Regresso à Cúpula da Pena (bib.), de José Rodrigues Miguéis, é uma daquelas histórias fantásticas que deixam o leitor quase até ao fim a coçar o couro cabeludo, tentando entender onde raio está ali o fantástico. A história, contada na primeira pessoa, centra-se no narrador, de regresso à pátria da juventude duas décadas depois de ter partido, confrontado com uma Lisboa (e arredores) simultaneamente familiar e estranha. E prossegue, em pleno realismo, com um súbito impulso para fazer uma viagem a Sintra, viagem essa que noutros tempos era para ele costumeira. Aí chegado, dá-lhe para subir ao zimbório do Palácio da Pena e daí ver a paisagem, o que faz, apesar das objeções do cicerone. E é então que aparece a estranheza no conto, embora ainda em tom realista. Uma luta entre ele e um desconhecido, empoleirados lá no alto? Ou apenas um sonho? O final revela a verdade. Subtilmente.
É um conto, parece-me, muito bom. Está tão bem escrito como seria de esperar, claro, mas além disso está também muito bem concebido e, embora um leitor experiente nestas coisas fantásticas acabe por adivinhar o que se passa alguns parágrafos antes da revelação final, esta funciona muito bem. Gostei bastante.
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