A Torre de Caim (bib.) é um conto de fantasia de Rebelo da Silva que é ao mesmo tempo muito semelhante a A Dama Pé-de-Cabra e muito diferente da história de Herculano. As semelhanças residem no fundo marcadamente católico da história, na época para que ela remete, a época medieval, em que ainda existem mouros na Península, na forte presença do maniqueísmo em que o mal é corporizado por todos aqueles que se afastam do padrão católico e socialmente integrado. E, claro, no facto de serem histórias muito bem escritas, nas quais a língua é tratada com todo o cuidado.
As diferenças são mais subtis e residem mais numa questão de grau. A história de Rebelo da Silva é mais marcadamente católica e maniqueísta do que a de Herculano e também mais fortemente romântica. O enredo gira em volta de uma velha inimizade familiar, alimentada a sangue derramado e a vingança, que um amor proibido vem tentar anular, o que resulta apenas em mais drama. Bem à Romeu e Julieta. Mas, ao contrário do que acontece em Shakespeare, aqui boa parte da trama é movida a prodígios e portentos, intervenções divinas ou satânicas.
A Torre de Caim é um conto muito conformista, muito moralista. Como tal, é um conto muito pouco surpreendente. Uma vez que o leitor se aperceba de qual o ambiente que o autor coloca no que escreve, tudo se torna bastante previsível, e isso acontece com rapidez. A consequência é tornar-se um conto que, se não fosse a qualidade do texto em si, seria bastante banal e aborrecido. Mas de facto está muito bem escrito, e isso compensa muita coisa. É um bom conto. Não um conto que me encha as medidas, longe disso, mas um bom conto.
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