sábado, 21 de maio de 2011
Lido: Intolerância
Intolerância (bib.) é um conto algo invulgar de Philip K. Dick. Ao contrário do que é costume nas ficções deste autor, aqui não existe qualquer questionamento da realidade. Trata-se duma ficção científica eminentemente política e muito irónica, cujo protagonista não compreende e se recusa a aceitar o radicalismo, compulsório, exaltado e totalitário, das duas fações em conflito no momento: os Puristas, que defendem a extração cirúrgica das glândulas sudoríperas para acabar com o odor corporal, e os Naturalistas que acham que o corpo humano está bem é como a evolução o deixou, com cheiros e tudo. Centrada num referendo próximo, a ação vai em crescendo e rodeia o protagonista, que não participa, só quer que o deixem em paz, apesar de acabar por ver o clima de guerra surda invadir a própria família e de por fim acabar envolvido nele, com vontade ou sem ela. O conto é basicamente uma sátira à política americana e, por extensão, a muitas outras (lê-lo em tempo de campanha eleitoral em Portugal, e em particular nesta campanha eleitoral, também é altamente irónico), e um alerta para a facilidade com que as maiorias democraticamente constituídas se podem transformar em instrumentos de opressão tão violentos como qualquer ditadura. Muito bom.
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