quinta-feira, 21 de maio de 2009

Curtas

Um comentário do Francisco Norega no post aqui de baixo merece, creio, uma resposta "cá em cima" no blogue propriamente dito. Diz ele que as coisas relativamente à ficção curta estão a melhorar nos últimos tempos, com o aparecimento das revistas dedicadas ao género. E eu respondo-lhe que:

Sim, as revistas são fundamentais. Revistas, fanzines, sites, qualquer coisa onde a malta que escreve (porque há malta que escreve; os concursos estão sempre cheios de candidatos — mais sobre isto mais adiante) possa ir publicando. Mas não chega, até porque em geral todos esses veículos têm um círculo de leitores bastante limitado. Mesmo a Bang!: é descarregada por montes de gente mas, por conversas que tenho tido por aí, concluo que é muito pouco lida. A maior parte dos que a descarregam passam os olhos, pensam vagamente em ler ou lêem uma coisa ou outra, e acabam por deixar para depois. É preciso também chegar aos livros, e aqui as editoras são fundamentais e, para que as editoras apostem, é também preciso que o público se mostre interessado em colectâneas e antologias e as compre e comente como faz com os romances.

É que basta passar os olhos pelos blogues que falam de livros e literatura. Quantas vezes se vê referência a livros de contos? É só romances, romances, romances, romances e mais romances. Sagas atrás de sagas. Vejo gente a falar de todas as edições fantásticas da Presença, por exemplo, mas não me lembro de ter visto uma única referência a algo pertencente à colecção A Biblioteca de Babel fora das notas sobre lançamentos. Quando essa colecção é talvez a única colecção de literatura fantástica actualmente em publicação em que se publicam fundamentalmente contos. Do pessoal que vai escrevendo sobre o que vai lendo o único que fala mais de contos do que de romances, que eu saiba, sou eu.

OK, é verdade, podia ser pior. E já foi. Estamos melhor agora, com uma (em breve duas) revistas de contos e mais um ou dois fanzines, ainda que sejam muito baixadas dos sites e pouco lidas, do que estivemos aqui há uns anos, quando não tínhamos nada. Se isto fizer parte de um percurso, tudo do bom e do melhor, aplausos e assobios de entusiasmo. Mas julgo que continua a ser fundamental que quem gosta de contos os promova para desfazer os preconceitos ou desagrados no público que a eles é avesso, e para que a ficção curta volte a ser coligida em colectâneas e publicada pelas nossas editoras.

É que conheço gente com produção dispersa por contos e novelas que não a consegue reunir em livro e publicar. Inclusive alguns dos nossos melhores autores. E isto é francamente mau, e bem pior do que a situação que já houve em Portugal, há coisa de 15 anos, quando saíram dos melhores livros de FC&F que já se escreveram por cá, quase todos livros de contos. Óptimo seria que se voltasse a esse estado de coisas. Duma forma sustentada, de preferência.

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