sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Lido: Assessor Para Assuntos Fúnebres

Assessor Para Assuntos Fúnebres (bib.) é uma noveleta de Gerson Lodi-Ribeiro que, à semelhança de O Vampiro de Nova Holanda, se ambienta no universo ficcional dos Três Brasis. Aqui, vamos encontrar o vampiro Dentes Compridos em Londres, no início do século XX, precisamente na época em que aconteceu a série de assassínios de Jack, o Estripador, na nossa linha temporal.

O objetivo do autor é fundamentalmente revisitar essa história e explicá-la à sua maneira, e fá-lo bem. A noveleta está bem estruturada, bem escrita e é interessante de ler. Dentes Compridos tem aqui o papel clássico do detetive que vai em busca da solução para um crime (ou, como neste caso, uma série de crimes) e fá-lo como qualquer outro detetive: analisando as provas de que dispõe, embora com o auxílio dos seus sentidos sobre-humanos. E a revelação da verdadeira natureza do assassino é inovadora, e muito própria da ficção científica. A noveleta é, pois, uma reinvenção bem conseguida de toda a história do velho Jack the Ripper.

Como história alternativa é que lhe vejo o tal defeito de muitas outras HAs: a existência das exatas mesmas pessoas que existiram na nossa linha temporal muitos anos depois do ponto de divergência. Compreendo perfeitamente a tentação a que os escritores estão sujeitos de brincar com as personagens da história real, mas não consigo evitar sentir-me golpeado na suspensão da descrença sempre que vejo referências, por exemplo, a um tal Bram Stoker ou a um tal Herbert Wells em histórias alternativas cujos pontos de divergência aconteceram séculos antes, e que até divergem o suficiente da nossa para que todos os equilíbrios geopolíticos do mundo sejam diferentes. Mesmo que cavalheiros como esses tais Stoker e Wells tenham vidas algo diferentes das que tiveram na realidade. Algo não bate certo.

E não se aplicaria o mesmo raciocínio ao próprio Jack, o Estripador? Sim, mas nesse caso as coisas são algo diferentes. Se não existisse a personagem, esta história não teria razão de ser. É ele o seu fulcro. E embora não seja boa ideia dar grandes pontapés na verosimilhança, também não é grande ideia fazer com que uma excessiva preocupação com ela se ponha no caminho duma boa história. Por isso, a presença do "Velho Jack" nesta noveleta aceita-se plenamente, e ainda mais sendo ele quem (ou melhor: o que) é. A dos outros é que me dá alguma comichão. Não a suficiente para não gostar, contudo. Mas alguma.

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