terça-feira, 6 de abril de 2004

Spamesia (333)

Na quinta-feira, pelo contrário, o mínimo foi total porque o endereço que mais spam me fornece esteve avariado todo o dia: 31 mensagens, com pouquíssimos títulos de jeito, ainda que ligeiro. À falta de coisa melhor, peguei no "Re:Free porn". E escrevi:

Pornografia livre

Recebi
um folheto virtual que anunciava virtualmente pornografia livre, presumo que também ela virtual
não o abri
imagino mulheres semi-nuas de meia-idade com seios gigantescos meio-cheios de silicone
e os cabelos oxigenados mostrando raízes ruivo-escuro
e os lábios esborratados em nódoas de bâton berrante
o contrário - oh sim - verdadeiramente o contrário do erotismo
pornografia pura, nua e de rua
(para sempre tua, sussurra a actriz entre gemidos
enquanto se masturba, sozinha, com o seu dildo da cor do soalho da casa da minha avó)

Desligo o êcran mental, fecho as portas à enxurrada de imagens que caem no poço vazio da minha cabeça
chamando-se umas às outras como adolescentes aos risinhos enquanto falam de rapazes

Depois, saio de casa para encarar as estrelas e um fio de Lua a ocidente e respirar
a noite

Porra, que a noite parece limpa, como se tivesse sido lavada com sabão azul
mesmo apesar de todas as beatas e de todos os talões de multibanco amarfanhados!
Mas há qualquer coisa nos latidos que se sobrepõem ao ruído do trânsito, à distância
que me faz passar pela cabeça uma imagem fugaz dum par de seios a rebentar de silicone
por isso ando, quase corro, transportando gorduras com falta de repouso
até dar de caras com a porta recuada duma farmácia
cuja montra iluminada lhe acentua o aspecto de abandono
que foi escolhida por um homem que ressona enrolado sobre a pedra

Ah, penso então, aqui está enfim o que o folheto prometia
pornografia livre
só que esta bem real

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