sábado, 23 de maio de 2009

Semana

Bem, e cá estamos. Parece que o último sábado foi ontem ou anteontem, mas pelos vistos não foi. Para onde diabo voa o tempo?

Bem, um sítio para onde ele voa é o trabalho. Com 149 páginas a faltar para o fim, ele vai avançando a um ritmo estável, mas cada página tem um pouco (ou não tão pouco como isso) de tempo nela aninhado, entretecido nas fibras do papel que os leitores folhearão depois do livro publicado (lá para Setembro, acho eu).

Também voa um pouco para o wiki, que engordou mais 30 páginas, somando agora 16 380, ainda que já esteja parado há alguns dias.

E voa também para leituras, que nesta semana até que foram relativamente abundantes.

Para começar, acabei um romance bastante longo, 434 páginas de letra apertadinha: Regresso a Marte, de Ben Bova. Ficção científica, claro. Trata-se duma sequela a outro romance de Bova, intitulado (adivinhem) Marte, que tratava da primeira viagem tripulada ao planeta vermelho. Esta sequela descreve (adivinhem) a segunda viagem tripulada a Marte. Adivinharam? Vocês são mesmo bons nisto! É um original de 1999, de antes dos rovers marcianos e das sondas em órbita que revolucionaram o que sabemos sobre Marte, e como consequência já está algo ultrapassado pelos acontecimentos. Apesar disso é uma leitura interessante, que se lê bem. Não é um grande livro de FC, mas é um livro agradável e honesto, que tem no confronto entre a avidez do lucro e a vontade de preservar o património (natural ou não) o seu ponto mais forte. Gostei.

Mas se pensam que foi o único romance que acabei, desenganem-se, embora o outro faça parte duma colectânea. Falo de Poção de Marte, de Kir Bulitchev, um pequeno romance sobre aquilo que acontece a um grupo de habitantes duma cidadezinha da província soviética quando é descoberto por acaso um subterrâneo secreto onde se guardava uma garrafa com um líquido peculiar lá dentro. Vem a descobrir-se que esse líquido é uma poção da juventude, que terá vindo "de Marte", no dizer das duas misteriosas personagens que a andam a usar há 200 anos. Não é um bom romance. Começa de forma interessante e continua de forma interessante, mas quando nos preparamos para saber o que acontece àquelas pessoas quando partem para Moscovo a fim de tentar colocar a poção ao serviço da ciência, o romance acaba abruptamente com um final apressado, deixando um certo sabor amargo na boca. Em todo o caso vale pelo divertido retrato da cidadezinha e por personagens bastante mais sólidas do que é costumeiro encontrar-se na FC. Razoável, portanto.

E, como sempre, li coisas mais curtas.

O Grande Deus Pã, novela gótica de Arthur Machen, teve, confesso, o condão de me adormecer. OK, está construída duma forma interessante, como uma série de historietas interligadas que se estendem por uma porção de anos. E também consigo compreender a sua relevância no contexto da literatura inglesa da época vitoriana, visto que tem uma forte componente sexual (disfarçada, claro) e mexe não só com o sobrenatural, mas também com o paganismo. De modo que entendo, intelectualmente, o porquê de ser considerada um clássico do horror. Mas, oh, o aborrecimento que me causou! A soneira! A completa ausência duma ligação emocional, qualquer que ela fosse, com este texto!

Madame et Monsieur Isco, é outro conto mainstream de Ray Bradbury, com leves laivos de fantasia, e este nem sequer se pode chamar americana, visto passar-se em Paris. Um jovem "atraente" é contratado pelo dono dum restaurante para fazer companhia a uma jovem "belíssima" numa mesa colocada na montra do estabelecimento e comer gratuitamente. Mas depois ele apaixona-se. É uma história bem construída e, claro, bem escrita. Bom.

Etiquette With your Robot Wife, de Bruce Boston, é um poema muito divertido que também funcionaria bem em formato mini-conto. Para perceberem o estilo, começa assim: "Never tell her she tastes like metal" E continua, por mais umas quantas frases de semelhante catadura. Porreirinho!

A Manhã Verde, de novo de Ray Bradbury, é um bom conto sobre um homem cuja missão na vida é plantar árvores em Marte, para que a rarefeita atmosfera do planeta ganhe mais oxigéneo e ele consiga aí respirar melhor. Olhado como ficção científica, é bastante mau. Olhado simplesmente como literatura, é bastante bom, e o curioso é que funciona lindamente no contexto do livro, que é mais ficção científica do que outra coisa.

Viagens na Minha Terra, de Saramago, é uma crónica que divaga sobre o livro de Garrett com o mesmo título. Nada de especial.

Por fim, Tritões Lunares, de Rhys Hughes, é um conto em que Hughes nos explica que na verdade a Lua é habitada por um povo de tritões ameaçados por pescadores de Saturno, que as crateras na verdade são telescópios e mais uma série de detalhes sobre a verdadeira Lua. Pelo menos a verdadeira tal qual existe na imaginação dele. Weird fiction divertida e bastante bem escrita.

E pronto, foi para isto que o tempo voou. E para mais uma série de coisas de que não serve de nada falar aqui. Quando voar outro período de sete dias, voltaremos a encontrar-nos. Até lá. Ou até algum post "não-semanal" que apareça entretanto. Está planeado, resta saber é se encontrarei tempo para passar dos planos aos bits.

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