O Homem (bibliografia) é um conto de ficção científica de Ray Bradbury que, não se passando em Marte, tem muito a ver com os seus contos marcianos, em especial alguns dos coligidos nas Crónicas Marcianas. Num planeta distante identificado sumariamente como o "planeta quarenta e três do Terceiro Sistema Estrelar", aterra uma nave vinda da Terra e é recebida não com as fanfarras e festejos que seriam de esperar mas com a mais absoluta indiferença. Porquê? Entre reflexões filosóficas sobre a pulsão humana para a exploração, que Bradbury encara sistematicamente (em especial na fase de que data esta história, o pós-guerra, os anos 40-50) como uma espécie de profanação de uma pureza ancestral, vamos encontrar a religião.
É que o planeta acabou de ser visitado pelo Messias.
Segue-se uma história em boa parte movida a diálogos, que põe em confronto a crença e a descrença, o materialismo e o espiritualismo, a aceitação passiva e a fúria da ação. É claríssmo o lado que Bradbury prefere, a ideologia que defende. Sim, leram bem, ideologia. É disso que se trata.
Por mais que eu esteja distante desta mundovisão que aqui Bradbury apresenta, por mais negativos que me pareçam vários dos seus aspetos, por mais que alguns pormenores do enredo me pareçam desajustados se olharmos o conto à luz da ficção científica e não da mera alegoria, não posso deixar de reconhecer que este é um bom conto, muito bem construído e bastante bem escrito. É Bradbury do início da sua melhor fase, a fase em que se inventava, antes de começar a remoer-se.
Este é um caso exemplar de uma verdade demasiadas vezes esquecida: não é preciso gostar-se das ideias que a literatura apresenta para se gostar da literatura, mesmo sendo bem mais satisfatório, reconheça-se, quando se gosta de ambas.
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