Antes, durante e depois da estreia da nova versão da série Cosmos, vi por todo o lado referências ao Carl Sagan em que se lhe chamava "o maior divulgador de ciência do século XX" ou variações desta ideia. E senti-me incomodado.
Em parte é compreensível. Carl Sagan é herói de muita gente. Para mim, até é mais do que herói: é um dos meus pais intelectuais. Sagan foi das raríssimas figuras públicas cujo falecimento me causou um desgosto profundo. Perdê-lo foi como perder alguém de família, e não há aqui o mínimo exagero. E, sim, considero-o um grande comunicador de ciência, responsável por uma série absolutamente central no que foi e talvez continue a ser a atitude de uma geração inteira para com a ciência e o universo. Ou pelo menos da parte dessa geração que aprendeu com ele a pensar.
Mas não foi o maior comunicador ou divulgador de ciência do século XX. Faz parte de um rarefeitíssimo Olimpo no qual se inserem também nomes como Jacques Cousteau ou Isaac Asimov, mas não consegue suplantar outro nome, o único de todos que continua vivo.
Falo, obviamente, de David Attenborough. Attenborough não tem rival. Pela longevidade da sua carreira, pelo seu estilo característico e inimitável (embora muitas vezes imitado — parece contraditório mas não é), pela impressionante qualidade da grande maioria dos projetos em que se envolve, sejam séries documentais, sejam livros, seja o que for. Pelo profissionalismo. Pois enquanto tanto Sagan como os outros tiveram carreiras de grande relevo noutras áreas, na ciência ou na literatura, Attenborough (quase) só fez divulgação de ciência. E isso, conjugado com o seu talento nato de comunicador, fez com que acabasse por fazê-la incomparavelmente bem.
Por isso me incomoda quando tentam pôr Sagan no seu lugar. Até porque não é, de todo, necessário. Sagan não necessita desse tipo de engrandecimento.
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