprofundado e melhor explorado. Numa frase, há demasiado enredo e ambientação para uma obra tão curta. Como consequência, ao terminar a leitura fiquei com a sensação de ter tomado contacto com uma oportunidade mal aproveitada. Mas lá está: não seria o primeiro nem o último conto a ver-se expandido para uma obra mais ampla. Espero sinceramente que isso aconteça. A ideia merece-o.

2 comentários:

  1. Calma que há tempo para quase tudo na vida. :-)

    No momento em que estou, diversos de meus trablahos estão sendo revisitados de uma maneira ou de outra. A Fazenda-Relógio pode bem ser um deles.

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