sábado, 24 de junho de 2017

Lido: Ficções

Contrariamente ao que muita gente parece pensar nos tempos que correm, os livros não se medem aos palmos. Um livro de 500  ou 800 páginas não é inerentemente melhor que um outro com 160. Ou 158. E se há livro que o demonstra na perfeição é este Ficções, de Jorge Luís Borges, com as suas 158 páginas (nesta edição).

Na verdade, podia até ir mais longe. É que este Ficções é composto por duas partes, a primeira das quais, intitulada O Jardim dos Caminhos que se Bifurcam, foi publicada independentemente em 1941, três anos antes do resto. E nesta edição não passa das 86 páginas. Uma coisinha estreitinha que nem às 100 páginas chega. E no entanto...

E no entanto é uma obra-prima. Uma obra-prima que contém alguns dos contos mais extraordinários alguma vez escritos em qualquer língua, verdadeiros prodígios conceptuais brilhantemente executados. Há aqui reflexões profundas e sofisticadas sobre a natureza do universo, há uma forma quase matemática de explorar a noção de infinito, os labirintos e também, no fundo, a condição humana, há histórias pseudofactuais (que raramente me agradam realmente... mas estamos aqui a falar de Borges) que são provavelmente o pináculo dessa forma de ficcionar o mundo, há metaliteratura, há ironia, há fantástico com fartura, há fantasia, há até tangentes próximas à ficção científica, há, enfim, uma quantidade quase absurda de conteúdo para tão poucas páginas.

E nas histórias da segunda parte, Artifícios, em geral um pouco menos boas que as da primeira, há mais um pouco de tudo isto. O resultado é um livro magnífico. Só poderia ser melhor se o nível da segunda parte fosse tão alto como o da primeira, mas mesmo não o sendo é simplesmente magnífico.

Eis o que achei de cada conto individualmente considerado:
Este livro veio da biblioteca dos meus pais, mas sei que foi comprado em conjunto com o Público, como todos os desta coleção.

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