Cidade na Lua (bibliografia) é um pequeno romance de ficção científica que até resistiu razoavelmente ao já muito tempo que tem de existência (mais de meio século; é de 1957), em parte porque ainda não existe nenhuma cidade na Lua cuja realidade seja capaz de mostrar até que ponto é desadequada a ficção aqui descrita... mas que para começar nunca ultrapassou o razoável.
Trata-se de uma história de aventuras bastante pulpesca, com um herói claro, um tal Joe Kenmore, que está a trabalhar na Lua e se vê confrontado com estranhos e sucessivos atos de sabotagem. Forçado a uma perigosa luta pela sobrevivência, ainda sobrecarregada pelo facto de a namorada ter decidido, num arroubo feminino cheio da patetice característica das donzelas em perigo das histórias machistas de meados do século passado, ir visitá-lo à Lua (ah pois; nem interesse romântico aqui falta para a fórmula ficar completa), o bom do Joe e alguns amigos vão de peripécia em peripécia, fazendo todos os possíveis por permanecer vivos e conseguindo, contra todas as probabilidades.
E tudo porque a cidade na Lua serve como apoio a uma estação espacial em órbita lunar que funciona como laboratório onde têm lugar experiências tão perigosas que poderão pôr em causa a existência do próprio universo. Daí as sabotagens; daí todas as peripécias de que o nosso herói terá de enfrentar; daí os problemas de que terá de se desenvencilhar.
E não, isto não são spoilers. Não só a maioria destas informações consta da sinopse publicada na contracapa, como é da natureza das histórias pulp que o herói as termine vitorioso e com a garota conquistada. Aqui, a única diferença é o herói já começar a história com a garota conquistada, porque de resto tudo se desenrola conforme determinado pelo receituário.
É um livro razoável no sentido em que faz razoavelmente bem aquilo que se propõe fazer. Tem até uma leve camada mais profunda, pois se insere num conjunto de ficções, muito características do seu tempo, em que o nuclear é simultaneamente ameaça e esperança, e faz uma pequena reflexão sobre isso, pesando prós e contras, deitando breves olhadelas tanto ao medo algo ludita do progresso tecnológico como ao potencial que ele traz. Nada de muito profundo, no entanto: é má ideia comercial correr o risco de afugentar leitures só interessados numa aventura rápida e barata, portanto há que manter a ação em bom ritmo mesmo que para isso seja necessário recorrer a peripécias pouco verosímeis.
Lido hoje, este livrinho é principalmente ingénuo. Quem goste de pulp talvez o aprecie; quem, como eu, não ache grande graça à abordagem limita-se a encolher os ombros.
E foi precisamente isso que eu fiz.
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