Essa aplicação traria custos terríveis: as famílias teriam de gastar rios de dinheiro em novos livros, manuais, dicionários e outros materiais escolares; tanto professores como alunos sentiriam os maiores problemas de adaptação; os custos sociais, por exemplo, no tocante aos idosos e até a certos deficientes, seriam igualmente graves; os editores (e não apenas os do livro escolar) veriam os seus stocks inutilizados; quanto aos restantes custos económicos, o melhor é nem falar.Só me pergunto se não virá também por aí um terramoto, a queda dum meteorito, um megatsunami ou no mínimo uma pestezinha negra por causa do acordo ortográfico. Sim, porque os manuais escolares nem sequer são substituídos por novos todos os anos, ou quase, com acordo ou sem ele. Sim, porque vai ser especialmente criada uma Polícia do Acordo Ortográfico cuja função é bater editoras e livrarias à procura de livros que contenham, oh!, horror dos horrores!, consoantes mudas. Toda a gente sabe que tudo quanto se editar em desobediência à nova ortografia vai ser queimado em autos-de-fé até nas aldeias mais remotas, aos quais terá de estar presente, obrigatoriamente, toda a população das ditas-cujas. Pois como não?
O desperdício seria chocante: iriam para o lixo milhões e milhões de páginas que servem perfeitamente para o ensino!
Mas esperem, há mais. Ainda diz ele o seguinte:
Isto é tanto mais grave quanto é certo que o Acordo Ortográfico não se encontra em vigor. Só por aberrante raciocínio jurídico poderia aceitar-se o contrário, uma vez que o documento não foi ratificado nem por Angola nem por Moçambique, pelo menos. Logo não produz efeitos na ordem interna de nenhum dos oito países subscritores.Esquece-se o nosso amigo Vasco, conveniente e sistematicamente, de que todos os países de língua portuguesa assinaram o acordo, mostrando com essa assinatura que o querem, sim senhor. Incluindo Timor-Leste, que não o fez logo em 1990 mas já o fez entretanto. Esquece-se de que todos os países de língua portuguesa também assinaram os protocolos modificativos, esses mesmos que afirmam, preto no branco, que o acordo entra em vigor com três ratificações. Só por (como é, mestrinho?) aberrante raciocínio jurídico é que se pode defender a tese de que um documento não está em vigor depois de existirem as ratificações necessárias para esse documento entrar em vigor. Aberrante raciocínio jurídico e uma dose monumental de desonestidade intelectual.
Não vale absolutamente nada um protocolo laboriosamente parturejado na CPLP, para forçar os países que não querem acordo nenhum a "engolirem" o dito, lá porque houve três ratificações.
Vasco Graça Moura não será estúpido. Mas anda há anos a tentar fazer-nos a todos parvos com esta prosódia absurda. E o mais divertido é que tem, de facto, conseguido estupidificar muita gente por aí com a sua peculiar mistura de patranhas, previsões apocalípticas e prestígio adquirido antes de embarcar nesta campanha idiota e desbaratado desde então. Uma espécie de Fernando Nobre das letras.
Um bocadinho patético, convenhamos. Eu aconselharia xanax todos os dias ao deitar. Até para conseguir moderar na adjetivação que, francamente, chega a confranger quem de facto gosta da língua portuguesa.
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