quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Os milionários pobrezinhos

Não confundir com os pobrezinhos milionários, designação sarcástica que traz consigo logo toda uma carga de desprezo pelos milionários que o são de facto. Não, não é disso que quero falar. Esta é mais uma para o departamento de coisas que não se pode pôr em histórias porque toda a gente acha que se está a esticar a corda da inverisomilhança: milionários pobrezinhos. Mesmo pobrezinhos.

Falo do Zimbabwe, país de muitas bizarrias (a começar pelo presidente), no qual uma crise económica absoluta levou a uma inflação monumental. Consequência: hoje, todos os zimbabueanos são milionários e uma refeição custa quinhentos milhões de dólares. Pois: quinhentos milhões de dólares por um bife com batatas frias, ou o que faz as vezes de bife com batatas fritas lá por aquelas bandas.

Claro que não são dólares daqueles que a gente costuma ouvir falar. São dólares deles, zimbabweanos, a moeda que menos valor tem no mundo inteiro.

Mas seja como for, se um de nós enfiasse numa história uma situação em que se alguém quisesse ir às compras de algo mais substancial teria de sair de casa com maços de notas empilhados num carrinho de mão, totalizando muitos milhões de milhões de dólares, não faltaria certamente quem empinasse o narizinho sabichão e opinasse de imediato algo como "pronto, lá está este com os seus sarcasmos e piadolas. Quando será que há alguém a fazer ficção científica a sério neste país?"

Quando a verdade, a deprimente e divertida verdade, é que há poucas coisas inverosímeis demais para poderem acontecer, pelo menos enquanto não se entra no reino das varinhas de condão. O insólito que acontece quotidianamente neste planeta está constantemente a tentar explicar-nos esse facto, mas nós parecemos ter uma enorme dificuldade em compreendê-lo.

O que não deixa de ter o seu quê de... insólito.

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