Com Domingos Monteiro regressamos aos contos fantásticos, neste caso de fundo cristão, o que de resto já vem sugerido por um título como Ressurreição. A ideia que deu origem ao conto parece-me muito clara: o que aconteceria se Cristo voltasse à Terra nos dias de hoje (ou pelo menos nos dias em que Monteiro escreveu esta história, publicada em 1952)? Para a explorar, Monteiro arranja um artista que procura um modelo para um quadro precisamente sobre esse tema e para isso faz publicar um anúncio... que recebe resposta do próprio Jesus Cristo. E segue-se um conto muito baseado em diálogos que nem sempre são particularmente credíveis e que padece do mesmo defeito que ataca a generalidade dos contos piedosos: o pendor dos crentes para tratar figuras religiosas de forma unidimensional (sem pecado, sem defeitos, milagreiras) torna as histórias que escrevem muito previsíveis. Neste caso, o ceticismo do pintor tornou imediatamente óbvio que no fim ele se converteria à crença e à fé, e é precisamente isso que o conto entrega. E o interesse pela leitura sofre. Consequentemente, este talvez seja o conto mais fraco do início desta antologia.
Contos anteriores deste livro:
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