O Artista da Carne (bib.) é uma vinheta de Fábio Fernandes que tem como subtítulo "Uma Parábola". Não costuma ser bom sinal quando uma obra literária tem de esclarecer em subtítulo o que pretende ser. Costuma ser sinal de que o objetivo do autor não fica claro no lugar próprio: o texto propriamente dito. Ou pelo menos de que o autor não confia o suficiente na inteligência do leitor para o deixar tirar as suas próprias conclusões. De um ou de outro modo, é sempre mau sinal.
Aqui, a história é uma pequena história de amores infelizes em ambiente de ficção científica, cujo protagonista é um vampiro em busca de um amor perdido. Literalmente. Para isso procura o artista da carne do título, o que trocado por miúdos significa alguém capaz de criar um clone. O clone, claro, da mulher que o vampiro tinha amado. Falha óbvia, em que no entanto tantos autores caem: não é por terem a mesma genética que duas pessoas são idênticas. Cada um de nós é resultado da interação entre a genética e o ambiente. Por isso, um clone é sempre outra pessoa, mas aqui é como se fosse a mesma.
OK, é uma parábola, não é? Uma história com moral, e a moral da história é que é escusado tentar recuperar o passado. Está bem. Aceita-se. Se estivesse particularmente bem escrita, talvez a considerasse uma boa história. Mas o texto não é nada por aí além. Há infodumps escusados. Há construções deselegantes ("até ao dia do seu vigésimo segundo aniversário" é imensamente preferível ao "até ao dia de seu aniversário de vinte e dois anos" que aparece no conto, por exemplo), enfim, há coisas mal conseguidas. O conto é, portanto, razoável. Não passa disso.
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