O Lagarto do Âmbar (bib.), de Maria Estela Guedes, é uma longa noveleta, salpicada de brasileirismos, sobre um aspirador que aspira a ser homem. Porquê? Porque se apaixona, simples como isso.
A história tem toques de ficção científica. O aspirador começa por ser apresentado como uma inteligência artificial, movida a software, e o ambiente à primeira vista é tecnológico. Mas não passam de toques. A metamorfose, que realmente acontece, é pura fantasia com o seu quê de kafkiano e, quando se remove a capa tecnológica que o reveste, o ambiente é mais surrealista que outra coisa. É verdade que nada disso seria óbice a estar-se perante uma boa história. Mas o texto é um longo monólogo interior e umbiguista, cheio de sentimentos inverosímeis, dúvidas, apelos, ânsias, e tudo, e mais ainda que, se seria fácil de aguentar num conto curto, numa noveleta quase a tornar-se novela (são 120 páginas mas os 79 capítulos são quase todos tão curtos que a densidade de texto acaba por ser muito baixa) torna-se insuportável. Pelo menos para este leitor que aqui escreve. Achei este livro muito, muito chato. Ainda se houvesse um pouco mais de história, se acontecesse alguma coisa. Mas não. Tirando a metamorfose, a imobilidade de tudo é total e absoluta. Se alguém quisesse passar esta história a algo de visual, bastariam duas fotografias: uma para antes da metamorfose, outra para depois. Para contar o enredo basta uma frase. O resto é divagação. Muito, muito chata.
Vale como experimentalismo, suponho. Quem goste de coisas invulgares talvez encontre neste livro algum interesse. E quando aqui falo de invulgaridade refiro-me apenas à forma como o texto está construído, porque no que toca às ideias é tudo do mais banal possível. Talvez. Não sei. Enfim, é experimentarem. Pessoalmente, não gostei mesmo nada.
Este livro foi comprado.
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