sábado, 25 de setembro de 2010

Lido: A Noiva Abandonada

A Noiva Abandonada (bib.) é uma noveleta de António de Macedo com um complicado enredo sobre uma noiva abandonada no altar, uma velha monja morta muito parecida com ela e cujo espírito pretende ocupar-lhe o corpo, um par de estudantes de antropologia amigos do noivo, o próprio noivo, o diabo a sete. O esteio da história é a tentativa da monja para se apoderar do corpo da noiva, e as investigações e deduções herméticas (claro) dos estudantes. Não gostei. Diálogos forçados são algo que cada vez mais me desliga das ficções que vou lendo, em especial quando os ambientes são contemporâneos, e aqui o ambiente é contemporâneo e muitos dos diálogos (não todos, curiosamente) são bastante forçados. Ninguém diz coisas como: "O ritual católico do matrimónio, tal como é praticado em Portugal, não inclui essa sacramental pergunta!..." Ninguém fala assim, a não ser que esteja a gozar com a má literatura. Outro problema é o caráter aleatório de toda a investigação. As ideias vão caindo frequentemente do nada à medida que vão sendo necessárias para fazer avançar o argumento. E ninguém erra desde o erro inicial que desencadeia a história, ninguém se engana, no máximo há uns atrasos sem consequências. A acrescer a isso, como se não bastasse, há mais alguns detalhes no conto que são tremendas machadadas na minha capacidade de suspender a descrença e apreciar a literatura. Note-se que ao contrário dos diálogos que, esses sim, são um problema bastante objetivo, isto das machadadas na minha suspensão de descrença não quer dizer que o conto seja mau; afinal, trata-se dum conto de horror (embora não me assuste nada). É suposto que haja detalhes inverosímeis, fantásticos, irreais, mágicos, macabros, o pacote completo. Mas para mim Macedo exagera (o que só raramente não acontece) e isso reduz a zero a minha capacidade para gostar desta noveleta.

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