Na semana passada, esqueci-me dela. Por assim dizer. Um tipo esquecer-se duma semana é algo que só está ao alcance dum amnésico de alto gabarito, e não é propriamente o meu caso (ainda?), daí o "por assim dizer". Mas esqueci-me de vir aqui à Lâmpada falar dela, o que talvez se tenha ficado a dever à irreverência e subversão que costumam vir associadas ao 25 de Abril. A consequência é que hoje não falo duma semana, mas sim de duas.
Começando pelo mais importante: tinha um conto quase pronto quando descobri que estava a tentar forçá-lo a ser algo que ele se recusava terminantemente a ser: fantástico. Era eu a empurrá-lo para o irreal, e ele a empacar que nem jerico malcriado. Era eu a tentar introduzir-lhe goela abaixo umas pitadas de fantasia e ele a vomitá-las como se de veneno se tratasse. Foi uma luta com perdedor inevitável, e claro que acabei por ceder. Era inescapável que o conto seguisse o que lhe sai naturalmente das tendências congénitas e, por mais que me entristeça vê-lo assim, vou ter de deixá-lo ser quem é: um mainstreamzito qualquer, que nem a revista Bang! aceitaria publicar. Como vingança, vai ser todo reescrito, de cima a baixo. Já está a ser, aliás.
Seguindo em ordem de importância, tenho aqui um livrito a ser traduzido, ah pois tenho. Uma metade de livro, mais propriamente, que pega na história onde a deixou O Punhal do Soberano, que está previsto que saia daqui a 20 dias. Isto se não decidir dar um salto à feira do livro de Lisboa entretanto, que os livros andam cada vez mais saídos das capas. E neste momento faltam-me 269 páginas para chegar ao último ponto final, que neste caso será um ponto final exuberante como todos os itálicos.
Descendo mais um pouco da escada, o wiki esteve absolutamente imóvel durante cerca de uma semana. Nem tugiu, nem mugiu, o que de qualquer forma nunca faz, visto que não é vaca nenhuma. Mas depois dessas feriazinhas lá voltou a saracotear-se um pouco. Foram 64 páginas novas a somar às que já lá se encontravam, aumentando o total para 16 226. Tudo graças aos meus dedinhos, pois então. Infelizmente, ainda não se descobriu nenhum modo de pôr as boas intenções a trabalhar. Mas consta-me que os cientistas estão a estudar o problema, algures num laboratório da Terra do Nunca. O Peter Pan é que anda chateado com o assunto. É ludita, o raio do puto.
E cá estamos nós no rés-do-chão: os livros. Passei as semanas dedicado quase em exclusivo a romances. Um muito chato, que, portanto, se lê lentamente, outro bastante grande, que, portanto, tem muito para ler, e um terceiro muito russo. Não acabei nenhum, mas felizmente (pois de contrário nada teria para vos dizer) também li isto:
Colheres de Amor em Perigo, de Rhys Hughes, é uma história saltitona e muito surreal sobre colheres, morsas, icebergues, boémios e sereias, e se conseguirem tirar sentido desta salada sem ler o conto contactem o vosso psiquiatra com alguma urgência. Trocando por miúdos, é uma história de amor com uma construção bizarra e por isso mesmo interessante.
Esperando o Fim do Mundo, de Celso Gajo, é um conto lovecraftiano bem mais tradicional, sobre um homem coberto de tatuagens que realiza rituais diários que supostamente evitam o fim do mundo. Supostamente porque ele descobre que na verdade não acredita no que está a fazer, mais ou menos ao mesmo tempo que também descobre o amor duma mulher. Bom, especialmente porque o Gajo (não, não estou a destratá-lo: é mesmo nome) escapa à armadilha que condena à ilegibilidade tantos dos escritores que são fãs de Lovecraft: tentar escrever como o velho Howard Phillips.
E fico-me por aqui. O resto, foi a vida, e isso, lamento, não vos diz respeito.
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