O Colhereiro é um conto tradicional português que parece não ter sido recolhido por Adolfo Coelho em Coimbra, como vem indicado neste livro, mas nalguma versão das Mil e Uma Noites. E se calhar até é daí que ele vem — As Mil e Uma Noites são uma das lacunas centrais na minha cultura geral literária, que terá de ser colmatada um destes dias.
O colhereiro do título, que não é a ave do mesmo nome mas fabricante de colheres de madeira, é um homem humilde com três filhas que tem a desdita de ser curioso e de essa curiosidade o levar a tomar contacto com um mouro encantado. Um mouro encantado com palácio e exigências e castigos cruéis a quem se deixar vencer pela curiosidade. Acontece que, pelas reviravoltas típicas destas histórias, as filhas do colhereiro vão sendo sucessivamente acolhidas no palácio do mouro e, sendo filhas de quem são, e porque quem aos seus sai não degenera, são umas criaturinhas curiosas. A mais nova, contudo, além de curiosa é inteligente, e daí vem o desfecho da história.
Este é dos contos mais bem amarrados que esta coletânea apresentou até aqui, com princípio, meio e fim bastante sólidos. Uma história com moral clara mas também algo ambígua: a curiosidade matou o gato... mas se tiveres uma boa cabeça em cima dos ombros és capaz de te conseguires desenrascar. Sherazade não o diria melhor, suponho.
Um bom conto.
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