Um comentário do Francisco Norega no post aqui de baixo merece, creio, uma resposta "cá em cima" no blogue propriamente dito. Diz ele que as coisas relativamente à ficção curta estão a melhorar nos últimos tempos, com o aparecimento das revistas dedicadas ao género. E eu respondo-lhe que:
Sim, as revistas são fundamentais. Revistas, fanzines, sites, qualquer coisa onde a malta que escreve (porque há malta que escreve; os concursos estão sempre cheios de candidatos — mais sobre isto mais adiante) possa ir publicando. Mas não chega, até porque em geral todos esses veículos têm um círculo de leitores bastante limitado. Mesmo a Bang!: é descarregada por montes de gente mas, por conversas que tenho tido por aí, concluo que é muito pouco lida. A maior parte dos que a descarregam passam os olhos, pensam vagamente em ler ou lêem uma coisa ou outra, e acabam por deixar para depois. É preciso também chegar aos livros, e aqui as editoras são fundamentais e, para que as editoras apostem, é também preciso que o público se mostre interessado em colectâneas e antologias e as compre e comente como faz com os romances.
É que basta passar os olhos pelos blogues que falam de livros e literatura. Quantas vezes se vê referência a livros de contos? É só romances, romances, romances, romances e mais romances. Sagas atrás de sagas. Vejo gente a falar de todas as edições fantásticas da Presença, por exemplo, mas não me lembro de ter visto uma única referência a algo pertencente à colecção A Biblioteca de Babel fora das notas sobre lançamentos. Quando essa colecção é talvez a única colecção de literatura fantástica actualmente em publicação em que se publicam fundamentalmente contos. Do pessoal que vai escrevendo sobre o que vai lendo o único que fala mais de contos do que de romances, que eu saiba, sou eu.
OK, é verdade, podia ser pior. E já foi. Estamos melhor agora, com uma (em breve duas) revistas de contos e mais um ou dois fanzines, ainda que sejam muito baixadas dos sites e pouco lidas, do que estivemos aqui há uns anos, quando não tínhamos nada. Se isto fizer parte de um percurso, tudo do bom e do melhor, aplausos e assobios de entusiasmo. Mas julgo que continua a ser fundamental que quem gosta de contos os promova para desfazer os preconceitos ou desagrados no público que a eles é avesso, e para que a ficção curta volte a ser coligida em colectâneas e publicada pelas nossas editoras.
É que conheço gente com produção dispersa por contos e novelas que não a consegue reunir em livro e publicar. Inclusive alguns dos nossos melhores autores. E isto é francamente mau, e bem pior do que a situação que já houve em Portugal, há coisa de 15 anos, quando saíram dos melhores livros de FC&F que já se escreveram por cá, quase todos livros de contos. Óptimo seria que se voltasse a esse estado de coisas. Duma forma sustentada, de preferência.
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