sábado, 13 de setembro de 2008

Semana

Uma semana meio shitty, esta. Faz parte. Têm de haver semanas merdosas para se dar valor às que não o são.

Não que a sua condição acastanhada tenha tido grande impacto naquilo que aqui nos traz. O livro vai avançando em ritmo seguro e está agora na página 64, mais 52 do que há uma semana, mas relembro que estas são maiores do que as outras: enquanto que no último cada dez páginas de livro equivaliam a cerca de oito na tradução, neste a média até agora parece ser um pouco mais de 11 páginas de tradução por cada 10 de livro.

O wiki subiu até às 13 925 páginas, incluindo uma pequena ajuda, o que significa que o lucro da semana foi de 153. Não está mal.

As leituras foram, como é meu hábito, múltiplas e variadas.

Li Beijar-se em Castel Porziano da italiana Romana Petri, um conto mainstream sobre uma história de amor na terceira idade. Ternurento, mas decididamente não é esta a minha praia. O conto aborreceu-me bastante, apesar de ser curto. O principal problema das histórias cheias de bons sentimentos é serem tão absolutamente previsíveis, e esta não foi excepção. Com ela terminei a antologia Dois Mil e Quatro, uma edição da Cavalo de Ferro que reúne uma mistura heterogénea de contos e poemas, autores e tradutores. Tanta heterogeneidade tem vantagens (nunca se sabe o que nos espera ao virar a página), mas também tem desvantagens (uns contos francamente bons, outros bem fraquinhos; umas traduções francamente boas, outras francamente más, etc.). Neste livro gostei particularmente de descobrir o argentino Santiago Dabove e os romenos Urmuz e Bakonsky.

Também li O Sr. Sperling Desinfesta, um conto fantástico de Haskell Barkin sobre um tipo que tem fobia aos insectos e resolve desinfestar a casa, com consequências graves e muito imprevistas. Não gostei por aí além, devo dizer. Com ele, terminei o nº 2 do Magazine do Fantástico e Ficção Científica, breve tentativa de editar em Portugal o Magazine of Fantasy and Science Fiction, não se sabe bem quando mas tem todo o ar de ter sido nos anos 70. Este número tem alguns bons contos, mas a tradução é horrenda, e a própria edição deixa muito a desejar, com erros de paginação a dar com um pau. Não admira que não tenha vingado. Assim, de facto, é difícil.

Li também 2010 - O Ano em que Faremos Contrato, de Fábio Fernandes, uma tentativa bastante desastrada de ter piada. A ideia-base idiota (extraterrestes que chegam à Terra e se oferecem para trocar tecnologia por... um jogo de futebol) tem desculpa por o conto ser humorístico, visto que ideias idiotas dão frequentemente boa comédia, a previsibilidade do "final surpresa" tem menos mas enfim, também se perdoa, mas o que não se perdoa é a péssima estruturação do conto, que começa por ser assumidamente um conjunto de respostas a uma entrevista, para depois passar a narração simples sem motivo aparente. Nem o facto de não ter piada. Mau, francamente mau. Bem melhor é Craque na Família, de Ataíde Tartari, um conto bem contado sobre um pai que quer à viva força transformar o filho num ás da bola, e depara com algo de que não estava à espera. Nada mais digo; ir descobrindo o que se passa é metade do conto. Também li Os Pés, de Orlando Neves, mais um conto insólito e algo macabro sobre um homem que meteu na cabeça que iria arranjar maneira de se ver todo ao mesmo tempo. Bastante bom. Thieves' House, de Fritz Leiber, foi a leitura "em estrangeiro" da semana, outro conto com um forte odor a Howard. Li ainda Interrogatório, de Octávio dos Santos, até que enfim um conto razoavelmente bem conseguido deste autor, sobre um homem que é ferozmente interrogado e não sabe porquê. Provavelmente o melhor conto do livro até agora. E para rematar, li Separata Gratuita, de Mário-Henrique Leiria, um conto sobre "o que aconteceria se o arcebispo de Beja fosse ao Porto e dissesse que era Napoleão". Divertidíssimo, e para mim mais divertido ainda porque me aconteceu uma história muito parecida à que o Mário-Henrique descreve. Talvez um dia a conte por aí.

E foi só. Já podes sorrir, Cristina.

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