O Cágado (bib.), de José de Almada Negreiros, é um conto curto que, se tivesse sido escrito hoje em dia, teria sido englobado sem pestanejar na weird fiction. Conta a história de um homem que era muito senhor da sua vontade, como Negreiros não se cansa de repetir no princípio do conto, parando de o fazer mesmo antes de levar quem lê à exaustão, e que mete na cabeça que havia de apanhar um cágado que de repente se lhe atravessa no caminho e desaparece num buraco. Mas o homem enfia a mão no buraco, depois o braço até ao ombro, e de cágado nem sombra. Desata a cavar, e nada, mas vai cavando, teimoso, até acabar por atravessar o mundo inteiro e sair nos antípodas. Não propriamente naqueles antípodas que acabamos por conhecer se formos para os lados da Nova Zelândia, mas nuns antípodas bem bizarros, bem surreais. Depois... bem, não vou contar o conto todo.
Tirando as repetições do início do conto, que achei demasiadas e chatas, a história é curiosa e até mesmo divertida, em especial no remate. E também é engraçado encontrar os paralelismos entre este conto e obras posteriores de autores como Italo Calvino ou os já referidos weird fictionists modernos. Decididamente, nada há de novo debaixo das estrelas.
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