Sábado, e tal, ali ao lado a Rita Redshoes cantarola na TV, enfiada numa farfalhante farpela amarela, e aqui na Lâmpada é altura de mais uma notazinha sobre a semana que passou.
A calma que por aqui houve nas últimas semanas começa a reduzir-se com a aproximação do fim do prazo para a entrega do trabalho. E de mais alguns prazos que, suspeito, vão ser todos furados. O trabalho que paga tem e terá sempre prioridade sobre tudo o resto, e com os sarilhos em que este trabalho que paga me tem metido, o tempo e, pior, a disponibilidade mental para o resto cai a pique. Faltam 197 páginas, o que, ao ritmo a que tenho conseguido avançar, não dá grandes folgas, embora seja perfeitamente possível de cumprir.
Embora no trabalho a calma se tenha reduzido, no wiki não. Continuou a crescer ao ritmo lento que tem sido característico nos últimos tempos, subindo desta vez mais 52 páginas, para 16 350. Algum material brasileiro, algum material português, e também, sem contar para o crescimento no número de páginas, umas tarefazinhas de manutenção.
As leituras continuaram dominadas por romances, e esta semana um deles chegou ao fim. Trata-se de O Sentido Latente, de Nuno Neves. Um romance de estreia de um escritor muito novo e que é excelente como exemplo do mal que faz escrever romances sem passar antes pelo tirocínio dos contos e aprender neles a gerir coisas tão fundamentais como o ritmo de escrita e o desenvolvimento do enredo. Nuno Neves é evidentemente talentoso, e poderá dar coisas válidas à literatura e mesmo à FC portuguesa, desde que não siga por este caminho, desde que se refine como escritor. Porque este livro é mauzinho. Não que esteja mal escrito no que toca apenas ao texto. Não está, embora tampouco esteja particularmente bem. Mas está mal concebido, com elementos de FC que só deixam de ser apenas folclóricos (e com um folclore muito ultrapassado, ainda por cima) lá pela página 100, diálogos que põem investigadores policiais tarimbados a falar como putos do secundário, esfrangalhando por completo a sua credibilidade como personagens, enfim, uma porção de erros de principiante. E é muito desequilibrado como romance, pondo no fulcro da (pouca) acção a investigação policial sobre o assassínio do filho de um magnata da engenharia genética, quando o verdadeiro tema do romance, e o que lhe dá título, é um tal sentido latente, que ocupa uma dúzia de páginas, se tanto.
Quanto mais romances destes leio mais firme se torna a minha convicção de que é absolutamente fundamental que os escritores que pretendem dedicar-se à FC comecem a "treinar" em ficção curta, porque só na ficção curta podem fazer experiências (e falhar, pois falhar é inevitável por maior que seja o talento que se tem) com um investimento razoável de tempo e esforço. E mais firme se torna a minha convicção de que vale muito mais investir na publicação (as editoras) e leitura (os leitores) de colectâneas e antologias do que de romances como este. É que uma colectânea ou uma antologia raramente termina sem que o leitor tenha gostado, pelo menos um pouco, de alguns dos textos que a compõem. O mesmo não se pode dizer dum livro composto por um único texto. Se é mau, nada o salva.
Pensem nisso, oh vocês que tanto desprezam a ficção curta.
E por falar em contos...
Li também O Sem Título, de Simone Saueressig, um conto curtinho sobre um homem que descobre os textos de Lovecraft e acaba por descobrir um pouco mais do que isso. Não gostei muito, mas também não desgostei. Nasce na Serra de Albarracim, em Espanha, é uma crónica de José Saramago que mais parece uma declaração de amor ao rio Tejo. Embora o tema pouco ou nada me diga, a linguagem deste textozinho é uma delícia. Os Colonos, de Ray Bradbury, é outro dos seus contos muito pequenos que valem mais pelo efeito que têm no livro em que se inserem do que por si próprios. E Golden Bird, de Mary Rosenblum, é uma noveleta de ficção científica sobre um homem particularmente dotado para a engenharia genética que chega à cidade grande, violenta e paranóica, perpetuamente sob a ameaça do bioterrorismo, e aí encontra uma paixão em que a sua ingenuidade de rapaz do campo é posta à prova. Apesar de estar muito bem escrito, é apenas bonzinho, não me parece que passe disso. Acima de razoável, mas falta-lhe qualquer coisa para chegar a ser realmente bom. Ou tem qualquer coisa a mais, talvez; talvez funcionasse melhor, pelo menos a meus olhos, se fosse um pouco mais compacto.
E a semana foi isto. Muito resumidamente, claro.
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