segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Lido: Uma Nova História Universal da Infâmia

Uma Nova História Universal da Infâmia é uma muito borgesiana coletânea de Rhys Hughes que se subdivide em seis partes. Na primeira, homónima ao livro, contam-se histórias semi-ficcionadas sobre personagens infames e reais, à maneira, precisamente, da Historia Universal de la Infamia de Borges. Os borgesianos "a sério" adoram este tipo de texto em que o real e histórico se entrelaça com a ficção tornando uma coisa indistinguível da outra, ou em que textos não-ficcionais, como verbetes históricos ou casos clínicos, são ficcionados. Eu, que não sou um borgesiano a sério, confesso que embora compreenda e até aprecie intelectualmente, no abstrato, o elemento de subversão que este tipo de texto contém só muito raramente consigo achar-lhes o mínimo interesse quando chega o momento da leitura concreta. Especialmente quando esses textos não são de Borges mas sim daqueles que procuram prestar-lhe homenagem décadas mais tarde, voltando a pisar caminhos já antes pisados pelo escritor argentino e transformando a subversão borgesiana numa caricatura. Por melhor executada que essa caricatura esteja, e nestes contos de Rhys Hughes está muito bem executada. Este tipo de texto é, de toda a "onda borgesiana" (incluindo os textos de Borges e os dos seus admiradores e discípulos), aquilo de que menos gosto. Consequentemente, em geral não gostei lá muito dos textos desta primeira parte do livro.

A segunda parte contém apenas um conto, e deste gostei e gostei muito.

A terceira parte contém contos, vários deles com referência direta a contos de Borges, que Hughes escreve como se fossem escritos por outros autores. E assina em consonância. De alguns gostei bastante, de outros nem por isso, mas também aqui a execução daquilo que o autor se propõe fazer está bastante boa.

A quarta parte contém três paródias cada vez mais autorreferenciais, embora a primeira não seja tanto uma paródia quanto uma sequência lógica de mais um conto de Borges. Este primeiro conto encheu-me as medidas; os outros dois não.

A quinta parte é, como o próprio autor afirma, ignorável.

A sexta e última contém um conto bastante bom, uma vez mais baseado diretamente num conto de Borges e servindo-lhe de sequência.

Em geral, trata-se de um livro quase sempre muito bem executado, por vezes bastante divertido, no qual a figura tutelar a que Hughes quer prestar homenagem está sempre muito presente. Mas cerca de metade é ocupado por um tipo de texto que não me diz praticamente nada, de modo que apesar da mancheia de contos que me agradaram bastante não posso dizer que o mesmo tenha acontecido com o livro como um todo. É um bom livro, disso não há dúvida, pois Hughes fez em geral bem aquilo que se propôs fazer. Mas em termos de satisfação do meu gosto pessoal deixou algo a desejar. Gostei, mas não muito.

Podem encontrar em seguida ligações para o que achei de cada um dos contos:

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