No domingo (passado), houve um autêntico estoiro: 95 spams. Sim, leram bem, faltaram apenas 5 para os 100. Mais um recorde, claro, acompanhado também pelo recorde da clareza: então não é que um desses 95 spams trazia o título de... "[spam]"?... Juro. É o primeiro spam que se auto-anuncia dessa forma tão clara. E claro que esse título não podia ficar por utilizar!...
Spam
Ligo o computador e penso em ti
porque aqui a ausência de amor
sobrevive entre baratas e formigas
e os restos do jantar de há dois dias
Aponto o cursor, pensando em ti,
para o ícone que cola o teu sorriso
ao papel de parede — uma parede
onde o tijolo espreita, de lado,
por entre restos de tinta em ruínas —
e faço duplo-click sobre os teus lábios
(a ambiguidade não foi propositada
mas já que surgiu do nada sem ser chamada
façamos dela mais um pouco do cimento
que faz um todo destas palavras desgarradas)
O programa abre, e introduzo as senhas
batendo no teclado com uma espécie de sanha
uma impaciência que roça a indecência
Fico à espera.
O indicador de progresso dá-me conta da chegada
de cada um dos pacotes de palavras
que me ligam ao vasto mundo lá de fora
Fico à espera que um deles (ou dois, ou três)
transporte até mim a tua voz silenciosa
Mas quando a transferência chega ao fim
e eu me endireito na cadeira, com a antecipação
a fazer-me cócegas nas pontas dos dedos
descubro que, afinal, tudo aquilo não passa
de mais uma cascata diária de spam.
Um dia pegarei no computador e atirá-lo-ei pela janela
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