A América atacou o Afeganistão, a Somália, o Sudão, o Iraque, apoia regimes ditatoriais nos países árabes, estacionou tropas em território muçulmano. Há o direito de retaliar. Al-Qaeda atacou a América. É a acção e a reacção. Vocês são terroristas, nós somos terroristas. O terrorismo é a forma de agir do século XXI. [...] É legítimo.
As pistas estão todas aqui. Para milhões de muçulmanos, nascidos e educados em famílias que contam à lareira as histórias das humilhações coloniais pelos "infiéis" cristãos, esta lógica é imbatível. E quando essas mesmas pessoas assistem a esses mesmos estados a agir como grupos terroristas e a apoiar declarada ou veladamente o maior de todos esses grupos terroristas, Israel, a lógica transforma-se em certeza. Para milhões de muçulmanos não há qualquer diferença entre grupos como a Al Qaeda e os Estados Unidos, Israel ou, até certo ponto, a Europa a não ser que a Al Qaeda é deles e os "defende". A cada atentado israelita ou a cada bombardeamento americano mais se solidifica essa certeza. E mais cresce o apelo do tipo de lógica do Mohammed. A cada dia a mais de ocupação no Iraque ou na Palestina, mais força têm os movimentos de fascismo islâmico e mais cresce o prestígio e o poder de grupos como a Al Qaeda ou o Hamas.
Tudo acaba por ser uma questão de legitimidade. A violência anti-islâmica, e especialmente a violência anti-islâmica terrorista, exercida por estados cuja legitimidade está reconhecida pelas leis internacionais, oferece de bandeja aos movimentos terroristas islâmicos uma legitimidade que eles de outra forma nunca teriam. E é por isso que quando Mohammed diz:
Apoiar George Bush é uma forma de terrorismo. Apoiar a Al-Qaeda também.
Tem toda a razão.
Mas perde a razão logo na frase seguinte, quando diz:
Toda a gente está envolvida, acredite.
Isto, felizmente, é mentira. Não só porque milhões de ocidentais não apoiam os "seus" terroristas, como porque milhões de muçulmanos também não apoiam os "seus".
A única forma de travar o fascismo islâmico é dando força ao anti-fascismo islâmico. E a única forma de dar força ao anti-fascismo islâmico é através do respeito absoluto e intransigente pela legalidade, sejam as legalidades internas de cada estado, seja a legalidade internacional, através do isolamento e perseguição activa dos "nossos" terroristas e através do diálogo com os líderes muçulmanos moderados. E é acabando duma vez por todas com as ocupações de terra árabe por estrangeiros.
De outra forma, enquanto os fascismos encapuçados se mantiverem fortes no ocidente e em Israel e continuar a violência quotidiana sobre os muçulmanos, o fascismo muçulmano não parará de crescer.
O futuro, se existir, só poderá ser criado pela aliança anti-fascista do novo século: todos aqueles que recusam ao mesmo tempo Bush, Bin Laden, Sharon e quem quer que seja agora o líder do Hamas. E nisto a Europa tem todas as condições para adoptar um papel de liderança, embora seja necessário muito trabalho e provavelmente bastante mais sangue para construir as pontes que é necessário construir.
A Espanha, aliás, já começou. Que se sigam mais sinais tão claros como os que deu Zapatero.
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