sexta-feira, 13 de abril de 2012

Lido: Ritinha

Ritinha (bib.) é um conto curto próximo do horror, de José de Lemos, contado na primeira pessoa por um jovem que se casa, mais por conveniência do que outra coisa, com uma conhecida de infância, filha do sócio do pai. A Ritinha, precisamente. Mas a Ritinha não é uma pessoa vulgar; é uma pessoa que se vai desfazendo em fantasma, que se vai tornando incorpórea, que vai perdendo os laços que prendem as pessoas vulgares ao mundo vulgar de todos os dias. E que, para grande horror do marido, tenta levá-lo consigo para onde quer que se situe o sítio extramaterial para o qual se retira. É um conto interessante, embora, aqui e ali, um pouco ridículo, que termina com um final em aberto inquietante... pelo menos para o protagonista.

O que achei mais curioso neste conto foi o que me pareceu entrever por trás: a velha irritação e resistência masculinas perante as tentativas mais ou menos denodadas que as mulheres que se cruzam connosco na vida têm tendência a desenvolver para mudarem quem somos, como agimos e como encaramos o mundo. O protagonista só quer continuar calmamente na sua, mas isso não o salva de ser atormentado por uma Ritinha cada vez mais alienada da realidade. O homem que nunca sentiu o mesmo que lhe atire a primeira pedra.

Apesar de não ter achado este conto nada de superlativo, gostei.

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