terça-feira, 17 de agosto de 2010

Puras Coincidências em outubro pela Antagonista

Se perguntarem a muitos fãs de FC americanos já com uma certa idade o que foi que os fisgou para o género, muitos certamente incluirão na lista uma coisa chamada Ace Doubles. E falarão no fascínio que era comprarem um livro (normalmente romances; nessa época os romances não costumavam ser as enormidades que são hoje) de um escritor que já conheciam e apreciavam e depois irem descobrir o autor que frequentemente lhes era desconhecido e ocupava o outro lado do mesmo livro.

Sim, isso mesmo. O outro lado do mesmo livro.

As obras eram impressas costas com costas. Virava-se o livro de um lado, e tinha-se a capa de uma das obras e essa obra por trás dela; virava-se o livro de pernas para o ar (e do outro lado, claro), e eis que ali estava a capa da outra obra com a respetiva por baixo. Nenhuma das duas tinha preponderância, ou só a teria consoante o modo que cada um escolhia para pegar no livro. Era como ter-se dois livros num só.

Em Portugal, este tipo de edição é bastante raro. Certamente haverá mais, mas os livros que eu conheço contam-se pelos dedos duma mão. O número 200 da coleção Vampiro, por exemplo, que é também um número especial da coleção Argonauta (com o romance Estação de Trânsito, de Simak; excelente, por sinal). As antologias bilingues da Simetria, que tinham o livro em português de um lado e o mesmo livro em inglês do outro.

E agora os livros da coleção МИР (lê-se "mir").

Quando ouvi falar da ideia achei-a ótima, e mais ainda porque, num momento em que o povo leitor anda todo embrenhado em romances, a Antagonista tinha a coragem e a originalidade de querer apostar em ficção mais curta. Desde o princípio que o âmbito da coleção era a novela. Duas novelas costas contra costas, dando livros com cerca de 200 páginas. E mais: desde o princípio que a ideia era emparelhar um nome sonante da FC e horror internacionais com um nome menos sonante mas nacional, o que também achei excelente ideia.

A juntar a isto, há um nome de coleção que me é caro (mir, em russo, significa "mundo" e "paz", e não só faz referência direta à extremamente bem sucedida estação espacial que esteve em órbita entre 1986 e 2001 como tem um significado muito especial para vários anos da minha vida. Digamos que não é por acaso que eu sei o que significa a palavra "mir"). Tudo somado, fiquei logo cheio de vontade de saltar para o barco.

Mas eles queriam novelas de FC ou horror. E eu, na altura, nunca tinha escrito uma novela. Entretanto escrevi, mas é de história alternativa retrofuturista, não propriamente aquilo que a МИР queria (sim, é a que vai sair no Brasil na antologia Vaporpunk, ainda este mês). Felizmente, também aceitam contos. E eu juntei quatro e enviei-lhos.

O resultado chama-se Puras Coincidências e vai ser publicado em outubro. Quatro contos de FC (ou mais precisamente dois contos e duas noveletas), todos muito diferentes uns dos outros, alguns já publicados, outros ainda inéditos.

E vêm muito bem acompanhados! O meu partner in crime vai ser James Patrick Kelly que, tanto quanto eu saiba, só foi publicado por duas vezes entre nós mas lá fora é um autor do mais consagrado que há, presença assídua nas listas de nomeados para os prémios internacionais de FC. E é precisamente uma das histórias que o levou a marcar tal presença que vai estar de costas voltadas para as minhas: A Queimada, tradução de Burn, novela nomeada para o Hugo de 2006 e vencedora do Nebula de 2007 na respetiva categoria. Dificilmente podia esperar melhor companhia. Excelente!

Eu e o meu novo compincha James seremos o número 2 da coleção (ou pelo menos o segundo livro editado; confesso não saber ainda se a coleção é numerada), depois do primeiro ter juntado Carla Ribeiro e Mary Rosenblum.

Nota-se muito que estou em pulgas para ter o livrinho nas mãos?

Pois é.

E se por acaso ou coincidência houver mais pulgas do género aí por fora, já sabem: outubro.

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