sábado, 29 de novembro de 2003

Olha que giro! Será resposta?

Olha, que giro! Hora e meia depois de eu ter escrito sobre Cigarros, o Rain Song extraiu um riso de uma hiena que acaba assim:

fumo e com tusa
descanso sem saber
à espera de morrer


Será resposta?

Spamesia (207)

75 spams, muitos repetidos, trouxeram na quinta-feira um título simples que ainda não tinha aparecido antes: "Cigarettes 6560". O 6560 não me interessa, mas os cigarettes...

Cigarros

Alinhados lado a lado como um exército em parada
vestidos de uniforme, à espera que uma mão chegue
e lhes pegue e os incendeie e os devore em fumo
soldados bem treinados, transportando fogo e morte
como todos os soldados, secos e aprumados nos
seus fatos de papel branco, à espera, só à espera

Já fui general de muitos destes exércitos mas agora
enquanto espero que termine a cicatrização das velhas feridas
olho com desprezo os inúteis soldadinhos de tabaco
e rejeito-os, como aos soldados de todos os outros exércitos

Spamesia (206)

Na quarta-feira houve 71 spams mas os títulos nem foram grande coisa. Peguei num "info you needed. os bpkiznaxnxyu l" (vendem diplomas universitários, os palermas. Eu tive de trabalhar 7 anos para o meu e não me serve de nada), deitei fora o lixo, e fiz uma brincadeira:

Informação de que necessitava

Era só isto que me faltava!
Então não é que a maldita fada
me exigiu, com rancor na fala
que lhe entregasse sem falta
a informação de que necessitava
para completar a construção
do fundo falso do fungo fundo?

Disse-lhe que não sabia de nada
mas ela ficou ainda mais marafada
ameaçou-me com o fim do mundo
(e eu a pensar na bondade das fadas
pelos vistos tem sido muito exagerada)
e, como eu não me demovesse
(como poderia?) nem reconhecesse
que afinal sabia o que não sabia
transformou-me nesta porcaria

Entre todas as coisas, um homem!

sexta-feira, 28 de novembro de 2003

Outro que faz coisas giras...

Ali o Ivan, da Memória Inventada, também faz coisas giras de vez em quando. Ó Ivan, gostei, mas gostava mais sem aquele "tal". Em todo o caso tem em conta que eu não percebo nada disto, OK?

Spamesia (205)

Na terça-feira houve ainda mais spams a atravessar os filtros: 85. Havia vários com títulos interessantes, nenhum tão repugnante como o da véspera, e dois de título "Re[2]: Mary".

Maria

Maria, um dia ainda hás-de te lembrar do que eu te dizia
no tempo em que havia entre nós nós de alegria e cumplicidade
Era da idade, mas a verdade é que hoje recordo esses dias
como um tempo em que podia até haver muita ingenuidade
mas nasciam também, das sementes mais puras, a ternura
e a verdade

Spamesia (204)

Na segunda-feira, além de muitos litros de água chegaram-me a casa 64 mensagens spamóides. Havia muito lixo inofensivo, mas havia também uma mensagem que passa todas as marcas do mau gosto: um spammer resolveu esconder a porcaria comercial habitual por trás da assinatura da APAV e intitulando a mensagem como "Sabia que a violência doméstica". Já todos sabemos que este mundo está cheio de lixo com tanta falta de escrúpulos como este indivíduo, mas de vez em quando convém dizer-lhes para irem ler a 3ª estrofe do Spamema 202, porque é deles que lá se fala. Até porque:

Sabia que a violência doméstica

Sabia que a violência doméstica
começa sempre com silêncios?

quinta-feira, 27 de novembro de 2003

Spamesia (203)

No domingo chegaram-me 65 mensagens com cheiro a lixo, e eu deitei-as fora quase todas. Fiquei só com um "Convite":

Convite

Convido-te a te reconciliares com a vida
por quase nada
só pela cor que o céu tem de madrugada

Spamesia (202)

No passado sábado foram 56 os spams que atravessaram os filtros, e neste bando mal comportado vinha um chamado "Free for a month":

Livre durante um mês

Durante um mês poderei fazer tudo o que queira
ser de novo magro e ágil, subir às árvores
e do cimo delas gritar para o mundo inteiro me ouvir
a voz e o que ela diz, todas as ideias recém-libertas
que não irão encontrar os entraves habituais
no trajecto que leva dos neurónios às cordas vocais

Durante um mês poderei fazer amor contigo e contigo
e também contigo e a ti recusar porque já não me apetece
porque já me aborrece ou simplesmente porque sim

Durante um mês poderei atirar a palavra assassino à cara
de todos os assassinos e chamar filho da puta a todos os
filhos da puta porque é sempre bom que eles saibam
que há quem os conheça e fale e tenha um mês
para ser livre e trancar o medo no mesmo cofre
que habitualmente guarda a coragem que me resta

E quando acabar o mês, farei uma grande festa
onde queimarei o resto da minha vida

Após provar a liberdade, deixa de ser possível
o regresso às prisões de todos os dias

O Technorati até que falha bastante...

Vocês, ó fãs empedernidos do Top Technorati, fiquem sabendo que a fonte de todos os dados, o dito-cujo (carcará sanguinolento) Technorati tem uma certa tendência para a falha, tornando os números pouco fiáveis.

Bom exemplo disso tive eu agora.

Por motivos óbvios, andei nos últimos dias afastado da blogosfera, e ao regressar resolvi ir primeiro ao Link Cosmos da Lâmpada Mágica para ver se havia por aí alguma referência e, consequentemente, alguma resposta a dar. Segundo o Technorati, não havia. Mas agora, ao fazer uma primeira ronda pelos blogs mais ou menos habituais, deparei por puro acaso com uma posta simpática no Um Pouco Mais de Sul, colocada online precisamente na segunda-feira. E o Technorati mais caladinho que um rato mudo.

Ora bolas pró Technorati.

Quanto ao jcb, obrigadão pela referência! Achas que eu conseguia um subsidiozito para prosseguir com o serviço público? ;)

Uma noite inesquecível (actualização)

Para os dois ou três visitantes da Lâmpada que se interessaram pela noite inesquecível cá de casa, aqui fica uma actualização. Sabem como é fazer um esforço violento depois de anos de vida sedentária? Sabem como os músculos doem nos dias seguintes? Então sabem como me sinto agora.

Tirando isso, as coisas acabaram por correr bem melhor do que chegámos a temer. Nada de eléctrico se avariou, ainda não há nada declaradamente podre, se bem que haja alguns cheiros de mau agouro (e lá fomos comprar um termoventilador, que trabalha o dia inteiro, para secar o que precisa de ser seco), os tacos não empolaram, a alcatifa não descolou e vai secando devagar mas com segurança, os quadros que havia no chão ou foram tirados a tempo ou acabaram por não se estragar (felizmente, como a água vinha directamente da chuva e não de uma torrente qualquer, vinha limpa), etc. Ou seja, até agora os únicos estragos confirmados são sete exemplares da Sally, que estavam no fundo de uma caixa, empaparam em água, descolaram-se, enfim, ficaram inaproveitáveis.

A ver vamos se conseguimos evitar que algumas coisas apodreçam mas, seja como for, o sentimento por cá é de alívio.

terça-feira, 25 de novembro de 2003

Spamesia (201)

Os últimos dias foram muito, muito turbulentos cá por estas bandas, e o blog teve de se resignar a ficar sentadinho à espera. Mas o spam não pára nem tem contemplações, e continua a chegar meticulosamente, todos os dias. Na sexta-feira foram 63, e um deles intitulava-se "something to moan".

Algo para lamentar

Um dia liguei a televisão
e, à medida que a electricidade começava a fluir
pelos circuitos que transformam sinais
em luz e em som,
lembrei-me do dia em que te vi
mesmo ali
feita matriz de pontinhos luminosos
que eram como pálpebras intermitentes
debruçadas sobre as coisas

Foi a última vez que te vi
e ter de ti
a imagem de um constructo electrónico
provido de menos substância que um suspiro
é, sem dúvida, algo para lamentar

segunda-feira, 24 de novembro de 2003

Uma noite inesquecível

Ontem, por volta das 3 da manhã, começou a cair em Portimão o maior dilúvio que já vi em dias de minha vida. Não que nunca tivesse visto cair chuva com tal intensidade, que já tinha. Mas nunca tinha visto cair tanta chuva durante tanto tempo. Foi cerca de uma hora de uma chuva quase sólida que ao cair deve ter enchido todas as ruas da cidade de parede a parede. A minha, pelo menos, encheu, e ela é das largas. Mas se fosse só isso, ainda vá. Não foi. Depois do dilúvio, continuou a chover com muita força até depois de raiar o dia, com uma única pausa de cerca de um quarto de hora. Respirou-se, mas o afogamento reatou passado pouco tempo.

Sim, assisti a tudo. Não preguei olho a noite inteira, a varrer litros e litros de água que me entraram em casa pela porta das traseiras e eu empurrei para a porta da frente, conseguindo com isso evitar que a água inundasse duas divisões. As outras... enfim, pelas outras não se andava, chapinhava-se.

E hoje foi o dia inteiro a apanhar baldes e baldes de água, de esfregona e toalhas em punho, depois, já com a maior parte da água seca, revirar arcas em busca de roupa e papéis encharcados, depois, já com um alfinete espetado em cada nervo e em cada músculo, cair para o lado de exaustão, dormir três horitas e voltar à faina porque é preciso salvar o que der para salvar e evitar que móveis e conteúdo comecem a apodrecer.

E depois, sem saber porquê nem para quê, vir ao blog mandar uma posta antes de ir dormir, como se isto interessasse a alguém.

sexta-feira, 21 de novembro de 2003

Spamesia (200)

Ena! Mais um número redondinho! Mais um pretexto para comemorar, salta a rolha do champanhe, plop, venha ele, glugluglugluglu, hic, pronto, já está. Ontem, quinta-feira, atravessaram a paliçada de filtros 64 spams, e um deles trazia um título bem estranho para um spam: «When you say, "I Love You."»

Quando dizes “amo-te”

Quando dizes “amo-te”
eu ouço-te a dizer
“amo uma imagem
idealizada de ti, e um dia
que compreenda que tu
és isso e outras coisas
deixarei de amar-te”

Por isso devolvo-te
um sorriso entre o tímido
e o triste, e fico calado
entre tímido e triste

Spamesia (199)

Na quarta-feira recebi 56 spams, e a dificuldade em encontrar um título foi resolvida com um "RE: do you think it's possible dx nbd", que eu adaptei para:

Pensas que é possível?

Sonho com o dia em que tu olhes e me vejas
um perfil apenas no fulgor do sol-posto
e que algo aconteça, um estremecimento
no tecido do espaço e do tempo, da realidade
e que o mar passe a rebentar na praia
com ondas de água doce, salpicando-me os pés
com espuma feita de açúcar refinado
enquanto tu, bela e triste, me sorris

Pensas que esse dia é possível, Beatriz?

quarta-feira, 19 de novembro de 2003

Spamesia (198)

Spamesia (198)

Como costuma acontecer todas as semanas, à segunda-feira que foi anteontem seguiu-se a terça-feira que foi ontem. Estranhamente, ou talvez não, também ontem recebi spam, 62 mensagens de spam, e a perplexidade, ou talvez não, continuou quando reparei que quase todas tinham títulos mas só uma se chamava "Listen, do you want to know a secret?????". Não liguem aos que se segue: eu às vezes tenho destas crises de descrença na existência de tudo o que me rodeia. Hão-de convir que não é difícil chegar à conclusão de que o chamado "mundo real" não passa de um produto da imaginação doentia de cada um, não é verdade?

Ouve, queres saber um segredo?

Ouve, queres saber um segredo?
Não tenhas medo
não é nada que te possa pôr em perigo
eu, afinal, sou teu amigo
nada farei para te levar a um lugar
mais próximo da lâmina de uma navalha

Então cá vai o tal segredo
Tudo o que tu pensas sobre o universo é falso
Não há espaço nem matéria e o tempo é ilusão
que passa dia a dia do passado que não existe
para o futuro que também não
a única coisa que existe realmente
é um instante invisível de presente
e uma determinada configuração
em eterna mutação
de partículas com nomes tão estranhos
que desconfiguram as bocas que tentam pronunciá-los

Tu próprio não passas de um fluxo
formado pela soma de milhares de outros fluxos
e refluxos
uma configuração relativamente estável de instabilidades
e que só existe no momento do presente
(pois nada pode existir em lugares que não existem
como o passado
ou o futuro)

E tudo o resto és tu que crias
nos recôncavos sombrios da tua imaginação
És tu o teu próprio deus
Tu, só tu, tens nas mãos todos os poderes

E é este o segredo
Espero que não te perturbe o sono

terça-feira, 18 de novembro de 2003

Um post absolutamente brilhante. Noutro blog, claro

Um bos blogs que descobri há pouco tempo e que tenho acompanhado com interesse é o Portugal Horizontal. Hoje está lá um post absolutamente brilhante. A não perder de modo nenhum. Chama-se GNR.

Spamesia (197)

Ontem, segunda-feira, houve uma enchente ainda maior que a da véspera: 74 spams. Muitos títulos muito maus, muitas repetições, autênticas spam-bombs (devem pensar que ao enviarem 6 ou 7 cópias aumentam a probabilidade de uma ser aberta... ah, santa cretinice!) e, quase invisível, um pequenino "The Perfect System ! sapostotrfwq". Deitei fora o lixo e guardei:

O sistema perfeito

Ao contrário do que o povo pensa
o sistema perfeito não é aquele
que não tem nenhum defeito
pois não há nada mais imperfeito
do que aquilo que é inalcançável
O sistema perfeito é o que está
em harmonia com a inevitável
evolução de todas as coisas
e aceita e controla as mudanças
como parte que estrutura a sua
própria e sempre mutável perfeição

segunda-feira, 17 de novembro de 2003

Spamesia (196)

E ontem, que foi domingo, os Senhores do Spam trouxeram-me uma ventania que gemia o número 71. Lá no meio da fartura vinha uma mensagem de título "virile". Estava mesmo a pedi-las, não estava?

Viril

Dizem que o Viril era um gajo forte
que andava por aí a distribuir tiros e morte
mas o que ninguém sabia é que não conseguia
pô-lo em pé

Qual a causa e o efeito?
Seria só falta de jeito?

Só o descobriram quando um dia, pelo natal
foram dar com o Viril
com um rapaz na casa de banho do quartel
o presente era-lhe doce, mas acabou sabendo a fel

Spamesia (195)

No sábado foram 48 os spams que passaram todas as barreiras, e quase todos tinham ou títulos já usados, ou títulos muito maus. Acabei por ter de pegar num "Innocent Teens that do it like Whores!" e esperar que a coisa corresse bem:

Adolescentes inocentes que o fazem como putas

Há adolescentes inocentes que o fazem como putas
e há putas indecentes que o fazem como adolescentes
e se me disseres que preferes as primeiras às segundas
meu amigo, ou tens problemas ou simplesmente mentes

Spamesia (194)

Na sexta-feira foram mais uns quantos: 51. 50 foram logo fora, e o que restou era uma parvoíce qualquer, provavelmente uma chain-letter, com o titulo de "Não apague, dê uma chance à vida!" Aposto que o que fiz desta porcaria vos vai surpreender. Mas também é verdade que costumo perder as minhas apostas.

Não apague, dê uma chance à vida!

Um belo dia, algures pela manhã
(e eu durmo sempre todas as manhãs)
recebi a visita de um desenho animado
que saltitou pelo meu peito fazendo trejeitos
com a sua boca hipertrofiada de boneco

Não era o Roger Rabbit porque não era coelho
mas tinha o mesmo tipo de molas nos sapatos

Disse-me esta cretina criatura depois de criar
a maior cacofonia entre lençóis e cobertores
que o mundo em que eu vivia não passava
dum desenho animado (mas poucochinho)
e que eu, eu próprio, era delineado a tinta da china

Saltei da cama olhei para o dia onde o sol já sorria
(mas tinha-se esquecido de limpar as ramelas
como já vinha sendo hábito há algum tempo)
e corri tecto fora até à casa de banho onde
o espelho me devolveu a tradicional mirada

Estava tudo normal, a barba (uma zona cinzenta)
já despontava sob a sombra da carranca
e sob olheiras que escorriam (literalmente)
até à base das bochechas, e as orelhas erguiam-se
redondinhas, no alto da cabeça, como sempre

Cocei as costas, tropecei nos pés de gigante
como faço todas as manhãs e compus melhor
o traço que me rodeia a cauda de leopardo
«disparate», pensei, «que terá dado àquele palerma
para me vir assim assustar logo de manhã?»

Mas decidi, em todo o caso, deixar-lhe um apelo
não custa jogar pelo seguro, e caso seja verdade
que eu sou mesmo um desenho animado então
tenho de pedir-lhe, lágrimas a escorrer em cascata
dos olhos que me ocupam a metade mais bela da cara

Não me apague! Dê uma chance à vida!

Spamesia (193)

Ficámos à espera de quinta-feira, dia em que só cá vieram dar 47 spams (e nada menos que 6 repetições do mesmo), incluindo um que chegou com o título de "healthy and":

Saudável e

Saudável e
contente como um canário sob uma overdose de alpista

Saudável e
suado como cavalo dado aos pinotes em torno de uma égua

Saudável e
um pouco louco como um homem só a limpar o pó aos versos

Saudável e
sedento de liberdade verdadeira, das ideias a primeira

Saudável e
doente, finalmente, que é o que no fundo é toda a gente

sexta-feira, 14 de novembro de 2003

Eu não percebo nada de poesia, mas...

... gostei duma posta do Rain Song intitulada "fonia". Queria fazer um link directo, mas o jm não deixa. Desculpem lá.

Spamesia (192)

Na quarta-feira chegaram 56, incluindo vários aparentemente provenientes de endereços meus e um estupidamente intitulado "I found your address", como se tal coisa não fosse auto-evidente. Claro que escolhi outro, um que me incitava: "Paint that door black!"

Pinta essa porta de preto

Meu amor, se te assustam
os monstros pardos que
habitam na noite e tens medo
que eles encontrem uma noite
o caminho para os teus sonhos
pinta essa porta de preto
transforma-a em mais um
bocado de noite, simplesmente

Spamesia (191)

Terça houve 50 spams sorrateiros, um dos quais vinha intitulado simplesmente "now?"

Agora?

Sim, bem sei que para que o equilíbrio
das coisas se mantenha, a chuva tem
de cair, que o vento tem de soprar forte
de vez em quando, que o nevoeiro
tem de tornar cegos todos os mochos
e que é preciso que as ondas, lá na praia
se esmaguem sobre as falésias
com o estrondo de mil focas.
Mas será que tudo isso tem mesmo
de acontecer exactamente agora?

Spamesia (190)

Segunda-feira foram 58 os spams que atravessaram a barreira, e um deles informou-me de que "There's a moon out tonight"

Há uma Lua lá fora esta noite

Disseram na televisão
que esta noite
vai haver uma Lua lá fora
Eu não sei bem se acredite
Há dias disseram que iria haver paz
e eu olhei para fora
e só vi imagens da guerra
por isso suspeito de que
se houver mesmo Lua lá fora
esta noite
ela não será branca, mas sim vermelha

Spamesia (189)

Pergunta: que se faz numa insónia? Resposta óbvia: spamemas.

Estamos no passado domingo, dia em que recebi apenas 40 spams, entre os quais um trazia o título de "kinda broke at the moment?"

A modos que falido de momento?

Estás a modos que falido, de momento?
Nos bolsos tens apenas grãos de areia
desde o dia que acordaste bêbado à beira-mar?
Que importa?
Pois não é verdade que as gaivotas continuam
a afagar-te os cabelos com as suas sombras
e os miúdos, os filhos de todos os outros loucos banais
ainda atiram os seus gritos com a violência de sempre
às paredes dos prédios?

Que importa que nada possuas além de um mundo inteiro?

Abre os braços, as mãos, os olhos, todos os alvéolos
e bebe a realidade que te rodeia através de cada poro
vais ver: o rangido de porta mal oleada
que te ronda as entranhas acabará por desaparecer
palavra de Homem

quarta-feira, 12 de novembro de 2003

Spamesia (188)

No sábado, entre as 65 mensagens que atravessaram os filtros (cujo número vai aumentando todos os dias e que já apanharam mais de 100), havia uma com um título em francês (desta vez é mesmo, Luís): "Lisez bien ceci". Eu, que não li, resolvi escrever FC:

Leia isto bem

Leia isto bem
é um manual
de instruções para a sobrevivência
fora da nave
o mundo lá fora está cheio de loucos
perigosos
armados de certezas assassinas
e de um sentido inato
de superioridade sua e dos seus
sobre todos os demais
O disfarce, ainda que incómodo
— sabemos bem que andar sobre
duas pernas exige anos de treino —
é, assim, indispensável
você não pode parecer diferente
pois eles rapidamente acabarão com
toda a sua linhagem
Já sabe, leia isto bem
e lembre-se sempre que foi você
quem escolheu esta missão
ninguém o obrigou
a passar um ano no seio dos selvagens
só podemos fazer votos para que
regresse com todas as antenas

Spamesia (187)

Na sexta-feira foram só 62 mensagens, entre as quais vinha uma em português intitulada "Enquanto o Diabo esfrega o olho..." Não me fiz rogado, mas surrealizei um bocado. O que segue, como se sabe, não é para levar a sério:

Enquanto o Diabo esfrega o olho...

Enquanto o Diabo esfrega o olho
direito
eu aproveito
para pôr os ossos de molho
em água quente
como é evidente
e extrair deles uma infusão de verdade

Não é vaidade
mas dos meus ossos só saem bocados de realidade
como se fossem peças dispersas de um oráculo
estaladiço e crocante
eu em tudo isto não passo de figurante
tão frágil como uma bolha de ar saída do espiráculo
de uma baleia
fico a ver para ver quando toma forma cada ideia

No fim de contas, o Diabo é quem sabe
nada há no mundo mais importante
que esfregar o olho

Spamesia (186)

Tinha-vos abandonado na quarta-feira, e portanto regresso na quinta, dia em que o spam não filtrado subiu às 75 mensagens. Lá pelo meio vinham vários títulos interessantes, mas este bateu-os a todos: "I wrote this book"

Escrevi este livro

Escrevi este livro porque ele veio ter comigo
com um sorriso nos seus lábios de celulose
e me disse que andava com ânsias de ser escrito
não sabia bem porquê, nem se era normal
nem se seria caso de doença ou internamento
Pareceu-me tímido e afável mas com um terror
supremo escondido por dentro das entrelinhas
um medo pânico de morrer sem chegar a ser escrito
um pavor de se sumir da Potencialidade sem
nunca chegar a tocar os sonhos de quem quer que seja
Por isso, escrevi-o, murmurando-lhe ao ouvido
como a um amante “calma, já estou a escrever-te
e quando chegar a altura, abrirei os braços
e tu sairás para o mundo, como sempre quiseste”

terça-feira, 11 de novembro de 2003

<-------- Os livros que estão ali

Olá. Saudadinhas? Tou de volta, e haverá melhor regresso que um regresso a falar de livros? Eu também acho que não.

Desde a última vez que vos falei de livros, acabei Crónicas do Caos — Atractores Estranhos (bastante melhor que o primeiro romance da trilogia das Crónicas do Caos. E com uma tradução infinitamente melhor, também) e as Duas Fábulas Tecnocráticas (É Barreiros. Barreiros novinho e tão verde como um sardão, mas Barreiros). Para o lugar destes dois, entraram:

- Crónicas do Caos — O Mar Infinito, de Jeffrey A. Carver é o terceiro e último volume da trilogia (por enquanto — parece que vem aí um quarto livro) das Crónicas do Caos. Edição das Publicações Europa-América, 361 páginas (2002)
- Fronteiras é a terceira antologia editada a pretexto dos Encontros de FC de Cascais (segunda pela Simetria), inclui 10 contos de outros tantos autores, dois dos quais em tradução, e ainda um artigo sobre a FC em Portugal. Edição da Simetria, 199 páginas (1998)

sexta-feira, 7 de novembro de 2003

Spamesia (185)

Quarta-feira chegou e o spam regressou à meia centena ou, mais precisamente, às 52 mensagens. Vários títulos interessantes se encontraram lá no meio, mas só se pode escolher um, e desta vez esse azar coube a "afraid of the locker".

Com medo da fechadura

Com medo da fechadura
e da realidade dura
que a fechadura fecha
não abres a janela
não vês como é bela
a paisagem que se
estende por trás dela
nem te juntas a ela

Chama a chave quando chove
água mole em pedra dura

É que aquela fechadura
não é mais do que metal
nada tem de bem nem mal
não morde nem come
como quem tem muita fome
é só uma coisa pura

Chama a chuva quando a chave
abre a porta para a cave
e a neve neva em névoas de loucura

Spamesia (184)

Acharam que segunda houve pouco spam? Eu também. Mas querem saber? Ficou todo para terça. Ah, pois! Não é por acaso que se recebem assim de repente 93 spams num só dia, mesmo com filtros a deitar automaticamente fora mais uns quantos. Claro, há a tal parte boa: uma série de títulos interessantes. Desta vez escolhi um "botch":

Remendo

O remendo vagueava pela noite
calcorreando as ruas sujas e nuas
por vezes correndo
outras parando a descansar
preso de algum arame
ondulando devagar na aragem

O remendo esvoaçava pela noite
estremecendo a cada latido
a cada rosnadela
a cada ruído de garras batendo no asfalto

O remendo arrastava-se na noite
deixando-se ensopar
pela água enlameada das sargetas

O remendo era tecido de saudade e solidão

Já a madrugada ia assomando a oriente
quando o remendo foi apanhado de repente
por um velho farrapo, esfarrapado
que o perseguiu por alguns metros
e depois, esbaforido, bafejou-o
com o seu bafo bafiento a coisa podre
Apanhou-o, mirou-o, revirou-o
e decidiu tentar mudá-lo em farrapo

O remendo resistiu
e desfiou um longo rol de argumentos
que era remendo e não farrapo
que esfarrapado deixaria de ser remendo
que a pobreza não justificava a traição
à íntima natureza de cada um

O farrapo ouviu com paciência
e quando o remendo se calou, limitou-se a notar
que o remendo, de tanto desfiar
se tinha transformado num farrapo

E foi assim que naquele bocado de alcatrão
um velho bocado de pano
ganhou uma nova alma
e um farrapo de companhia

quinta-feira, 6 de novembro de 2003

Spamesia (183)

Segunda-feira, ainda de ressaca da comemoração da véspera, vim dar com o dia mais fraco em spam desde há muito tempo: 39 mensagens, simplesmente... Lá no meio havia uma que intitulava "the oil paintings", e eu, que tenho duas pintoras na família, bora aí:

As pinturas a óleo

As pinturas a óleo têm olhos
como a selva tem também durante a noite
olhos como miras que miram e remiram
todo o movimento, seja lento ou veloz
seja tímido e escondido, seja livre e afoito

As pinturas a óleo têm lâmpadas lá por dentro
daquelas pequeninas que só dão luz suficiente
para mostrar que o quadro pode até ter fronteiras
mas inclui territórios bem para lá dessas fronteiras

As pinturas a óleo por vezes não são pinturas
antes são quadrados e rectângulos de ternura

Spamesia (182)

Pera lá! Altiparaóbaile! 365/2 = 182.5, e isto significa que algures entre domingo e segunda-feira, a spamesia fez meio ano de actividade que é verdade que foi várias vezes interrupta mas que também é verdade que, vista de maior distância, até passa por ininterrupta. Salta o petardo da comemoração, SSSHHHHH... BUM! Pronto. Já está.

No domingo, entre as 53 mensagens-lixo que me chegaram, vinha uma de título "her pleasure". Vamos lá então falar de...

O prazer dela

O prazer dela no antigamente
era ser bela permanentemente
hoje há quem diga que é ser feliz
para isso há quem persiga
uma linha perfeita no nariz
e assim se mudam os tempos e as vontades
permanecendo intactas as prioridades

terça-feira, 4 de novembro de 2003

Spamesia (181)

Sábado, badabadu, quanto spam me trazes tu? 52? Olha que giro! O quê? Digo-te depois... No meio da farfalhuda fartura, que apesar de tudo é menos farturenta que a da véspera (não liguem — dormi 4 horas), vinha um que anunciava "A Prenda ideal para o seu Natal!"

A prenda ideal para o seu natal

Ah, o meu amigo é canibal?
Então, se me permite, a prenda ideal
para o seu natal
é carne de animal
temperada com muito sal
para que não pareça mal
e não ter a tentação, afinal
de abrir a consoada a devorar um comensal
isso era capaz de causar uma confusão monumental
e ir parar à primeira página do jornal
já imaginou o cagaçal?...

segunda-feira, 3 de novembro de 2003

Spamesia (180)

E na sexta-feira, que me dizem? Terá havido zigue ou zague? Aceitam-se apostas, mas façam-nas rapidamente, que a resposta é dada já na próxima frase. E eis a frase em que a resposta será dada, subliminarmente, com a informação de que recebi 59 spams. Um ziguezito, portanto. Lá no meio da fartura havia um de título "A little help never hurt", que eu traduzi para:

Um pouco de ajuda nunca fez mal a ninguém

Era bom que houvesse algo de eternidade
que se seguisse à última idade de cada um
ou pelo menos um momento para análise
e avaliação, um momento para fazer a síntese
dos momentos e estatísticas de uma vida

Nesse momento, a minha maior curiosidade
seria saber quantas vezes recusei a ajuda de alguém
mas por agora só queria saber quando aprenderei
que um pouco de ajuda nunca fez mal a ninguém

A excepção - um post umbiguista

Geralmente, o meu umbigo está fora deste blog. Digamos, um par de dezenas de centímetros abaixo dele. Mas de vez em quando, vem tomar ar à superfície. Esta é uma destas vezes...

Pois descobri via Goblin (que escolheu outro teste) um site que faz testes à personalidade das criaturas que lá aparecem. E ponho isto aqui porque os resultados que o software deu foram assustadoramente coincidentes com a imagem que tenho de mim próprio, quer no que isso tem de bom, quer no que tem de mau. Isto, claro, com alguns erros à mistura.

Quais foram esses resultados?

Diz o teste que eu tenho duas personalidades, uma superficial e outra global. Suponho que diga o mesmo de toda a gente, mas as minhas são as seguintes:



Esta é a minha personalidade superficial: "os 5w4s são intelectuais artísticos. Favorecem a intuição à razão e a ligação aos outros ao sucesso. Típicos professores distraídos, são ausentes e desprendidos. As suas mentes são solo fértil para a invenção e inovação". Aqui só discordo duma coisa, não digo qual.



Esta é a minha personalidade global: "Você é extremamente progressista. Você é indeciso, inquisitivo e tem pouco autocontrolo. Você tende a não acreditar na bondade inerente das pessoas. Você é introvertido e tende a fundir-se na maioria dos ambientes. Você tende a ser desarrumado.". Glup. E não é que é quase tudo verdade?...

Pronto. Umbigo, volta lá pra baixo se fazes favor. A partir de agora o blog continua como habitualmente. Até já.

domingo, 2 de novembro de 2003

Linques

Só para avisar de que ali a lista de linques vai crescer nos próximos dias, com a inclusão daqueles blogs que eu dou por mim a visitar sempre que aparecem na lista de novidades do Bloco-Notas mas que por qualquer razão ainda não tinham encontrado o caminho até ao meu template (caminho esse que, convenhamos, não é lá muito fácil de encontrar...). Hei-de ir acrescentando os linques à medida que eles forem aparecendo, e como ultimamente tenho andado a navegar mais um pouco pela blogosfera portuguesa, descobrindo um blog aqui, outro ali, é provável que o crescimento da lista não aconteça só nos próximos dias.

Também é provável que ela acabe por ser reestruturada, mas isso é para quando eu descobrir como será melhor fazer isso.

sábado, 1 de novembro de 2003

Spamesia (179)

Na quinta-feira o zague prosseguiu mais um pouco, até aos 70, e com vários títulos muito aproveitáveis, de entre os quais escolhi um "exemplar". Peguei nele e pus-me a escrever, e só reparei no tamanho do que tinha escrito quando acabei (desculpem lá). No fundo, é uma história...

Exemplar

O Campo da Ferrugem é um lugar exemplar
do quê, é a cada um que cabe decidir

Se te deixarem lá entrar
viajas por uma estrada de poeira
quilómetros e quilómetros
de arbustos e areia
onde só se mexem insectos
ratos, largartos e cascavéis
e há um abutre, de vez em quando
pairando no céu sem nuvens
servindo para colocar sentido na paisagem
como um sinal de pontuação com asas

Mas aqui ainda não é o Campo da Ferrugem
ainda tens muito que andar até lá chegar

Começas a vê-lo ao longe
se viajares de dia
Por vezes, há fragmentos de sol
que se soltam de superfícies
indecisas e te atingem os olhos
sacudindo deles a poeira
mas só te apercebes
de parte da verdade
quando ultrapassas uma colina
e vês, pela primeira vez
o Campo da Ferrugem

Pensas que te basta estender a mão para pegar
num brinquedo e brincar com ele, pô-lo a voar

Mas a estrada que te falta percorrer
é uma fita escura que desaparece
num algures sem distância
e ainda vais ter que sentir
a sede a instalar-se-te na garganta
antes de chegares, por fim
ao verdadeiro Campo da Ferrugem

Sais do carro, pões a mão em pála sobre os olhos
e o pensamento dissolve-se numa cascata de enas

O Campo da Ferrugem
ergue-se então na tua frente
como uma floresta vidro e de metal
chapa lisa, chapa esburacada
asas, carlingas, fuselagens
rodas gigantescas de borracha desgastada
umas ainda ligadas, outras espalhadas
sem ordem, por ali
spoilers, flaps, lemes e ailerons
da cor de Marte
desenrolam até ao chão cabos eléctricos
multicoloridas componentes das suas entranhas
e no chão, a areia forma pequenas dunas
esburacadas por grutas e recessos
de onde espreitam olhos assustadiços

Sobre tudo isto, o vento espalha uma sinfonia de pancadas
como que a dizer que a ferrugem também tem a sua voz

Chegaste ao lugar exemplar
sentas-te no chão como se não
pudesses mais suportar as pernas
sob o peso de toda aquela solidão
Esvaziado de substância
resta-te a esperança
de um dia, no futuro, conseguires
libertar-te da ferrugem

Spamesia (178)

Quarta-feira houve mais um zague, e o número de spams subiu até aos 64. Foi também na quarta-feira que eu comecei a criar filtros para evitar receber alguns dos spams mais óbvios e menos apetecíveis sob o ponto de vista dos títulos, de modo que daqui para a frente estes números serão só referentes aos spams que atravessarem os filtros (que, de qualquer maneira, nunca chegarão a apanhar a maioria do que me chega). Adiante. Ora, lá no meio dos 64 veio um que dizia no título simplesmente "ok". E eu, com um título tão curtinho, tive de fazer um spamema também curto:

OK

OK
finalmente decidi
quando for grande
quero ser bactéria

Novo sistema de comentários

OK, caros visitantes, fiquei definitivamente farto da Enetation e resolvi instalar um sistema de comentários alternativo. A partir de agora, tenho dois. Escolham o que preferirem (mas eu cá tenho impressão de que só responderei no novo). Do lado esquerdo, onde diz "deste lado não há vozes", é a velha e falhuda Enetation; do lado direito, onde diz "e aqui não há comentários", é o novo sistema, a cargo da Haloscan.

Sirvam-se.