segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Lido: O Pedestre

Sabem como é quando lemos a obra Xis do autor Ipsilon, de que gostamos imenso, e depois vamos ler textos anteriores do mesmo autor e neles encontramos como que sinais percursores dessa obra? Quem lê A Guerra dos Tronos, de Martin, e depois vai ler os seus contos anteriores certamente conhece a sensação. E quem lê este O Pedestre (bibliografia) depois de ler uma das mais marcantes obras de Ray Bradbury, e na verdade de toda a ficção científica, Farenheit 451, também a deverá reconhecer.

Não é nada demasiado óbvio. Aqui não temos nem bombeiros incendiários nem uma resistência organizada. Mas os sinais estão todos lá. Estamos em 2053 e um homem anda a pé, à noite, por uma cidade vazia. Porquê? Porque é um escritor (é o quê?, perguntaria quem com ele se encontrasse, se alguém com ele se encontrasse, sem reconhecer a palavra) e andar à noite dá-lhe prazer. E porque ninguém mais o faz, entretidos que estão todos em casa com os seus écrans.

Portanto estamos na presença de um desviante, o único homem não alienado no meio de um mundo ambiguamente utópico, cuja população está demasiado entretida para fazer seja o que for. E claro que acaba por ter problemas com a polícia — com o único carro de polícia que resta na cidade inteira —, pois numa sociedade perfeita tendências atávicas como andar em pé, sozinho, à noite, são perigosas. Ainda mais se enquanto o faz deixa a imaginação correr solta. Trata-se, claramente, de um elemento perturbador.

Soa-vos familiar, leitores do F451? Soa, não soa?

Mas não se entusiasmem demasiado. O conto, embora bom, está longe de causar o impacto do romance, está muito longe de ser tão bom como ele. É apenas uma primeira exploração de algumas das suas ideias. Uma primeira tentativa, que tem com o romance uma ligação temática mas não de enredo. Não temos aqui propriamente uma prequela; temos um conjunto de ideias idênticas exploradas de forma diferente. Mas interessante, francamente interessante.

Contos anteriores deste livro:

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