Na sexta-feira foram mais uns quantos: 51. 50 foram logo fora, e o que restou era uma parvoíce qualquer, provavelmente uma chain-letter, com o titulo de "Não apague, dê uma chance à vida!" Aposto que o que fiz desta porcaria vos vai surpreender. Mas também é verdade que costumo perder as minhas apostas.
Não apague, dê uma chance à vida!
Um belo dia, algures pela manhã
(e eu durmo sempre todas as manhãs)
recebi a visita de um desenho animado
que saltitou pelo meu peito fazendo trejeitos
com a sua boca hipertrofiada de boneco
Não era o Roger Rabbit porque não era coelho
mas tinha o mesmo tipo de molas nos sapatos
Disse-me esta cretina criatura depois de criar
a maior cacofonia entre lençóis e cobertores
que o mundo em que eu vivia não passava
dum desenho animado (mas poucochinho)
e que eu, eu próprio, era delineado a tinta da china
Saltei da cama olhei para o dia onde o sol já sorria
(mas tinha-se esquecido de limpar as ramelas
como já vinha sendo hábito há algum tempo)
e corri tecto fora até à casa de banho onde
o espelho me devolveu a tradicional mirada
Estava tudo normal, a barba (uma zona cinzenta)
já despontava sob a sombra da carranca
e sob olheiras que escorriam (literalmente)
até à base das bochechas, e as orelhas erguiam-se
redondinhas, no alto da cabeça, como sempre
Cocei as costas, tropecei nos pés de gigante
como faço todas as manhãs e compus melhor
o traço que me rodeia a cauda de leopardo
«disparate», pensei, «que terá dado àquele palerma
para me vir assim assustar logo de manhã?»
Mas decidi, em todo o caso, deixar-lhe um apelo
não custa jogar pelo seguro, e caso seja verdade
que eu sou mesmo um desenho animado então
tenho de pedir-lhe, lágrimas a escorrer em cascata
dos olhos que me ocupam a metade mais bela da cara
Não me apague! Dê uma chance à vida!
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