As Filhas do Defunto Coronel é uma noveleta de Katherine Mansfield de que, apesar de estar bem longe do meu ponto ómega literário, até gostei bastante. Principalmente por causa das bizarras e francamente perturbadoras misturas que contém, humor negro com ternura, insensibilidade com finíssima sensibilidade, classismo com irreverência.
Como o título indica, as protagonistas são duas solteironas, filhas de um coronel bastante estereotipado na sua severidade e na forma como coarta a vida das filhas. Até que morre. E é aí que o conto as vai encontrar, acompanhando-as nos dias seguintes, enquanto elas tentam perceber como vão ser as suas vidas agora que tudo mudou. Mas sem nunca pensarem propriamente nesses termos, pois ambas são retratadas como mulherzinhas limitadíssimas, daquelas senhoras de sociedade que nada sabem fazer, que nem de tomar decisões simples são capazes, o que é sublinhado pelo óbvio desprezo que a criada lhes devota. A qualidade do conto reside principalmente no modo tão indireto mas tão indubitável como tudo isto é transmitido a quem lê, em conversas entre as duas que quase têm mais significado por aquilo que não é dito do que pelas palavras realmente pronunciadas. Muito, muito bem feito. E eu, que não costumo gostar nada de histórias destas, rendi-me.
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