sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Lido: O Deserto

Mais um conto de Bradbury, este O Deserto (bib.) é tão 1950 que hoje em dia, nesta época pós-emancipação em que vivemos, pode parecer algo ridículo. Ou algo mais que algo. Mostra-nos o momento em que uma candidata a noiva de um dos colonos de Marte decide, entre hesitações, partir atrás do seu homem para um mundo novo, deixando o seu para trás, e faz um paralelismo com o que acontecia na época da conquista do Oeste americano. É das tais histórias de FC que dizem ao leitor atual mais sobre a sociedade da época em que foram escritas do que sobre qualquer outra coisa. O Bradbury de 1950 partia do princípio de que os conquistadores de Marte seriam inevitavelmente homens, e que as mulheres ficariam para trás, de olhos em alvo e coraçõezinhos apertados de medo pela segurança e sobrevivência dos seus bravos machos alfa. Hoje, que temos a presença corriqueira de mulheres no espaço, isto parece um anacronismo sem pés nem cabeça, e esse facto poderia ter assassinado o conto sem remissão, até porque para lá do conflito da candidata a mulher de colono o seu enredo pouco mais nos oferece.

Ah, mas está escrito com tamanha magnificência que tudo o mais empalidece em comparação. É que o Bradbury de 1950, por misógino e conservador que se mostrasse, era acima de tudo um escritor e peras.

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